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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Grande é o mistério da piedade : Deus se manifestou em carne (1 Tm 3:16)

Por
João Calvino (1509-1564)

Aqui temos uma maior expansão de louvor. Para impedir que a verdade de Deus seja estimada abaixo de seu real valor, em decorrência da ingratidão humana, o apóstolo declara seu genuíno valor, dizendo que o segredo da piedade é imensurável, visto que ele não trata de temas triviais, e, sim, da revelação do Filho de Deus, em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria [Cl 2.3]. A luz da imensidão dessas coisas, os pastores devem entender a importância de seu ofício e devotar-se a ele com a mais profunda consciência e reverência.

Deus se manifestou em carne. A Vulgata exclui a palavra 'Deus' e relaciona o que se segue com o mistério; mas isso é devido à. falta de perícia e conformidade, como se verá claramente à luz de uma leitura atenciosa; e ainda que ela conte com o apoio de Erasmo, este destrói a autoridade de sua própria tradução, de modo que a mesma dispensa qualquer refutação de minha parte. Todos os manuscritos gregos, indubitavelmente, concordam com a tradução: "Deus se manifestou em carne." Mas, mesmo presumindo que Paulo não houvesse expressamente escrito a palavra Deus, quem quer que considere todo o assunto com cuidado concordará que se deve pôr a palavra Cristo. No que me toca, não tenho dificuldade alguma em seguir o texto grego aceito. E óbvia sua razão para denominar a manifestação de Cristo, a qual agora passa a descrever, de 'grande mistério', porque esta é a altura, a largura, o comprimento e a profundidade da sabedoria que ele menciona em Efésios 3. 18, e pelo quê nossas faculdades são inevitavelmente subjugadas.

Examinemos agora as diferentes cláusulas deste versículo em sua ordem. A descrição mais adequada da pessoa de Cristo está contida nas palavras "Deus se manifestou em carne". Em primeiro lugar, temos aqui uma afirmação distinta de ambas as naturezas, pois o apóstolo declara que Cristo é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em segundo lugar, ele põe em evidência a distinção entre as duas naturezas, pois primeiramente o denomina de Deus, e em seguida declara sua manifestação em carne. E, em terceiro lugar, ele assevera a unidade de sua Pessoa, ao declarar que ela era uma e mesma Pessoa que era Deus e que se manifestou em carne. Nesta única frase, a fé genuína e ortodoxa é poderosamente armada contra Ario, Marcião, Nestório e Eutico. Há forte ênfase no contraste das duas palavras: Deus e carne. A diferença entre Deus e o homem é imensa, e todavia em Cristo vemos a glória infinita de Deus unida à nossa carne poluída, de tal sorte que ambas se tornaram uma só [videmusin Christoconiunctam curnhac nostra carnisputredine, ut unum efficiant].

Justificado no espírito. Como o Filho de Deus a si mesmo se esvaziou ao tomar para si nossa carne [Fp 2.7], assim também manifestou-se nele um poder espiritual que testificou que ele era Deus. Esta passagem tem sido interpretada de diferentes formas, mas fico satisfeito em explicar a intenção do apóstolo como a entendo sem adicionar nada mais. Em primeiro lugar, a justificação, aqui, significa um reconhecimento do poder divino, como no Salmo 19.9, onde se diz que os juízos de Deus são justificados, ou seja, maravilhosa e completamente perfeitos. Note-se também o Salmo 51.4, onde se diz que Deus é justificado, significando que o louvor de sua justiça se exibe claramente. Assim também em Mateus 11.19 e Lucas 7.35, onde Cristo diz que a sabedoria é justificada por seus filhos, significando que neles o valor da sabedoria se evidencia. Além do mais, em Lucas 7.29 se diz que os publicanos justificavam a Deus, significando que na devida reverência e gratidão reconheciam a graça de Deus que discerniam em Cristo. Portanto, o que lemos aqui tem o mesmo sentido se Paulo dissesse que aquele que se manifestou vestido de carne humana foi declarado ao mesmo tempo ser o Filho de Deus, de modo que a fragilidade da carne de forma alguma denegriu sua glória.

A palavra 'Espírito' ele inclui tudo o que em Cristo era divino e superior ao homem; e isso ele o faz por duas razões. Primeira, visto que Cristo fora humilhado na carne, Paulo agora contrasta o Espírito com a carne, ao exibir nitidamente sua glória. Segunda, a glória, digna do unigênito Filho de Deus, que João afirma ter visto em Cristo [Jo 1.14], não consistia de uma manifestação externa ou de esplendor terreno, senão que era quase totalmente espiritual. A mesma forma de expressão é usada no primeiro capítulo de Romanos [1.3,4]: "o qual, segundo a carne, veio da descendência de Abraão e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor"; mas com esta diferença, ou seja, que nesta passagem ele menciona uma manifestação especial de sua glória, a saber, a ressurreição.

Visto pelos anjos, proclamado às nações. Todas essas afirmações são maravilhosas e espantosas, ou seja: que Deus se dignou conferir aos gentios - o que até então havia sido vago e incerto ante a cegueira de suas mentes - a revelação de seu Filho que estivera oculto dos próprios anjos celestiais! Porque, dizer que ele foi visto pelos anjos significa que essa foi uma visão que, por sua novidade e excelência, atraiu a atenção dos anjos. Quão singular e extraordinária foi a vocação dos gentios é algo que já explicamos na exposição de Efésios 2. Nem causa estranheza que a mesma tenha atraído a visão dos anjos, porque, ainda que tivessem conhecimento da redenção da humanidade, afinal não sabiam como seria ela realizada, e teria sido oculta deles com o fim de que a grandeza da benevolência divina pudesse ser contemplada por eles com admiração mais intensa.

Crido no mundo. E espantoso, acima de tudo, que Deus haja concedido igual participação de sua revelação aos gentios profanos e aos anjos que eram a eterna herança de seu reino. Mas essa poderosa eficácia do evangelho proclamado pelo qual Cristo venceu todos os obstáculos e introduziu à obediência da fé os que pareciam completamente incapazes de ser subjugados, não era de forma alguma um milagre comum. Certamente, nada parecia ser mais improvável, tão com-pletamente fechada e selada estava a entrada. Não obstante, por meio de uma vitória quase incrível, a fé venceu.

Finalmente, o apóstolo diz que ele foi recebido na glória, ou seja, depois desta vida mortal e miserável. Portanto, quer no mundo, pela obediência de fé, quer na pessoa de Cristo, uma maravilhosa mudança se operou, pois ele foi exaltado do execrável estado de servo à gloriosa destra do Pai, para que todo joelho se dobre diante dele.

Fonte : www.ocalvinista.com