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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A Santíssima Trindade

A doutrina a trindade é uma das doutrinas fundamentais da fé Cristã, pois trata da revelação do Deus único e verdadeiro contido nas escrituras na qual Ele é revelado ou manifestado em três pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, sendo que estas pessoas não são três deuses, mas são um só Deus. Esta doutrina é de difícil compreensão uma vez que não há escritos específicos na bíblia que tratam diretamente sobre a trindade, no entanto, as escrituras revelam claramente as características e atributos de Deus revelados nas três pessoas da trindade santa, o que nos conduz a formação e confirmação da existência desta doutrina.
Foi deste modo que pais da igreja, como Tertuliano (sec.III), autor desta palavra “trindade”, encontraram nas escrituras a revelação de Deus em três pessoas distintas lançando os fundamentos desta importante doutrina cristã que , assim como eles no passado, deve ser crida e defendida pela cristandade de nossos dias, já que se trata da revelação da pessoa de Deus e, portanto, rege toda nossa vida de piedade e culto a Deus.
A rejeição desta doutrina lança por terra um dos alicerces do cristianismo, fazendo com que a revelação da escritura seja rejeitada e a doutrina de Deus bem como seus propósitos e obras não possam mais ser compreendidas como revelado nas sagradas escrituras conduzindo ao erro e a heresia.

DEFINIÇÃO E BASE BÍBLICA

Definição de Wayne Gruden – Deus existe eternamente como três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um Deus.

Definição da confissão de fé batista londrina de 1689 (cap.2)- Neste ser divino e infinito há três pessoas: o Pai, a Palavra (ou Filho) e o Espírito Santo; de uma mesma substância, igual poder e eternidade, possuindo cada uma inteira essência divina, que é indivisível. O Pai, de ninguém é gerado ou procedente; o Filho é gerado eternamente do Pai; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, eternamente; todos infinitos e sem princípio de existência. Portanto, um só Deus; que não deve ser divido em seu ser ou natureza, mas, sim, distinguido pelas diversas propriedades peculiares e relativas, e relações pessoais. Essa doutrina da Trindade é o fundamento de toda a nossa comunhão com Deus e confortável dependência dEle.

A base bíblica para identificarmos e comprovarmos a existência desta doutrina encontra-se tanto no Novo testamento quanto no Antigo testamento, sendo que no novo a revelação encontra-se com maior clareza que no antigo, de qualquer maneira, a escritura testifica da existência do Deus trino como veremos a seguir:

A TRINDADE NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

- Genesis 1:26 – “E disse Deus: façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” Temos neste texto a expressão “e disse Deus” como sendo uma única pessoa, ou seja, no singular, porém o que se segue são expressões de ação e de pronomes no plural, indicando mais de uma pessoa, neste caso o verbo “façamos” e o pronome “nossa”. Alguns sugerem que Deus poderia estar tratando com anjos no relato da criação, porém, os anjos não participaram da criação e nós humanos não fomos criados a imagem de anjos, mas de Deus.
Nesta mesma linha de interpretação, encontramos expressões semelhantes em textos como Genesis 3:22, 11:7 e Isaias 6:8, onde Deus fala utilizando a primeira pessoa do plural “nós”.
- Salmo 45:6-7 – Nestes versos a expressão Deus (heb. Elohim) é utilizada pelo salmista duas vezes indicando duas pessoas distintas com a mesma atribuição: “O teu trono ó Deus, perdurará para todo sempre... portanto Deus, o teu Deus te estabeleceu acima dos teus companheiros...” Este texto é interpretado no novo testamento pelo autor de Hebreus com se referindo ao Filho, Jesus Cristo (Hebreus 1:8 e 9).
De igual modo, no salmo 110:1 Davi usa a expressão “Senhor” duas vezes identificando pessoas distintas e esta passagem é claramente interpretada por Jesus em Mateus 22:44 como se referindo a Ele mesmo, o Cristo.
- Isaías 63:10 – Este texto trata do Espírito Santo do Senhor (VS.7) como um ser pessoal com sentimentos, neste caso tristeza. Isaias 61:1, como no texto anterior, identifica o Espírito do Senhor Deus como um ser distinto do “Senhor Deus”.
Outras passagens no antigo testamento que falam, por exemplo, do “Anjo do Senhor” apresentado como um ser pessoal e distinto “do Senhor” tem atribuições a ele como “Deus” ou “Senhor” se referindo a manifestações do próprio Filho, o Senhor Jesus. São estas passagens Gn 16:13, Ex 3:2-6, Jz 6:11 com 14, Jz 13:21 e 22.

Nos escritos do novo testamento, as três pessoas da trindade, Pai, Filho e Espírito Santo são encontradas de forma mais claras e distintas, com por exemplo :

- Mateus 3:16 e 17 – No batismo do Senhor Jesus são manifestos a João e testemunhas ali presentes as três pessoas em um evento sobrenatural.
- Mateus 28:19 – Nas últimas instruções, o Senhor comissiona os onze apóstolos a fazer discípulos batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Importante destacar que o batismo não é nos nomes (plural) mas no nome (singular) do Pai, Filho e Espírito demonstrando a unidade e deidade das três pessoas da trindade Santa.
- João 1:1 – Fala do verbo, Jesus (vs14) como estando no princípio e na criação com Deus, mostrando duas pessoas distintas, e no relato da criação em Genesis 1:1 e 2, temos a presença do Espírito de Deus.
- 2 Coríntios 13:13 – As três pessoas da trindade aparecem na benção apostólica.
Deste modo, fica claro de que as escrituras testemunham da existência de um único Deus verdadeiro que é revelado não em uma única pessoa, mas sim, três pessoas distintas.

CADA PESSOA É PLENAMENTE DEUS

Cabe agora identificarmos nas escrituras as atribuições divinas a cada uma destas pessoas:

O Pai é plenamente Deus – Deuteronômio 32:6 / Malaquias 1:6 / Isaias 63:16 / 64:8 / Mateus 6:9 / 6:26 / 27:46 / 1 Coríntios 8:6 / Efésios 1:3 / Hebreus 12:9 – Nestes textos temos a designação de Deus o Senhor, tanto no antigo quanto no novo testamento como ‘Pai”, “Pai” do povo de Israel e Pai celestial a qual Nosso Senhor, a segunda pessoa da trindade ,orava como Seu Deus e Seu Pai.

O Filho é plenamente Deus – Isaias 9:6 – Um dos nomes de Jesus é Deus forte e Pai da eternidade, revelando atributos de poder e infinitude no Filho de Deus.
- João 1:1-3 e 14 / O verbo estava com Deus e era Deus, não o Deus Pai, mas o Deus Filho conforme VS 14.
- João 20:28 – A confissão de Tomé descreve o Jesus como Senhor e Deus.
- Filipenses 2:5 e 6 – Jesus subsistia em forma de Deus e ao encarnar se limitou a natureza humana não querendo fazer uso de Suas prerrogativas divinas.
- Colossenses 2:9 – em Jesus habita corporalmente toda plenitude da divindade.

O Espírito Santo é plenamente Deus – Atos 5:3-4 – Pedro denuncia que Ananias havia mentido ao Espírito Santo que, segundo o texto, era Deus (v.4).
- Salmo 139:7-10 – Atributos de onipresença de Deus são também do Espírito Santo de Deus (v.7).
- 1 Coríntios 3:16 / 6:19 / 2 Coríntios 6:16 / Efésios 2:22– Somos o santuário de Deus, onde Ele habita por meio de Seu Santo Espírito que é divino.
Além destes textos, as escrituras revelam que o Espírito Santo é também um ser pessoal e não uma força ou influência ativa de caráter impessoal como querem alguns teólogos. Em diversas passagens das escrituras o Espírito Santo é revelado como consolador, ensinador, intercessor sendo estes atos de caráter pessoal e relacional, bem como ele é descrito como um ser que, assim como as outras pessoas da trindade, possui emoções tais como por exemplo tristeza.

Tendo visto nas escrituras a existência das três pessoas da trindade e tendo demonstrado descrições bíblicas que revelam a divindade de cada uma delas , precisamos lançar as bases bíblicas que revelam que estas três pessoas não são três deuses, mas um único Deus verdadeiro.

SÓ HÁ UM DEUS

As escrituras revelam claramente que só existe um Deus verdadeiro. As três pessoas da trindade são um só Deus em natureza de essência e unidade de propósito e concordância em suas obras e realizações. Algumas passagens são chaves para comprovar a existência de um só Deus, que eram à base da crença e do culto monoteísta do povo de Israel no antigo testamento, bem como, para o culto monoteísta dos cristãos na nova aliança.
- Deuteronômio 6:4-5- O Senhor Nosso Deus é o único Senhor.
- Isaias 45:5-6 / 45:21-22 – O Senhor é o único Deus e não há outro.
- 1 Coríntios 8:6 - Há um só Deus, o Pai, e um só Senhor Jesus Cristo. Este texto também revela a unidade do Pai e do Filho como o mesmo Deus e Senhor a luz dos textos acima do antigo testamento que revelam que só há um Senhor; Jesus disse em João 10:30 – Eu e o Pai somos um.
- 1 Timóteo 2:5 – Um só Deus e um só mediador, Jesus Cristo.
A unidade de Deus, revelado em três pessoas é fundamental para que os fundamentos do fé e culto monoteísta não sejam minadas, a fim de que o povo de Deus não incorra em idolatria, que é o culto dos pagãos que adoram a um deus ou deuses falsos.

CONCLUSÃO

Assim, as escrituras revelam claramente a existência de um único Deus que deve ser amado, honrado, cultuado e glorificado por nós, mas que este Deus, está revelado na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo que o culto genuíno e bíblico deve ser somente ao Deus trino, baseado na obra redentora do Filho que torna pecadores aceitáveis ao Pai, por intermédio do Espírito Santo que glorifica a Cristo e nos guia a toda verdade. Somente assim poderemos prestar um culto em Espírito e em verdade, ao único Deus que é digno de toda honra, toda glória e todo louvor.
Se esta doutrina fundamental do cristianismo for rejeitada, não resta mais sacrifício eterno e eficaz para perdão dos pecados, não resta mais iluminação e convicção na verdade e o culto a Deus não será possível visto que não tem mais fundamento nas escrituras. Neste caso outro deus, um deus falso e enganoso inventado pelo homem estará sendo adorado, o que torna este culto em idolatria, que é condenável diante do Deus único e verdadeiro, o qual um dia, julgará e condenará todos os idólatras os quais não tem parte no reino dos céus.
Que o Senhor preserve Sua igreja eleita fiel às escrituras e livre da heresia e do engano para que o Senhor continue encontrando em nós verdadeiros adoradores, que adoram o Pai em Espírito e em Verdade. Amém !

SOLI DEO GLORIA

Bibliografia :
- Wayne Gruden – Teologia sistemática / Edições Vida Nova
- Confissão de fé Batista de 1689
- Escola Teológica Charles H. Spurgeon / Aulas Prof. Antonio Neto

sábado, 8 de dezembro de 2012

Patrística


Dá-se o nome de patrística ao estudo dos escritos e teologia dos pais da igreja antiga, que corresponde ao período do sec. II até o sec. VI depois de Cristo. Os pais da igreja foram teólogos cristãos que lideraram e conduziram a igreja logo após o período dos apóstolos. Estes homens são caracterizados por uma grande produção literária, bem como, por sua piedade e santidade de vida, bem como perseverança em meio as perseguições e lutas em defesa da ortodoxia contra as heresias surgidas em sua época.

Estes mestres e teólogos cristãos do passado são reconhecidos como pais da igreja , primeiramente pelo período em que viveram, ou seja, na igreja antiga (sec. II a sec. VI), em seguida por sua vida com Deus, sua devoção e retidão no viver, depois por sua ortodoxia, principalmente nos principais temas levantados em seu período que diz respeito a Cristologia e a doutrina da trindade, sendo que estas também refletem na sotereologia, e por último, pelo seu reconhecimento e aceitação pela própria igreja cristã.

Os pais da igreja viveram em um período onde a cultura helenística e o pensamento grego permeavam o mundo da época. Muitos pais, como por exemplo ,Justino, Taciano e outros, foram fortemente influenciados pela filosofia grega incorrendo em certos exageros filosóficos , no entanto, suas bases e ortodoxia eram definidas pelas escrituras sagradas.
Dentre alguns dos principais pais da igreja, podemos destacar :

1) Os pais apostólicos, que são os primeiros pais da igreja, as quais incluem não somente homens mas também alguns documentos dos dois primeiros séculos. Entre os pais apostólicos estão :

-Clemente de Roma, que escreveu aos coríntios para tratar de problemas na igreja. É tido como um típico pastor .
- Inácio de Antioquia, deu ênfase a figura do bispo monárquico, que em razão das perseguições era necessário para direção e cuidado da igreja.
- Policarpo de Esmirna, escreveu sua epístola aos filipenses, que mais tarde, registraram seu martírio e enviaram as igrejas. É dito que Policarpo foi discípulo do apóstolo João.
- Dentre os documentos aceitos como pais apostólicos estão a epístola de Barnabé, o pastor de Hermas, a Didaqué, epístola a Diogneto e alguns fragmentos de Papias.
Estes primeiros pais apresentam alguns desvios na questão da doutrina da salvação no que diz respeito a ênfase da obediência e obras para ser salvo. No entanto, contribuíram com uma literatura mais simples voltada a temas práticos, tais como arrependimento, boa conduta cristã, temas ligados a liderança e liturgia da igreja, deram ênfase a pureza e perseverança, enfrentando ameaças e mortes encorajando outros cristãos a permanecerem firmes e fiéis ao Senhor.

2) Os pais apologistas , que são outra classificação entre os pais da igreja . Estes foram teólogos cristãos que promoveram a defesa do cristianismo contra acusações que lhe eram lançadas pelo povo em geral e pelos intelectuais pagãos principalmente no sec. II. Os principais apologistas foram :

-Justino Mártir - escreveu duas obras sobre apologia dirigidas ao ao imperador . Escreveu seu diálogo com Trifo, onde registra sua conversa com um Judeu em defesa do cristianismo. Bastante influenciado pela filosofia grega, encontrou no cristianismo a verdadeira filosofia para sua vida.
- Atenágoras de Atenas – escreveu uma apologia em defesa do cristianismo dirigida ao imperador Marco Aurélio.
- Teófilo de Antioquia – Escreveu um comentário exegético de Gênesis onde defende a criação de Deus “do nada” (Ex-nihilo). Ensinou també sobre a inspiração divina dos livros do Novo Testamento, sendo que em sua época, o cânon ainda não estava definido.
- Irineu de Lyon – combateu fortemente os gnósticos na Gália onde viveu. Sua obra principal foi a detecção e refutação da falsamente chamada gnose. Irineu nasceu em Esmirna na Ásia menor, mas foi para região da Gália onde formou a igreja de Lyon, da qual foi bispo. Seu trabalho foi extremamente importante, pois praticamente varreu o gnosticismo da Gália. Foi o maior apologista e o teólogo mais profundo de sua época.
- Tertuliano de Cartago – advogado, escreveu várias obras de moralidade . Mais tarde tornou-se montanista em razão da rigidez em sua conduta moral. Destaca-se por sua atitude negativa em relação a filosofia e sua moralidade rígida. Diferente de outros pais que viam na filosofia grega uma fonte de verdade, Tertuliano foi intolerante ao pensamento grego.Contribuiu para o desenvolvimento e defesa da doutrina da trindade.
- Clemente de Alexandria – Membro notável e mestre da igreja de Alexandria . Foi bastante influenciado pelo pensamento grego e era positivo a filosofia .
- Orígenes de Alexandria – Vem pouco depois de Clemente . Era talvez o homem mais culto de sua época . Escreveu cerca de 800 obras. Escreveu a primeira teologia sistemática. Exegeta, cria na inspiração verbal e no sentido alegórico. Como Clemente, também era influenciado pela filosofia grega. Alguns refutam sua posição de Pai da igreja em razão de algumas interpretações duvidosas e outras inaceitáveis das escrituras, tal como uma redenção universal de todas as coisas no fim dos tempos, inclusive de satanás e seus anjos.
- Atanásio de Alexandria- Conhecido por combater o arianismo por durante cerca de quatro décadas e por seu desempenho no Concílio de Nicéia.Também defendeu o cânon do novo testamento.
- Os três capadócios, Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo, os quais defenderam a ortodoxia trinitária e cristológica.
- Por último, destaque para Agostinho de Hipona , talvez o maior dos pais da igreja. Homem marcado por uma profunda piedade, santidade e comunhão com Deus. Foi também um grande escritor com belas expressões literárias e possuía alta capacidade de retórica. Foi um teólogo Ortodoxo porém também apresentou erros em alguma áreas de sua teologia. Combateu fortemente no norte da África onde trabalhou o maniqueísmo que envolvia gnosticismo, o donatismo que lidava com questões de autoridade eclesiástica e por último o pelagianismo que envolvia a doutrina da salvação.

Outros pais como Cirilo de Alexandria, João Crisóstomo,Cipriano, Ambrósio e outros poderiam ser mencionados e são importantes na história da igreja e dos pais.

Sendo assim, ao nos depararmos com a vida e ensino destes nossos irmãos da antiguidade, precisamos ver neles homens como nós, sujeitos a falhas e erros, mas que, porque amavam a Deus e Sua Santa palavra se empenharam a batalhar pela fé que foi dada aos santos e combateram fortemente as seitas e heresias surgidas em sua época, deixando a igreja de Cristo um grande legado de escritos e documentos que sem sombra de dúvida, contribuíram e ainda contribuem em muito para direção e edificação da igreja cristã, e que, se somos livres de muitas daquelas heresias surgidas no passado que ainda permeiam nossos dias com outras “vestes” e nomenclaturas, é graças a estes homens que foram usados por Deus para defenderem a pureza doutrinária e a santidade da igreja de Jesus Cristo.

Assim, aqueles que lidam com os pais da igreja como sendo perfeitos ou aqueles que os desprezam como homens do passado que deixaram apenas tradições de suas épocas, tanto um como outro cometem um grande erro para com este importante legado da história eclesiástica. Precisamos lidar com os pais ,assim como com qualquer cristão das páginas do livro sagrado, aprendendo com seus erros e acertos, a fim de buscarmos a edificação e unidade da igreja do Senhor, bem como a propagação do reino de Cristo neste mundo até aquele grande e glorioso dia, onde certamente, encontraremos muitos destes irmãos do passado que foram grandes mestres e guias da igreja cristã.

“Temos , porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. 2 Coríntios 4:7

quarta-feira, 18 de julho de 2012

João Calvino nas palavras do Doutor

por

David Martyn Lloyd-Jones

Nada é mais significativo, quanto à grande mudança que se deu no campo da teologia durante o século passado, do que o lugar agora cedido e a atenção dada ao grande homem de Genebra, que é o assunto desta palestra.
Até há quase vinte anos, dava-se pouca atenção a João Calvino, e quando alguém falava dele era para amontoar insultos sobre ele, com desprezo. Ele era visto como uma pessoa cruel, dominadora e dura.
Quanto à sua obra, dizia-se que ele foi o autor do sistema teológico mais opressivo e ferrenho que já se viu. Segundo essa crença, os principais efeitos da obra que ele realizou no campo da religião foram colocar e manter as pessoas num estado de escravidão espiritual e, numa esfera mais ampla, abrir o caminho para o capitalismo. Acreditava-se, pois, que a sua influência foi totalmente nociva e que ele não era de nenhum interesse palpável para o mundo, exceto o fato de ser um espécime, se não um monstro, no museu da teologia e da religião.
Não é essa a situação hoje, porém. De fato, faz-se mais menção dele agora do que em quase um século, e Calvino e o calvinismo são temas de muito argumento e debate nos círculos teológicos. Talvez seja o avivamento teológico ligado ao nome da Karl Barth que explica isto, se a gente vê as coisas externamente. Mas também é preciso explicar Barth e a sua posição. Que foi que o levou de volta a Calvino? A sua própria reposta é que ele não pôde encontrar em nenhum outro lugar uma explicação satisfatória da vida, especialmente dos problemas do século vinte, nem tampouco uma âncora para a sua alma e para a sua fé em meio ao fragor da tormenta.
Seja qual for a explicação, o fato é que se formaram sociedades calvinistas neste país, nos Estados Unidos e Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia e na África do Sul, à parte das que se formaram noutros países da Europa antes da guerra. De fato, foi realizado um Congresso Calvinista Internacional em Edimburgo em 1938, e duas conferências similares foram levadas a efeito na América durante a guerra. Também são publicados regularmente periódicos para discussão de tópicos e problemas do ponto de vista do ensino de Calvino; e este ano o livro-texto que está sendo usado nas aulas teológicas do New College, Edimburgo, é a Instituição da Religião Cristã (as “Institutas”), de João Calvino. Muito me agradaria se eu pudesse acrescentar que houve um movimento similar em Gales.
Portanto, o tempo está maduro para olharmos de relance este homem que influenciou a vida do mundo em tão grande medida.
Que dizer do homem propriamente dito? Ele nasceu em Noyon, na Picardia, em 1509. Sabemos muito pouco do seu pai e da sua mãe, exceto que a sua mãe era famosa por sua vida piedosa. Desde o princípio Calvino mostrou que tinha capacidades mentais fora do comum. Os seus pais eram católicos romanos, e a sua intenção natural era preparar o seu inteligente filho para uma carreira eminente na igreja. Daí, os seus campos de estudo eram filosofia, teologia, direito e literatura. Embora sobressaísse em todas as áreas, a sua esfera favorita era a literatura, e o vemos em Paris, aos vinte e dois anos de idade, como erudito humanista, sendo a sua maior ambição na vida ter renome como escritor. Era um aluno tão extraordinário que muitas vezes fez preleções aos seus colegas de estudos substituindo os seus professores, e quanto ao seu estilo de vida e à sua conduta, ele era conhecido por sua sobriedade. Na verdade, ele dava ênfase à distinção moral com tanta veemência que recebeu o apelido de “O Caso Acusativo”.
Mas, como acontecera com Lutero antes dele, e com João Wesley e muitos outros depois, a moralidade não foi suficiente para mitigar sua alma sedenta. Quando estava com vinte e três anos de idade, experimentou a conversão evangélica, e o curso da sua vida se transformou completamente. Tendo enxergado a verdade, e tendo experimentado o poder desta em sua alma, deu as costas à igreja de Roma e se tornou protestante.
Não dispomos de tempo para seguir a história da sua vida, porém sabemos que ele passou quase todo o resto da sua vida em Genebra, como ministro do evangelho. Trabalhou ali desde 1536 até a sua morte, em 1564, com exceção do período de 1538 a 1541, quando as autoridades genebrinas o expulsaram, e ele foi para o “exílio”, em Estrasburgo.
Calvino era magro, de estatura mediana, testa larga e olhos penetrantes. Sua saúde foi muito frágil durante a sua vida toda, porque ele sofria de asma. Era extremamente difícil persuadi-lo a comer e a dormir. Apesar de ter um espírito senhoril, o testemunho dos que o conheceram melhor sugere que nunca houve um homem tão humilde e santo como ele. Seu principal objetivo na vida era glorificar a Deus, e ele se dedicou a isso completamente, sem pena do seu corpo nem dos seus recursos. Ele gostava de pensar em si mesmo como escritor cristão e, se tivesse seguido a sua inclinação pessoal, teria limitado a sua obra unicamente a esse campo; entretanto um amigo o ameaçou com o juízo de Deus, se não se comprometesse a pregar, e o resultado foi que, segundo a principal autoridade sobre a sua vida, ele pregou em média todos os dias e, com freqüência, duas vezes num dia, em Genebra, durante vinte e cinco anos. Devido à asma, ele falava lentamente, e não se poderia descrevê-lo como orador eloqüente. Tampouco se pode pensar nele como um pregador que só apelasse para a mente e para o intelecto. Uma certa ternura piedosa muitas vezes irrompia nas reuniões, subjugando os presentes.
O mundo lembra-se dele, não tanto como pregador, mas como autor de cinqüenta e nove obras volumosas. Ele escreveu trinta comentários dos livros da Bíblia, incluindo-se todo o Novo Testamento, menos a Segunda e a Terceira Epístolas de João e o livro de Apocalipse. Além disso, Calvino era um constante missivista e, das suas cartas, 4000 foram publicadas. Também teve infindáveis oportunidades, numa época amante de polêmicas, da fazer uso da sua incomparável habilidade como polemista. Ninguém se lhe igualava no uso do “florete”, e quando a isso se acrescenta o seu talento especial para a lógica, vemos nele, possivelmente, o maior “polemista” que o mundo já viu.
Quando recordamos que ele estava perpetuamente envolvido em contendas ou em consultas com as autoridades de Genebra, concernentes às condições morais e sociais da cidade, não nos surpreende que tenha morrido com apenas cinqüenta e cinco anos de idade. O mistério é como ele conseguiu realizar tanto em tão pouco tempo. Ninguém sabe onde ele foi sepultado, porém a sua maior contribuição para a literatura teológica, a Instituição da Religião Cristã (as “Institutas”), sobressai como um memorial para ele. Ele escreveu essa obra quando tinha vinte e cinco anos de idade, e a primeira publicação dela foi na Basiléia, em 1536, todavia Calvino continuou trabalhando nela, ampliando-a e reeditando-a durante a sua vida toda.
É sem dúvida a sua obra prima. A verdade é que se pode dizer que nenhum outro livro teve tanta influência sobre o homem e sobre a história da civilização.
Não é tampouco exagero dizer que foram as “Institutas” que salvaram a Reforma Protestante, pois elas constituem a summa theologica do protestantismo, e a mais clara declaração de fé que a fé evangélica já teve.

Fonte : Anexo 1 - comentário de João Calvino sobre Joel /
www.monergismo.com



domingo, 22 de abril de 2012

As cruzadas

A idade média, período que compreende do sec. VI até o fim do sec.XV, foi marcado por fatos importantes na história da igreja cristã que culminaram no sec. XVI com a reforma protestante na Europa, um dos grandes marcos do cristianismo depois que o mesmo foi estabelecido pelo Senhor Jesus e seus apóstolos no primeiro século.
Nos séculos VI e VII, encontramos a presença do cristianismo em toda Europa, Ásia menor, Palestina e Norte da África. O mundo da época havia sido cristianizado. Povos bárbaros que migraram para o ocidente já desde o fim do sec. IV, estavam sendo evangelizados ao cristianismo ortodoxo. É bem verdade que a igreja cristã na idade média foi marcada por um cristianismo nominal e não genuíno em razão da presença de muitos incrédulos e pagãos na igreja que se converteram em massa conforme os líderes de suas tribos se submetiam a religião cristã. No entanto, ainda no início do sec. VII surge um grande inimigo do cristianismo na península árabe, o islamismo. Esta nova religião, fundada por Maomé (570-632), se expandiu de forma extremamente rápida, tomando até meados do sec. VIII as regiões da Síria, palestina, Egito, norte da África e península ibérica. Somente não avançou Europa adentro pois sua expansão foi contida ao ocidente por Carlos martelo na França em 732 e por Leão III ao oriente no ano de 718. A tomada de Jerusalém , a terra santa, e outras terras do antigo império romano pelos mulçumanos , desencadearam mais tarde nos séculos XII e XIII no episódio da história medieval chamado de cruzadas.

AS CRUZADAS

No século XI, Jerusalém havia sido tomada pelos turcos seljúcidas, que haviam expulsado os árabes da região da palestina. Estes povos nômades perseguiam qualquer peregrino europeu que chegasse a esta região. O imperador de Constantinopla, Aleixo, solicitou então a ajuda dos Cristãos do ocidente contra estes povos asiáticos mulçumanos que estavam pondo em risco a segurança do império. Em novembro de 1095, no sínodo de Clermont, o papa Urbano II em resposta ao pedido de Aleixo propôs então a primeira investida contra os pagãos que haviam invadido a terra santa. O objetivo maior era a libertação dos lugares sagrados e não a ajuda ao reino oriental. Assim, apesar de os cruzados terem interesses econômicos e políticos, o motivo primário das cruzadas sempre foram de caráter religioso.
Nesta primeira investida em direção à palestina, multidões de camponeses leigos caminharam entusiasmados pela “aventura militar” apoiada e abençoada pela igreja cristã. Desorganizados e despreparados, estas massas leigas, composta principalmente por franceses chegaram facilmente até a Ásia menor, no entanto foram massacrados pelos turcos, muitos feitos prisioneiros e outros foram vendidos como escravos. Esta primeira investida , no entanto, culminou mais tarde na primeira cruzada dirigida por nobres da França, Bélgica e Itália. Esta cruzada ocorrida no fim do século XI, por assim dizer, alcançou seu objetivo que era a retomada das terras ameaçadas e invadidas pelos turcos, principalmente a retomada de Jerusalém que ocorreu em junho de 1099. Com isto, os líderes cruzados estabeleceram novos reinos nas regiões conquistadas e as ameaças no oriente por parte dos mulçumanos diminuíram. Jerusalém estava novamente dominada por soberanos cristãos e estabeleceu-se nesta época o que é conhecido como reino latino em Jerusalém. É importante destacarmos que esta ação militar com vestes religiosas, assim como as demais, foram caracterizadas por brutalidades indescritíveis, roubos e massacres de milhares de pessoas, ou seja, mesmo que autorizadas pela igreja cristã e seus líderes, as barbaridades que ocorreram nestas cruzadas deixaram uma mancha muito triste na história da igreja.

Uma segunda cruzada foi então organizada para defender regiões conquistadas ameaçadas pelos mulçumanos. Esta cruzada, convocada pelo papa Eugênio III e promovida pela pregação de Bernardo de Claraval em 1146, foi liderada pelos reis da frança e o imperador do sacro-império romano. Esta cruzada resultou em fracasso e Jerusalém foi novamente retomada pelos mulçumanos liderados pelo sultão Saladino no ano de 1187.

A terceira cruzada (1189-1192) deu-se em razão desta nova conquista mulçumana. Conhecida também como cruzada dos reis, foi liderada por Filipe II da França, Ricardo I da Inglaterra e Frederico I imperador da Germânia. A caminho para Palestina Frederico se afogou acidentalmente, Filipe retornou para França e Ricardo coração de Leão, como era conhecido, continuou a batalha. Porém ele não conseguiu reconquistar Jerusalém sob domínio de Saladino, apenas conseguiu a permissão da entrada de peregrinos a terra santa.

Uma quarta cruzada (1202-1204) foi convocada pelo papa Inocêncio III para reconquistar a terra Santa. A ideia inicial era atacar o Egito, no entanto, os cruzados ocidentais invadiram e atacaram a Constantinopla no oriente. Esta cruzada ajudou a enfraquecer o império Oriental e contribuiu para romper definitivamente a relação entre os cristãos latinos e gregos. A ruptura entre as igrejas do ocidente e oriente ocorrida em 1054, que poderia ser amenizada pela ajuda mútua de cristãos ocidentais e orientais, acabou por ser mais agravada pelos resultados desta cruzada. O papa Inocêncio III, ainda participou de uma cruzada a partir de 1209, conhecida como cruzada albigense ou cruzada contra os cátaros, movimento considerado herege e fortemente combatido no sudoeste da França. Inocêncio ainda propôs uma quinta cruzada que seria posta em prática por seu sucessor, Honório III entre 1217 e 1221.

A sexta cruzada (1228-1229) foi liderada pelo imperador do sacro-império Frederico II. Frederico conseguiu por meio da diplomacia um vantajoso tratado com o sobrinho de Saladino, pelo qual Jerusalém, Belém, Nazaré e um corredor para o mar passavam para o controle dos Cristãos. Em contrapartida, os cristãos tinham de reconhecer a liberdade de culto dos mulçumanos. Por este motivo, foi excomungado pelo papa Gregório IX.

Além destas, houve a sétima, oitava e nona cruzadas, bem como outras que não tem tanto destaque na história como as mencionadas acima. É preciso ainda ,ao tratarmos deste período da história da igreja medieval ,mencionarmos um dos episódios mais tristes ocorrido nas cruzadas, conhecido como cruzada das crianças ou cruzada dos inocentes no ano de 1212. Crianças vindas da França e da Germânia, conduzidas por dois meninos, Estevão e Nicolau, marcharam para Itália, crendo que por sua pureza e inocência, poderiam ser bem sucedidas em campanhas que os adultos haviam falhado para retomar a terra santa. O resultado foi à morte de muitas crianças no caminho devido à guerra e a fome e outras foram capturadas por piratas e vendidas como escravos para o Egito. A era das cruzadas terminou com a queda de Acre em Israel diante dos mulçumanos em 1291.

AS CONSEQÜÊNCIAS DAS CRUZADAS

As cruzadas acabaram deixando importantes consequências de caráter político e social na Europa. Houve o enfraquecimento do feudalismo em razão de muitos cavaleiros nobres feudais que saíram para as cruzadas, não retornaram mais a suas terras e também muitos haviam vendido as terras para financiar a partida para as cruzadas. Houve também o enfraquecimento do império oriental em razão da invasão de Constantinopla, aumentando a aversão entre cristãos ocidentais e orientais. Através das cruzadas, o papado ganhou prestígio durante a liderança das mesmas, mas ao fim, o poder papal foi enfraquecido. As cruzadas contribuíram na formação de um cristianismo mais militante e agressivo na luta contra seus opositores. Mais tarde, este cristianismo teria reflexo inclusive na colonização do continente americano. Como consequências econômicas, as cruzadas favoreceram a um maior intercâmbio cultural e econômico entre o oriente e o ocidente. Houve um despertar do comércio e da cultura. As cruzadas tiveram impacto também no monasticismo medieval, trazendo o surgimento de novas ordens militares , concedendo ao papado grupos de monges leais. Os cruzados também combateram militarmente as heresias dos cátaros no ocidente e os mulçumanos ao oriente. Com isto, o antagonismo entre cristãos e mulçumanos perduram até os dias atuais.

CONCLUSÃO E PENSAMENTOS FINAIS

Apesar de ser um período triste na história da humanidade e da igreja cristã, precisamos aprender com esses erros e extremos praticados tantos por aqueles que lideraram e promoveram estas batalhas religiosas quanto por aqueles que as travaram. O resultado do abandono e a ignorância quanto aos princípios cristãos estabelecidos pelo Senhor da Igreja, o Senhor Jesus, em Sua palavra, trazem grandes prejuízos aqueles que o desprezam. As armas do verdadeiro soldado de Cristo mencionadas nas páginas do novo testamento, são de caráter espiritual e não natural ou físico. O cristão é convocado para combater contra hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais. Não temos de lutar contra carne e sangue. (Efésios 6:10-20). Nosso Senhor repreendeu a Pedro, que segundo a tradição romanista é o líder e fundador da igreja Romana, quando este sacou da espada no jardim do Getsêmani e feriu a um servo do sumo-sacerdote (ver Mateus 26:51-54). Jesus nunca nos recomendou que viéssemos a guerrear por terras e posses neste mundo por meio de armas e violência, pelo contrário, somos chamados a adentrar neste mundo para proclamar a expansão do reino de Deus na terra, que é de caráter totalmente espiritual, o qual não vemos, mas está dentro de cada um daqueles que são regidos pelo Rei dos reis e Senhor dos senhores, nosso salvador Jesus. Mais uma vez, concluímos que a causa dos erros praticados por cristãos em toda história da igreja tem como fonte principal, a ignorância e o abandono das sagradas escrituras. Ela é a nossa maior arma no combate contra o mal e contra as heresias.
Outro ponto que precisamos destacar como conclusão de todos estes fatos ocorridos neste período da história, diz respeito a soberania absoluta de Deus e de Sua providência que faz com que toda história continue progredindo em direção ao fim por Ele mesmo determinado e predestinado. O cristianismo genuínio dos primeiros séculos, fundamentado no testemunho dos apóstolos, mártires e pais da igreja que amavam a palavra, agora enfraquecido pela presença de pagãos convertidos nominalmente e pela ameaça de outros povos ímpios, acaba incorrendo em erros grotescos como estes , porque seus líderes espirituais, neste caso os papas que convocaram as cruzadas, desprezavam e até hoje desprezam a autoridade maior sobre a igreja de Cristo, que é a palavra de Deus, e não o homem pecador da qual o papado é constituído. No entanto, o próprio Deus, Senhor e sustentador de toda Sua criação, estava preparando o mundo para o acontecimento de um dos maiores marcos na história da igreja cristã , a reforma protestante do sec. XVI, que colocaria o fim da ignorância e da escravidão da religião corrompida pelo homem e traria o povo de Deus para perto de Sua palavra novamente.

"Porque Dele, por meio Dele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois a glória eternamente. Amém !" Romanos 11:36

Soli Deo Gloria !

Fontes bibliográficas :
- O cristianismo através dos séculos / Earle E. Cairns / Vida Nova
- Escola Teológica Charles Spurgeon / Prof. Marcos Granconato
- Wikipédia / Enciclopédia livre

domingo, 15 de abril de 2012

Páscoa feliz com Jesus

"Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós." 1 Coríntios 5:7b

No dia 08 de abril de 2012, domingo de páscoa, foi realizado na sede de nossa igreja no período da tarde, uma ação social reunindo crianças carentes da comunidade bem como seus familiares para participação de um evento de páscoa, com distribuição de lanches, lembrancinhas, músicas, vídeos e lições bíblicas sobre o verdadeiro sentido da páscoa.
Além de irmãos e irmãs que contribuíram na realização do evento, estiveram presentes cerca de 45 crianças e 20 adultos visitantes, perfazendo um total de 80 pessoas presentes.
Abaixo, segue algumas fotos de momentos do evento junto a comunidade do bairro de Forquilhinhas:

Momento de cânticos com as crianças :

Momento de vídeos e lições bíblicas para as crianças :

Hora do lanche :

Distribuição de lembrancinhas :

Estas são algumas imagens dos momentos agradáveis que desfrutamos juntos com as criancinhas da comunidade, lhes ensinado valores bíblicos sobre a páscoa e contribuindo para que este dia não passasse em branco em suas vidas. No entanto, queremos deixar registrado o nosso mais sincero agradecimento a todos que participaram e cooperaram para que este evento pudesse acontecer.
Louvado seja Deus por cada irmão e irmã que trabalharam, desde as visitações e divulgação do evento, programações, arrecadação de donativos, preparo das lembrancinhas, preparo e distribuição do lanche, cânticos, lições, enfim, aqueles que não puderam estar presentes no dia, mas estavam em oração pelas almas presentes, bem como, somos muito gratos a todos os contribuintes e colaboradores que ofertaram voluntariamente donativos e itens para realização do evento, a todos, o nosso muito obrigado !
Por fim, agradecemos, louvamos e exaltamos o nosso bom e eterno Deus, que é o Senhor soberano sobre tudo e todos e que proporcionou e sustentou tudo o que ocorreu neste dia abençoado, desde o desejo da realização do evento, bem como o envolvimento e presença de todos os participantes diretos e indiretos mencionados acima, para que, ao final, toda honra e glória pertença somente a Ele.
Louvado Seja Deus pela Sua graça maravilhosa, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor, concedida pela obra do Seu Santo Espírito em nossas vidas.

Soli Deo Gloria !

domingo, 1 de abril de 2012

A igreja e os bárbaros

O período da história entre os séculos IV e XI, é conhecido também como idade das trevas . Neste período, houve as chamadas migrações ou invasões de povos bárbaros para a Europa ocidental, os quais tiveram de ser enfrentadas pela igreja cristã.

No início do sec. IV, com o edito de Milão e o fim das perseguições ao cristianismo, a igreja cristã passa a ser aliada ao estado, ganhando força e apoio do império chegando ao final do sec. IV como a religião exclusiva do estado através do edito de Teodósio I. No entanto, o império romano já estava em declínio e esta união com o cristianismo, o qual não parava de se expandir, pode ter sido mais uma estratégia política a fim de salvar a cultura clássica da época. A igreja se beneficiou deste apoio do estado, adquirindo sua liberdade de culto, liberdade de testemunho influenciando a sociedade, elevando o padrão moral das pessoas, influenciando a legislação romana, bem como, o avanço de trabalhos missionários por todo império. Porém, se podemos destacar alguns benefícios desta união igreja-estado, o fato é que houve também grandes malefícios, dentre eles a influência das autoridades governamentais em assuntos e decisões de caráter espirituais e teológicos. Também com o “fortalecimento” da igreja por meio do apoio do império, o cristianismo passou a perseguir o paganismo da mesma forma em que foi perseguido pelos pagãos nos séculos passados. Outro problema, foi a secularização da igreja, onde conversões em massa ocorriam em virtude de o cristianismo ser a religião do império. Deste modo, a espiritualidade da igreja foi extremamente enfraquecida com a união ao estado, trazendo grandes prejuízos ao cristianismo no decorrer da idade média.

No final do sec. IV a igreja teve de lidar com um novo problema, a migração de povos estrangeiros ou bárbaros que vinham em busca de melhores lugares para habitar, bem como refúgio de perseguições de outros bárbaros.
Estes povos estrangeiros, liderados por Reis sem cultura e sem instrução alguma, muitos deles sem alfabetização, traziam em sua bagagem sua religiosidade pagã, o culto a heróis e deuses pagãos, e muitos destes bárbaros tiveram contato com o cristianismo ariano , tendo a igreja cristã ortodoxa a difícil tarefa de evangelizar estes novos povos.

Dentre os principais povos bárbaros e suas migrações podemos destacar :

- Os godos – Perseguidos pelos hunos, buscaram asilo nas terras do império romano. Os ostrogodos fixaram domínio na região da Itália e os visigodos na Espanha. Úlfilas foi o principal missionário entres estes povos, promovendo um cristianismo herético de linha ariana.
- Os vândalos – tomaram o norte da África e perseguiram os cristãos ortodoxos . Agostinho de Hipona estava no final de sua vida quando o norte da África foi invadido pelos vândalos.
- Os lombardos , borgonheses e francos – Se estabeleceram na Gália, região que hoje é a frança. Martinho de Tours trabalhou com os borgonheses . Os francos se converteram ao cristianismo quando seu rei, Clovis, influenciado por sua esposa que era cristã, se converteu em 496.
- Os anglo-saxões – fixaram-se na Britânia, atual Inglaterra. Nas ilhas britânicas, destaque para os trabalhos evangelísticos de Patrício entre os Irlandeses e Columba entre os Escoceses. Foi da Escócia que Aidano levou no sec. VII o evangelho aos anglo-saxões no norte da Inglaterra.

Ao lidar com esta questão das invasões bárbaras e consequentemente ao cristianismo que estava associado ao império, a igreja que já fora prejudicada e enfraquecida espiritualmente pela união igreja-estado, passou a ficar mais enfraquecida e paganizada com as invasões de povos bárbaros. Como mencionado anteriormente, muitos cristãos, monges e missionários trabalharam ativamente na cristianização e evangelização destes povos, a isto destacamos positivamente, no entanto, muitos bárbaros convertidos ao cristianismo continuavam sem serem doutrinados, trazendo para dentro das igrejas suas práticas pagãs e ritualistas, conversões em massa influenciadas pelos líderes dos povos bárbaros produziam um cristianismo nominal e não genuíno, o que ocasionou o enfraquecimento espiritual e a paganização em parte da igreja cristã medieval. Não bastasse este enfraquecimento da Igreja, surge no sec. VII um poderoso inimigo do cristianismo, o islamismo. Fundado por Maomé, o qual foi influenciado pelo arianismo e pelo judaísmo, esta nova religião se expandiu rapidamente tomando todo norte da África e parte do oriente , sendo rechaçado no ocidente por Carlos Martelo na batalha de Tours (732) e no oriente por Leão III (718).

Conclusão

Quando olhamos para igreja antiga, para igreja apostólica ou primitiva e em seguida para os cristãos que a mesma produziu, homens e mulheres que entregavam suas vidas por amor a Cristo e ao evangelho, grandes pensadores e teólogos cristãos que se levantaram para defender a ortodoxia bíblica, que lutaram contra as heresias e contra as afrontas externas do império ao ponto de enfrentarem o martírio, podemos claramente contemplar o testemunho de homens e mulheres que realmente nasceram de novo, que foram verdadeiramente convertidos pelo poder do evangelho de Cristo. No entanto, ao olharmos para igreja medieval a partir do sec. IV, encontramos a presença da igreja e do cristianismo estabilizado, sem perseguições e afrontas, fortalecido geograficamente e materialmente pela união ao estado, mas enfraquecido espiritualmente. Ainda vemos alguns cristãos genuínos remanescentes que lutaram e labutaram na evangelização dos povos, mas a grande maioria dos cristãos deste período, eram cristãos nominais, enraizados no seu paganismo, ritualismo e misticismo supersticioso. Sem dúvida este enfraquecimento espiritual da igreja foi ocasionado pela presença política do império nas questões espirituais da igreja, bem como com a presença de incrédulos pagãos, povos convertidos nominalmente e não espiritualmente ao cristianismo que contribuíram para a paganização da igreja medieval, mas a causa principal, a fonte do enfraquecimento espiritual da igreja deste período se deu pelo abandono as bases das escrituras. O fundamento dos apóstolos e profetas, as escrituras sagradas, fora deixado de lado para que a igreja buscasse seus interesses neste mundo, dentre eles, o livramento das perseguições e a aceitação por parte de todos os povos, comprometendo a ortodoxia e a fidelidade a Cristo e Sua Palavra.

Nos dias de hoje, o quadro não é muito diferente. A igreja ainda busca a aceitação e a amizade do mundo a fim de não ser perseguida e poder estar bem firmada geográfica e materialmente neste mundo.Porém, vemos uma igreja se distanciando cada vez mais do alimento espiritual, da fonte de vida da igreja que é a palavra de Deus. Isto traz o enfraquecimento do cristianismo que é visto em grandes impérios religiosos de nossos dias, formado por multidões de evangélicos e cristãos nominais, que aparentam uma robustez espiritual, mas não passa de feno ou palha, pois não estão edificando sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, o qual é Cristo revelado nas escrituras.

“Porque ninguém pode por outro fundamento , além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” 1 Coríntios 3:11

“..edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;” Efésios 2:20

“Muitos me dirão naquele Dia : Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente : Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” Mateus 7:22-23


Que o Senhor nos conceda a graça de fazermos parte do remanescente cristão que verdadeiramente ama a Cristo e Sua palavra, que venhamos a cada dia confirmar a nossa vocação e eleição, porque fazendo isto, nunca jamais tropeçaremos. Amém !

Sola Scriptura !

Fontes bibliográficas :
- O cristianismo através dos séculos / Earle E. Cairns / Vida Nova
- Escola Teológica Charles Spurgeon / Prof. Marcos Granconato

sexta-feira, 16 de março de 2012

Batismos

"Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." Mateus 28:19-20

No último dia 25 do mês de fevereiro de 2012, foi realizado, as margens da lagoa do Peri em Florianópolis, o culto especial de batismo, onde, pela graça de Deus, seis almas desceram as águas do batismo em cumprimento a esta importante ordenança deixada por Jesus Cristo à Sua igreja. Após um momento de louvor e oração, as escrituras foram ensinadas através do Pr. Fernando para instrução e testemunho a todos os presentes. Logo após a exposição bíblica, realizou-se o ato de batismo por imersão em conformidade com a palavra de Deus.
Abaixo, estão algumas belas imagens deste momento marcante na vida dos irmãos e irmãs que foram batizados.

Momento de exposição e ensino da Palavra de Deus.

Pr. Fernando, Valcir, Rafael, Indianara, Kelly, Douglas e Paulo.

Irmão Douglas sendo batizado.

Belíssimo momento de oração e ação de graças ao Senhor.

No dia seguinte, domingo , dia do Senhor, realizou-se no culto público da noite a apresentação dos novos membros à igreja, onde, após a pregação da palavra de Deus, todos juntos celebraram a comunhão da ceia do Senhor.
Certamente um culto para ficar registrado na história da igreja local.
Louvado e exaltado seja o nome de Deus por estes dias abençoados concedidos ao Seu povo.

Que o Senhor nos conceda cada vez mais a graça da fidelidade a Sua Santa palavra,e assim, Ele continue acrescentando a igreja aqueles que ainda serão salvos.

Soli Deo Gloria !

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cristo ou César - As perseguições


João 15:20 – “Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.”

Nas palavras deixadas pelo Mestre nos registros do apóstolo João, somos lembrados de que, assim como perseguiram ao Senhor e fundador da igreja, Jesus Cristo , também perseguirão aos seus servos e seguidores, porém, assim como ouviram as palavras do Mestre, também ouvirão as nossas. Estas palavras se cumpriram a partir de Cristo e seus apóstolos, em toda história do cristianismo e continuarão a se cumprir enquanto a luz e o sal da terra, a igreja, estiver neste mundo.
Nas primeiras perseguições da igreja antiga, um dos pais da igreja, Tertuliano (sec.III) escreveu : “O sangue dos cristãos é a semente da igreja”. Quando cristãos eram perseguidos e mortos em testemunho da verdade e pela causa de Cristo, a igreja continuava a crescer e a ganhar força , sustentada por Jesus e pelo sangue dos mártires, transpondo dificuldades e avançando por todo o mundo.

Nosso objetivo é tratar das perseguições sofridas pela igreja cristã nos três primeiros séculos até o início do sec. IV, onde o cristianismo passou a ter liberdade através do governo de Constantino cessando temporariamente as perseguições.

Nos primeiros séculos, a igreja já enfrentava dois tipos de perseguições. Uma de caráter interno, lidando com heresias e falsos ensinos que permeavam os povos pagãos da época, onde muitos ensinos e escritos feitos por pagãos tinham de ser combatido a fim de não contaminar os ensinos e escritos apostólicos verdadeiros. Simultaneamente a esta luta interna pela pureza doutrinária, a igreja tinha de lidar com as perseguições externas , inicialmente movidas pelos próprios judeus, onde os principais líderes do cristianismo como Pedro, Paulo, Tiago e outros foram perseguidos conforme o registro histórico no livro dos atos dos apóstolos. Depois dos judeus, o próprio império Romano perseguiu o cristianismo até o início do Sec. IV, quando em 313 d.C, com o edito de Milão, o cristianismo passou a ser uma religião legalizada no império Romano.

CAUSA DAS PERSEGUIÇÕES

As principais causas das perseguições externas sofridas pelo cristianismo nos primeiros séculos foram de origem :

a)Política – Os cristãos eram vistos inicialmente como parte do Judaísmo, a qual era uma religião legal e tinha certas concessões por parte do império romano, como por exemplo, a permissão para cultuar somente a Deus sem prestar culto ao imperador ou aos deuses pagãos do império a fim de se manter a paz no império e a submissão dos judeus ao estado Romano. No entanto, com o crescimento rápido do cristianismo e seus princípios de exclusividade moral a Cristo por parte de seus seguidores, a religião cristã passou a ser vista como uma religião ilegal que ameaçava a estabilidade do estado . Por não se submeterem ao culto pagão ao imperador, os cristãos foram acusados por deslealdade ao império e por colocarem em risco a paz e a segurança do estado.

b)Religiosa – Em contraste com a religião pagã do império romano, com seus altares, ídolos, cânticos, ritos e práticas externas que impressionavam o povo, os cristãos realizavam seus cultos espirituais sem a presença de ídolos e rituais externos a semelhança dos pagãos, adorando e orando a um Deus invisível o que para as autoridades romanas consistia em ateísmo. Por suas reuniões secretas e sigilosas, os cristãos também foram acusados de incesto, em razão de seu tratamento para com os demais seguidores as quais eram chamados de “irmãos” e que tinham como prática comum à saudação com ósculo santo, bem como, foram acusados de canibalismo e sacrifício de humanos em razão dos termos que empregavam na realização da ceia do Senhor, onde comiam e bebiam do “corpo e do sangue” de Cristo.

c)Social – Os cristãos defendiam a igualdade entre todos os homens, quer senhores, quer servos, quer ricos ou pobres. Isto era contrário à ideia pagã da estrutura do estado, que defendia a liderança e privilégios a nobreza a qual dominava e era servida pelas classes mais pobres. Os cristãos também se mantinham afastados da comunhão da sociedade pagã em lugares públicos, tais como templos, teatros e outros, reprovando assim o modo de vida desregrada que tinham os ímpios trazendo sobre si a antipatia das autoridades e a consequente perseguição.

d)Econômica – Os cristãos também representavam uma ameaça no que diz respeito à economia do império. Desde os registros bíblicos em atos, os pagãos já os tinham como ameaça a suas fontes de rendas ligadas a sua falsa religião. Com o ensino do culto espiritual a um único Deus, sem a presença de ídolos e relíquias, as práticas pagãs aos deuses falsos do império passavam a serem vãs. Isto comprometia todas as pessoas envolvidas nos cultos pagãos, desde os sacerdotes até os fabricantes de ídolos. Assim, no final do sec. III, com instabilidades e crises no império, estes problemas eram associados à presença do cristianismo e a consequente apostasia do povo aos deuses pagãos.

AS PERSEGUIÇÕES

As principais perseguições da igreja nos primeiros séculos podem ser resumidas da seguinte forma :

a)Século I d.C.
Conforme mencionado anteriormente, as perseguições nos primeiros séculos partiram dos judeus e em 54d.C. passaram a ser movidas pelo estado romano sob governo de Nero. Registros apontam que Nero ordenou o incêndio de Roma em 64 d.C e que o mesmo acusou os cristãos por tal tragédia, o que custou a perseguição e morte de muitos cristãos de forma brutal. Paulo e Pedro morreram neste período. No final do primeiro século,em 95 d.C. , veio à perseguição por Domiciano, onde judeus e cristãos foram perseguidos por se negarem a pagar um imposto público para manutenção de um templo pagão. O apóstolo João foi banido a ilha de Patmos neste período.

b)Século II d.C.
Neste período, uma perseguição organizada ocorreu na Bitínia sob governo de Plínio. Este governador escreveu ao imperador Trajano relatando sobre a situação e a expansão rápida do cristianismo. Em carta, Plínio mencionou o problema religioso e econômico, onde templos pagãos estavam vazios e vendedores de animais para sacrifícios estavam empobrecidos. Como medida, Plínio adotou a política de não perseguir os cristãos até que houvesse alguma denúncia, somente nestes termos cristãos eram levados aos tribunais a fim de renegarem a fé e adorarem aos deuses pagãos. Inácio de Antioquia morreu nesta perseguição. Em Esmirna, por volta de 155 d.C., Policarpo foi morto quando muitos cristãos foram levados diante dos tribunais. Por último, ocorreram perseguições sob governo de Marco Aurélio, período de muitas calamidades, pragas e outros problemas, os quais eram atribuídos à presença dos cristãos, que com isso, sofreram mais perseguições. Justino Mártir, apologista, sofreu martírio nessa perseguição.

c)Século III d.C.
Até meados do séc. III, as perseguições sofridas pelos cristãos eram de caráter mais local e esporádico. Em 250 d.C., sob Imperador Décio, os cristãos passaram a serem perseguidos de forma mais abrangente, pois eram vistos como ameaça para o estado romano que passava por calamidades, problemas internos e externos . Por meio de um edito, era exigido ao menos uma vez ao ano uma oferta aos altares pagãos romanos e a figura do imperador. Aqueles que cumpriam tal determinação, recebiam um comprovante chamado libellus. Muitos cristãos apostataram e cumpriram o edito para não perderem a vida, outros falsificaram tal documento , e mais tarde, com o fim das perseguições, a igreja teve que lidar com o problema destes que queriam retornar a comunhão cristã. No final do séc. III e início do IV, deu-se início a uma das maiores perseguições a igreja antiga sob governo de Diocleciano. Com o império em crise, Diocleciano instaurou uma forte monarquia onde não havia mais tolerâncias a religiões e crenças contrárias à religião do estado. Em 303 d.C. deu-se início as fortes perseguições. Líderes cristãos foram fortemente perseguidos, cópias das escrituras foram queimadas, foram ordenados o fim das reuniões cristãs, a destruição de igrejas bem como a tortura e prisão de muitos cristãos. Depois desta perseguição a igreja também teve de lidar com o problema dos traditore ou traidores, que entregaram partes das escrituras para serem queimadas e queriam a readmissão na igreja. A questão das escrituras que poderiam ou não ser queimadas, junto ao problema interno das heresias, contribuíram mais tarde para definição do cânon do Novo testamento. Somente em 311 d.C., através de um edito de tolerância aos cristãos promulgado por Galério, é que as perseguições diminuíram, mas somente cessaram totalmente em 313 d.C. quando Licínio e Constantino promulgaram o edito de Milão , o qual garantia a liberdade de culto a todas as religiões, inclusive ao cristianismo.

CONCLUSÃO E PENSAMENTOS FINAIS

Nosso Senhor foi perseguido e morto. Como ele havia predito, sua igreja também foi perseguida e ainda será, até que Ele venha resgatar sua amada “esposa” que Ele comprou com seu próprio sangue. No entanto, Ele também prometeu: “Edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18). Assim concluímos que todas as perseguições contra o cristianismo na história e as que ainda virão, jamais conseguiriam ou conseguirão aniquilar com a igreja do Senhor, pelo contrário, mesmo através do sofrimento de muitos irmãos e irmãs, estas perseguições contribuíram e continuarão contribuindo para propagação do reino de Deus no mundo e para o progresso do cumprimento da missão de Deus em toda história que é a glória do Seu Santo Nome.

Soli Deo Gloria !

“Porque vos foi concedido a GRAÇA de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele.” Apóstolo Paulo / Filipenses 1:29

“Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” Jesus Cristo / Mateus 5:10-12


Fontes bibliográficas :
- O cristianismo através dos séculos / Earle E. Cairns / Vida Nova
- Escola Teológica Charles Spurgeon / Prof. Marcos Granconato

sexta-feira, 2 de março de 2012

A plenitude dos tempos


Gálatas 4:4 – mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.

Neste texto o apóstolo Paulo aponta para o tempo na história da humanidade onde Deus enviou ao mundo seu unigênito Filho para resgate de Sua propriedade, a Igreja. Este compreende ao primeiro advento de Jesus Cristo ao mundo, onde, o próprio Deus se fez carne e cumpriria todas as profecias preditas pelos servos do Senhor no Antigo Testamento acerca do Messias, do salvador do povo de Deus.
No entanto, para que este tempo pudesse chegar, o próprio Deus em sua providência havia preparado o mundo e os povos para que Seu Filho pudesse encarnar. A plenitude dos tempos diz respeito ao tempo exato, ao momento certo e único em toda história em que, Jesus Cristo, o Emanuel, o próprio Deus, pudesse se fazer carne e habitar entre nós. O Senhor Jesus veio a este mundo quando tudo já estava pronto, preparado, no lugar certo e na hora exata para que Deus continuasse o cumprimento de Seu eterno e soberano propósito em Sua criação.
Assim, cumpre-nos observar alguns fatores que contribuíram para vinda do messias, bem como para o estabelecimento e a expansão do cristianismo .

1) Fator geográfico – O local escolhido por Deus em toda a terra para o nascimento de Jesus Cristo, certamente foi um local divinamente selecionado em razão de sua situação. A terra que Deus prometera a Seu povo desde o antigo testamento era o local ideal para receber o Messias prometido. A região da palestina onde estava Israel era como o centro do mundo naquela época. Nas encostas do mediterrâneo, onde povos se utilizavam das navegações para viagens e comércio, Israel praticamente fazia fronteira com a Ásia, com o norte da África e ao oriente com a Mesopotâmia, bem como, era passagem para muitos que chegariam ao continente Europeu. Certamente este fator contribuiu extra-ordinariamente para o crescimento e expansão do cristianismo, tendo em vista o contato que milhares de povos que passassem por Israel teriam com cristãos naquele lugar.

2) Fator Intelectual Grego – Outro fator importante tanto para a vinda do Messias quanto para expansão do cristianismo foi o ambiente intelectual criado pela mente grega. Com as conquistas de Alexandre o grande, estabelecendo o império grego a partir do Sec. IV a.C. O objetivo maior deste império era o de helenizar o mundo, ou seja, tornar o mundo da época uma grande Grécia. Neste intento, os gregos espalharam ao mundo da época suas idéias, costumes, cultura e principalmente seu idioma, o grego, o qual se tornou a língua mundial e facilitou a comunicação de vários povos da época. Grandes pensadores e filósofos gregos também trouxeram suas idéias sobre um mundo vindouro e perfeito depois da morte, idéias sobre a imortalidade da alma, pensamentos estes que permeiam o cristianismo e que , devido aos gregos, já era comum entre povos daquela época mesmo antes do advento de Cristo. Certamente tanto os pensamentos quanto o idioma grego prepararam o povo para chegada do cristianismo bem como para expansão do mesmo. A maior parte do Novo testamento, foi escrito originalmente no idioma grego em razão da maior acessibilidade aos povos da época.

3) Fator político Romano – Este fator certamente contribuiu imensamente para expansão do cristianismo. Estabelecido após o império grego, seu sistema organizacional político trouxe maior unidade e controle em todo império, promovendo maior ordem e paz em toda sua extensão. Com isto, pessoas tinham liberdade de viajar e se locomoverem nas terras que faziam parte do império.Os cristãos do I séc., incluindo o maior missionário da época, o apóstolo Paulo, certamente usufruíram destes benefícios promovidos pelo sistema político romano. Outra contribuição dos romanos foram as boas estradas por eles construídas, onde algumas ainda existem nos dias de hoje as quais foram utilizadas para viagens de cristãos pelas terras do império levando o evangelho a vários lugares. O exército romano também contribui para expansão do cristianismo, tendo em vista que muitos soldados foram convertidos e levaram o evangelho a várias partes do império romano. As conquistas do exército romano também contribuíram para expansão do cristianismo,fazendo com que povos pagãos conquistados desfalecessem na fé dos deuses “fracos e derrotados” que eles serviam e passavam a ser influenciados pelas crenças romanas, onde muitos soldados eram cristãos convertidos. Mesmo perseguindo o cristianismo, os romanos sem querer foram usados soberanamente por Deus para o preparo do mundo para vinda de cristo e para a expansão do cristianismo.

4) Por último, a contribuição mais importante para a preparação do “palco” mundial para o primeiro advento de Cristo foi sem dúvida as contribuições religiosas dos Judeus. Aos Judeus haviam sido dadas todas as revelações de Deus do Antigo Testamento. Este era o povo que prestava culto ao verdadeiro Deus. Até mesmo as nações pagãs inimigas dos israelitas como os Assírios, os babilônicos e os próprios romanos foram influenciados pelo fator religioso Judaico e ajudaram a espalhar estes pensamentos pelo mundo. Tendo o judaísmo uma forte ligação com o cristianismo, tendo em vista que seu livro sagrado constitui o Antigo testamento dos cristãos, suas idéias e doutrinas religiosas contribuíram diretamente para o estabelecimento do cristianismo que acabara de surgir no I séc. d.C. Entre estes pensamentos religiosos destacamos o Monoteísmo, o culto a um Deus único e verdadeiro que diferenciavam os judeus dos demais povos que cultuavam vários deuses. Este culto monoteísta é o culto cristão em toda sua história, diferenciado pela exaltação da Santíssima trindade, onde o único Deus verdadeiro é manifesto e adorado em três pessoas distintas e de igual essência. Outro pensamento judeu é a esperança messiânica ou a espera de um libertador e salvador. Estes pensamentos já permeavam o povo judeu por meio das profecias do Antigo testamento e prepararam o mundo para a chegada do salvador. Os cristãos hoje crêem no salvador que veio resgatar Sua Igreja, porém aguardam a manifestação dos céus do segundo advento do Senhor Jesus em poder e glória para consumação de toda história e a eternidade no novo céu e nova terra onde habita a justiça. O sistema ético judaico também se assemelha ao cristianismo em contraste com a imoralidade e cultos pagãos daquela época. Falsos deuses eram cultuados em altares de orgias e imoralidades sem limites as quais influenciavam também os costumes dos povos pagãos da época. Enquanto que o judaísmo tinha sua moral alicerçada nas leis de Deus resumidas nos dez mandamentos as quais moldavam os judeus a um padrão moral e ético elevado, os pagãos viviam em dissolução e iniqüidades desenfreadas. O padrão do cristianismo também é baseado nas leis de Deus nas escrituras e excede em muito aos padrões observados por muitos judeus que entendiam e confiavam somente na letra da lei, sem possuírem o Espírito e a liberdade dos filhos de Deus para servirem a justiça. Conforme já mencionado anteriormente, o povo judeu possuía os oráculos de Deus no Antigo testamento. A teologia, as profecias, os dados históricos contido nesta escritura judaica contribuíram diretamente para vinda do cristianismo sendo esta a mensagem da igreja estabelecida pelo Senhor Jesus e seus apóstolos no I séc. Mais tarde, o antigo testamento unido ao novo testamento registrado pelos apóstolos e servos de Deus que andaram com o Senhor Jesus ,formariam o alicerce da igreja por todas as eras seguintes até a consumação dos séculos, a bíblia sagrada. Mais um pensamento judeu que o liga diretamente ao cristianismo em contraste com outras religiões é a filosofia da história, onde estava a idéia de que todo o acontecimento através dos tempos tem um significado e estão contribuindo para o avanço da história, diferente dos pagãos que achavam que a história sempre se repete e não leva a lugar algum. A igreja por meio das escrituras promove a cosmovisão onde tudo o que aconteceu, acontece e ainda sucederá, cooperam para o progresso e o cumprimento do propósito eterno e soberano de Deus, que triunfará sobre todo o mal e pecado da humanidade culminando na glória do nome de Deus. Por fim, os judeus estabeleceram uma instituição muito útil para o estabelecimento e a expansão do cristianismo, as sinagogas judaicas. Através delas judeus e gentios se familiarizaram tanto com o judaísmo quanto com o cristianismo surgido no I sec. O próprio apóstolo Paulo e outros se utilizavam das sinagogas para as reuniões e ensino do evangelho durante as viagens missionárias. A semelhança das sinagogas, cristãos no mundo inteiro tem estabelecido locais para suas reuniões e cultos as quais chamamos de igrejas.

Conclusão

Tendo em vista todos estes fatores mencionados e a luz da Escritura sagrada, certamente, naquele tempo, naquele lugar singular, aos olhos daqueles povos, aprouve ao Senhor de toda história enviar ao mundo Seu Filho para salvação do Seu povo, a Sua igreja, porque sem sombra de dúvidas, aquela era a plenitude dos tempos, onde tudo já estava pronto, onde reinos e impérios haviam sido estabelecidos e conduzidos pelo Soberano Jeová a fim de que Seu eterno propósito continuasse seu cumprimento .
Nos dias de hoje, Aquele que era , que É e que há de vir, certamente virá, pois o eterno propósito do Altíssimo ainda está em andamento. Nações, povos, governos e reinos em toda a terra têm sido atingidos pelo evangelho do reino e o Soberano está em Seu trono, reinando ativa e continuamente no mundo e na história conduzindo cada indivíduo e cada acontecimento para o seu determinado propósito, onde no fim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai.

“Porque Dele, por meio Dele, e para Ele são todas as coisas. A Ele , pois, a glória eternamente. Amém !” Romanos 11:36

Soli Deo Gloria !

Fontes bibliográficas :
- O cristianismo através dos séculos / Earle E. Cairns / Vida Nova
- Escola Teológica Charles Spurgeon / Prof. Marcos Granconato

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pecadores nas mãos de um Deus irado


por
Jonathan Edwards

Sermão pregado em 08 de Julho de 1741 em Enfield, Connecticut - EUA

“... A seu tempo, quando resvalar o seu pé” (Deuteronômio 32.35).

Nesse versículo os ímpios e incrédulos israelitas, que eram o povo visível de Deus, e que viviam debaixo de Sua graça, são ameaçados com a vingança do Senhor. Apesar de todas as obras maravilhosas que Deus operara em favor desse povo, este permanecia sem juízo e destituído de entendimento, como está escrito no versículo 28. e mesmo sob todos os cuidados do céu produziram fruto amargo e venenoso, conforme verificamos nos dois versículos anteriores.
A declaração que escolhi para meu texto, "A seu tempo, quando resvalar o seu pé", parece subentender as seguintes questões, relativas à punição e destruição que aqueles ímpios israelitas estavam sujeitos a sofrer:

1. Que eles estavam sempre expostos à destruição , assim como está sujeito a cair todo aquele que se coloca de pé, ou anda por lugares escorregadios. A maneira como serão destruídos vem aí representada pelo deslize de seus pés. A mesma citação encontramos no Sl 73.18-19, "Tu certamente os pões em lugares escorregadios, e os fazes cair na destruição".

2. Faz supor também que estavam sempre sujeitos a uma súbita e inesperada destruição, à semelhança daquele que anda por lugares escorregadios e a qualquer instante pode cair. O ímpio não consegue prever se, num momento, ficará de pé, ou se, em seguida, cairá. Quando cai, cai subitamente, sem aviso, como está escrito, também, no Sl 73.18-19, "Tu certamente os põe em lugares escorregadios, e os fazes cair na destruição. Como ficam de súbito assolados! Totalmente aniquilados de terror!"

3. Outra coisa implícita no texto é que os ímpios estão sujeitos a cair por si mesmos, sem serem derrubados pelas mãos de outrem, pois aquele que se detém ou anda por terrenos escorregadios não precisa mais do que seu próprio peso para cair por terra.

4. E também a razão pela qual ainda não caíram, e não caem, é por não haver chegado ainda o tempo determinado pelo Senhor. Pois está escrito que quando este tempo determinado, ou escolhido, chegar, seu pé irá resvalar. E então serão entregues à queda, para a qual já estão predispostos por causa do próprio peso. Deus não os susterá mais em lugares escorregadios, mas vai deixá-los sucumbir. Então, nesse exato momento, cairão em destruição, à semelhança daqueles que transitam em terrenos escorregadios, à beira de precipícios, e não conseguem se manter de pé sozinhos,caindo imediatamente e se perdendo ao serem abandonados.
Eu insistira agora num exame maior das seguintes palavras: não há nada, a não ser a boa vontade de Deus, que impeça os ímpios de caírem no inferno a qualquer momento.
Por mera boa vontade de Deus, me refiro à sua vontade soberana, ao seu livre arbítrio, o qual não é restringido por nenhuma obrigação, nem tolhido por qualquer tipo de dificuldade. Em última análise, sob qualquer aspecto, nada, exceto a vontade de Deus, tem poder para preservar os ímpios da destruição por um instante sequer.
A verdade dessa observação transparecerá nas seguintes considerações:

1. Não falta poder a Deus para lançar os ímpios no inferno a qualquer momento. A mão dos homens não é suficientemente forte quando Deus se levanta. O mais forte deles não tem poder para resistir-lhe, e ninguém consegue se livrar de suas mãos.Ele não só pode lançar os ímpios no inferno, como pode fazê-lo com a maior facilidade. Muitas vezes, uma autoridade terrena encontra grande dificuldade em dominar um rebelde, o qual acha meios de se fortalecer e se tornar mais poderoso pelo número de seguidores que alicia. Mas com Deus não é assim. Não há força que resista ao seu poder. Mesmo que as mãos se unam, e que enormes multidões de inimigos do Senhor juntem suas forças e se associem, serão todos facilmente despedaçados. São como montes de palha seca e leve diante de um furacão, ou como grande quantidade de restolho perto de chamas devoradoras. Nós achamos fácil pisar e esmagar uma lagarta que se arrasta pelo chão. Achamos fácil também cortar ou chamuscar um fio de linha fino que segura alguma coisa. Então, é simples para Deus, quando lhe apraz, lançar seus inimigos no inferno profundo. Quem somos nós, que imaginamos poder resistir Àquele ante cuja repreensão a terra treme, e perante quem as pedras tombam?

2. Eles merecem ser lançados no inferno. Assim, a justiça divina não se interpõe no caminho dos ímpios; nem faz objeção pelo fato de Deus usar seu poder para destruí-los a qualquer momento. Muito pelo contrário, a justiça fala assim da árvore que produz frutos maus: "... pode cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?" (Lc 13.7). A espada da justiça divina está o tempo todo erguida sobre suas cabeças, e somente a mão de absoluta misericórdia e a mera vontade de Deus podem detê-la.

3. Os ímpios já estão debaixo da sentença de condenação ao inferno. Eles não só merecem ser lançados ali, mas a sentença da lei de Deus, esse preceito de eterna e imutável retidão que o Senhor estabeleceu entre si mesmo e a humanidade, também se coloca contra eles, e assim os mantém. Portanto, tais homens já estão destinados ao inferno. "...o que não crê já está julgado." (Jo 3.18). Assim, todo impenitente pertence, verdadeiramente, ao inferno. Ali é o seu lugar, ele é de lá, como temos em João 8.23: "vós sois cá debaixo" e para lá é destinado. Este é o lugar que a justiçam, a Palavra de Deus e a sentença de sua lei imutável reservam para ele.

4. Assim sendo, eles são objetos da ira e da indignação de Deus, que se manifesta através dos tormentos do inferno. E a razão de não descerem ao inferno agora mesmo não é pelo fato do Senhor, em cujo poder se encontram, estar menos irado com eles no momento, ou, pelo menos, não tão encolerizado como está com aquelas miseráveis criaturas a quem ele atormenta no inferno, as quais experimentam e sofrem ali a fúria de sua indignação. Sim, Deus se acha muito mais furioso com um grande número de pessoas que está vivendo na terra agora, talvez de modo mais tranqüilo e confortável, do que com muitos daqueles que estão experimentando as chamas do inferno. Portanto, a razão porque Deus ainda não abriu a sua mão e os liquidou, não é por ele não se importar com suas iniqüidades, ou não se ofender. O Senhor não se parece com eles, embora pensem que sim. A fúria de Deus arde contra eles, sua condenação não demora. O abismo está preparado, o fogo está pronto, a fornalha incandescente está ardendo, pronta para recebê-los. As chamas vermelhas queimam. A espada luminosa foi afiada e pesa sobre suas cabeças. O inferno abriu a sua boca debaixo deles.

5. O diabo está pronto a cair sobre os ímpios, para apoderar-se deles como coisa sua, no momento em que Deus o permitir. Eles lhe pertencem, suas almas encontram-se em seu poder e sob seu domínio. As Escrituras os apresentam como propriedade de satanás (Lc 11.21). Os demônios os espreitam, estão sempre ao seu lado, à sua direita, esperando por eles como leões esfaimados e enfurecidos que vêem a presa, aguardando a hora de agarrá-la, mas são restringidos por enquanto. Se Deus retirasse sua mão, a qual os refreia, eles cairiam sobre suas pobres almas num instante. A velha serpente está pronta a dar o bote. O inferno escancara sua boca para recebê-los. E se Deus permitisse, seriam rapidamente engolidos e consumidos.

6. Nas almas dos pecadores reinam aqueles princípios diabólicos que os faria arder agora mesmo no inferno, se não fosse a restrição imposta por Deus. Existe na própria natureza carnal do homem uma potencialidade alicerçando os tormentos do inferno. Há aqueles princípios corruptos que agem de maneira poderosa sobre eles, que só dominam completamente, e que são sementes do fogo do inferno. Esses princípios são ativos e poderosos, de natureza extremamente violenta, e se não fosse a mão restringidora do Senhor sobre eles, seriam logo destruídos. Iriam arder em chamas da mesma forma que a corrupção e a rebeldia fazem arder os corações das pessoas condenadas, gerando nelas os mesmos tormentos. As almas dos ímpios são comparadas nas Escrituras com o mar agitado (Is 57.20). Por enquanto Deus controla as iniqüidades deles pelo seu imenso poder, como faz com as ondas enfurecidas do mar, dizendo: "virão até aqui, mas não prosseguirão." Mas se Deus retirasse deles seu poder refreador, seriam todos tragados por elas. O pecado é a ruína e a miséria da alma. Ele é destrutivo pela própria natureza. E se Deus o deixasse sem controle, não seria preciso mais nada para tornar as almas humanas absolutamente miseráveis. A corrupção no coração do homem é algo cheio de fúria incontrolável e sem freio. Enquanto os pecadores viverem aqui, essa fúria será como fogo reprimido pelas restrições divinas. Ao passo que, se fosse liberada, incendiaria o curso natural da vida. E como o coração é um poço de pecado, este mesmo pecado iria imediatamente transformar a alma num forno incandescente ou numa fornalha de fogo e enxofre, caso não fosse restringido.

7. O fato de não haver sinais visíveis da morte por perto, não quer dizer que haja, por um momento, sequer segurança para os ímpios. O fato do homem natural ter boa saúde, de não prever que poderia deixar este mundo num minuto por um acidente, de não haver perigo visível à sua volta, nada disso lhe ser vê de segurança. Contínuas e inúmeras experiências humanas, em todas as épocas, nos mostram que não existem provas de que o homem não esteja à beira da eternidade, ou de que seu próximo passo não venha a ser no outro mundo. Os caminhos e meios, invisíveis e imprevistos, de chegar lá são incontáveis e inconcebíveis. Os homens não convertidos caminham por cima das profundezas do inferno, sobre uma superfície frágil onde existem varias áreas quebradiças, também invisíveis, as quais não conseguirão agüentar o seu peso. As flechas da morte voam ao meio-dia sem serem vistas. O olhar mais atento não pode distingui-las. Deus tem muitas maneiras diferentes e misteriosas de tirar os homens pecadores do mundo e despachá-los para o inferno. Não há nada que faça crer que o Senhor precise de ajuda de um milagre, ou que necessite se desviar do curso natural de sua providência para destruir qualquer pecador, a qualquer momento. Desde que todos os meios para fazer os ímpios deixarem este mundo estão de tal forma nas mãos de Deus, tão absoluta e universalmente sujeitos ao seu poder e determinação, segue-se que a ida dos pecadores para o inferno, a qualquer momento, depende simplesmente da vontade de Deus – quer usando meios ou não.

8. O cuidado e a prudência dos homens naturais em preservar suas vidas, ou o cuidado de terceiros em preservá-las, não lhes dá segurança por um momento sequer. A providência divina e a experiência humana testificam isso. Existem evidências claras de que a sabedoria dos homens não lhes é segurança contra a morte. Se não fosse assim, haveria uma diferença entre a morte prematura e inesperada de homens sábios e prudentes, e dos demais. Mas, o que realmente acontece? "Como morre o homem sábio? Assim como um tolo." (Ec 2.16).
9. Todo o esforço e artimanha dos ímpios para escaparem do inferno não os livram do mesmo, nem por um momento, pois continuam a rejeitar a Cristo, e portanto permanecem ímpios. Quase todos os homens naturais que ouvem falar do inferno alimentam a ilusão de que vão escapar dele. Quanto a sua própria segurança, confiam em si mesmos. Vangloriam-se do que fizeram, do que estão fazendo e do que pretendem fazer. Cada um traça seu próprio plano, pensa em evitar a condenação, e se vangloria e que irá tramar tão bem todas as coisas que seu esquema, com certeza, não falhará. Na verdade, eles ouvem dizer que poucos se salvam, e que a maior parte dos homens que já morreram foram para o inverno; mas cada um deles se imagina capaz de planejar melhor a própria fuga, do que os outros puderam fazer. Dentro de si mesmos dizem que não pretendem ir para esse lugar de tormento, e que pretendem tomar todo o cuidado necessário, esquematizando as coisas de tal forma na ao terem possibilidade de falhar.

Mas os insensatos filhos dos homens iludem-se miseravelmente quanto a seus próprios planos. A confiança que depositam na própria força e sabedoria é o mesmo que confiar na fragilidade de uma sombra. A maior parte daqueles que antes viveram debaixo da dispensação da graça, e agora estão mortos, sem dúvida alguma foram para o inferno. E não é por terem sido menos espertos do que os que ainda estão vivos, nem por terem planejado as coisas de tal forma que não lhes assegurou o escape. Se pudéssemos falar com eles, um a um, e perguntar-lhes se, quando vivos, esperavam ser vítimas de tamanha miséria, sem dúvida ouviríamos todos dizer: "Não, eu nunca pensei em vir para cá. Eu tinha esquematizado as coisas de maneira bem diferente. Pensei que iria conseguir algo melhor para mim, que meu plano era adequado. Pensei em me precaver melhor, mas tudo aconteceu de maneira tão repentina. Não esperava por isso naquela época, e nem daquela maneira. Mas tudo veio como um ladrão. A morte foi mais esperta que eu. A ira de Deus foi rápida demais para mim. Oh!, maldita insensatez! Eu me gabava, e me deleitava em sonhos vãos quanto ao que faria no futuro. E justamente quando eu mais falava de paz e segurança, me sobreveio uma súbita destruição."

10. Deus não se sujeita a nenhuma obrigação, nem a nenhuma promessa de manter o homem natural fora do inferno por um momento sequer. Ele não fez absolutamente nenhuma promessa de vida eterna, ou de libertação ou proteção da morte eterna, senão àquelas que estão contidas na aliança da graça – as promessas concedidas em Cristo, no qual todas as promessas são o sim e o amém. Mas obviamente os que não são filhos da aliança da graça não têm interesse na mesma, pois não crêem em nenhuma das suas promessas, e nem têm o menor interesse no Mediador dessa aliança.
Portanto, apesar de tudo que os homens possam imaginar ou pretender sobre promessas de salvação, devido suas lutas pessoais e buscas incessantes, deixamos claro e manifesto que qualquer desses esforços ou orações que se façam em relação à religião, será inútil. A não ser que creiam em Cristo, o Senhor, de modo nenhum Deus está obrigado a conservá-los fora da condenação eterna.
Então, os homens impenitentes estão detidos nas mãos de Deus por cima do abismo do inferno. Eles merecem o lago de fogo e para ele estão destinados. Deus se acha terrivelmente irritado. Seu furor para com eles é tão grande quanto para com aqueles que já estão agora sofrendo o suplício da fúria de sua ira no inferno. Esses ímpios não fizeram absolutamente nada para abrandar ou diminuir sua cólera, portanto o Senhor não está de modo algum preso a qualquer promessa de livramento, nem por um momento sequer. O diabo espera por eles, o inferno já escancarou a sua boca para tragá-los. O fogo latente em seus corações agrava-se agora querendo explodir. E como continuam sem o menor interesse no Mediador, não existem meios, ao alcance deles, que lhes possa dar segurança. Em suma, eles não têm refúgio e nada onde se segurar. O que os retém a cada instante é a absoluta boa vontade divina e a clemência sem compromisso, sem obrigação, de um Deus enraivecido.

Aplicação
Essa mensagem pode despertar as pessoas não convertidas para o significado do perigo que estão correndo. Isso que vocês escutaram é o caso de todo aquele que não está em Cristo. Esse mundo de tormento, isto é, o lago de enxofre incandescente, está aberto debaixo de vossos pés. Ali se encontra o terrível abismo de chamas que ardem com a fúria de Deus, e o inferno com sua imensa boca escancarada. E vocês não têm onde se apoiarem, nem coisa alguma onde se segurarem. Não existe nada entre vocês e o inferno, senão o ar, e só o poder e o favor de Deus podem vos suster.

Provavelmente vocês não têm consciência dessas coisas, acham que vão conseguir se livrar do inferno, e não vêem nisso tudo a mão de Deus. E olham as coisas ao seu redor, como o bom estado de vossa saúde física, os cuidados que tomam de vossas vidas, e os meios que usam para vossa própria preservação. Mas essas coisas não representam nada. Se Deus retirasse sua mal, elas de nada valeriam para impedir-vos a queda; elas valem tanto como a brisa tênue que tenta sustentar uma pessoa no ar.

Vossas iniqüidades vos fazem pesados como chumbo, pendentes para baixo, pressionados em direção ao inferno pelo próprio peso, e se Deus permitisse que caíssem vocês afundariam imediatamente, desceriam com a maior rapidez, e mergulhariam nesse abismo sem fundo. Vossa saúde, vossos cuidados e prudência, vossos melhores planos, toda a vossa retidão, de nada valeriam para sustentar-vos e conservar-vos fora do inferno. Seria como tentar segurar uma avalancha de pedras com uma teia de aranha. Se não fosse a misericórdia de Deus, a terra não suportaria vocês por um só momento, pois são uma carga para ela. A natureza geme por causa de vocês. A criação foi obrigada a se sujeitar à escravidão, involuntariamente, por causa da vossa corrupção. Não é com prazer que o sol brilha sobre vocês, para que sua luz vos alumie para pecarem e servirem a satanás. A terra não produz de bom grado os seus frutos para satisfazer vossa luxuria. Nem está disposta a servir de palco à exibição de vossas iniqüidades. Não é voluntariamente que o ar alimenta vossos corpos, mantendo viva a chama dos vossos corpos, enquanto vocês gastam a vida servindo os inimigos de Deus. As coisas criadas por Deus são boas e foram feitas para o homem, por meio delas, servisse ao Senhor. Não é com prazer que prestam serviço a outros propósitos, e gemem quando são ultrajadas ao servirem objetivos tão contrários à sua finalidade e natureza. E a própria terra vomitaria vocês se não fosse a mão soberana d'Aquele a quem vocês tanto tem ofendido. Eis aí as nuvens negras da ira de Deus pairando agora sobre vossas cabeças carregadas por uma tempestade ameaçadora, cheia de trovões. Não fosse a mão restringidora do Senhor, elas arrebentariam imediatamente sobre vocês. A misericórdia soberana de Deus, por enquanto, refreia esse vento impetuoso, do contrário ele sobreviria com fúria, vossa destruição ocorreria repentinamente, e vocês seriam como palha dispersada pelo vento.

A ira de Deus é como grandes águas represadas que crescem mais e mais, aumentam de volume, até que encontram uma saída. Quanto mais tempo a correnteza for reprimida, mais rápido e forte será o seu fluxo ao ser liberada. É verdade que até agora ainda não houve um julgamento por vossas obras más. A enchente da vingança de Deus encontra-se represada. Mas, por outro lado, vossa culpa cresce dava dez mais, e dia a dia vocês acumulam mais e mais ira contra si mesmos. As águas estão subindo continuamente, fazendo sua força aumentar mais e mais. Nada, a não ser a misericórdia de Deus, detém as águas, as quais não querem continuar represadas e forçam uma saída. Se Deus retirasse sua mão das comportas, elas se abririam imediatamente e o mar impetuoso da fúria e da ira de Deus iria se precipitar com furor inconcebível, e cairia sobre vocês com poder onipotente. E mesmo que vossa força fosse dez mil vezes maior do que é, sim, dez mil vezes maior do que a força do mais forte e vigoroso diabo do inferno, não valeria nada para resistir ou deter a ira divina.

O arco da ira de Deus já está preparado, e a flecha ajustada ao seu cordel. A justiça aponta a flecha para vosso coração, e estica o arco. E nada, senão a misericórdia de Deus – um Deus irado! – que não se compromete e a nada se obriga, impede que a flecha se embeba agora mesmo do vosso sangue. Assim estão todos vocês que nunca experimentaram uma transformação real em vossos corações pela ação poderosa do Espírito do Senhor em vossas almas – todos vocês que não nasceram de novo, nem foram feitos novas criaturas, ressurgindo da morte do pecado para um estado de luz, e para uma vida nova nunca experimentada antes. Por mais que vocês tenham modificado a conduta em muitas coisas, e tenham possuído simpatias religiosas, e até mantido uma forma pessoal de religião com vossas famílias e em particular, indo à casa do Senhor, sendo até severos quanto a isso, mesmo assim vocês estão nas mãos de um Deus irado. Somente sua misericórdia vos livra de ser, agora, neste momento, tragados pela destruição eterna. Por menos convencidos que vocês estejam agora quanto às verdades ouvidas, no porvir serão plenamente convencidos. Aqueles eu já se foram, e que estavam na mesma situação que a vossa, percebem que foi exatamente isso que lhes aconteceu, pois a destruição caiu de repente sobre muitos deles, quando menos esperavam, e quando mais afirmavam vier em paz e segurança. Agora eles vêem que aquelas coisas nas quais puseram sua confiança para obter paz e segurança eram nada mais que uma brisa ligeira e sombras vazias.

O Deus que vos mantém acima do abismo do inferno vos abomina; ele está terrivelmente irritado e seu furor contra vocês queima como fogo. Ele vê vocês como apenas dignos de serem lançados no fogo. E seus olhos são tão puros que não podem tolerar tal visão. Vocês são dez mil vezes mais abomináveis a seus olhos do que é a mais odiosa das serpentes venenosas para olhos humanos. Vocês o têm ofendido infinitamente mais do que qualquer rebelde obstinado ofenderia a um governante. No entanto, nada, a não ser a sua mão, pode impedir-vos de cair no fogo a qualquer momento. O fato de vocês não terem ido para o inferno a noite passada e de terem tido permissão para acordar ainda aqui neste mundo, depois de terem fechado os olhos ontem para dormir, atribui-se ao mesmo favor. Não existe outra razão porque vocês não foram lançados no inferno ao se levantarem pela manhã, a não ser o fato da mão de Deus ter-vos sustentado. E não existe outra razão porque vocês não caiam no inferno neste exato momento.

Oh!, pecador, pense no perigo terrível que se encontra! É sobre uma grande fornalha de furor, sobre um abismo imenso e sem fim, cheio do fogo da ira, que você está pendurado, seguro pela mão de Deus, cujo furor acha-se tão inflamado contra você, como contra muitas pessoas já condenadas no inferno. Você está suspenso por uma linha tênue, com as chamas da cólera divina lampejando à tua volta, prontas para atearem fogo e queimar-te por inteiro. E você continua sem interesse no Mediador, sem nada onde se agarrar para poder se salvar, nada que possa afastar as chamas da cólera divina, nada de teu próprio, nada que tenha feito ou possa vir a fazer, para persuadir o Senhor a poupar tua vida por um minuto sequer. Considere, então, mais detidamente, vários aspectos dessa cólera que te ameaça com tão grande perigo.

1. A quem pertence essa ira? É a ira do Deus infinito. Se fosse somente a ira humana, mesmo a do governante mais poderoso, comparativamente seria considerada como coisa pequena. A ira dos reis é bastante temida, principalmente dos monarcas absolutos, que possuem os bens e as vidas de seus súditos inteiramente sob o seu poder, para serem usados quando bem entenderem. "Como o bramido do leão é o terror do rei; o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida." (Pv 20.2). O súdito que enfurece este tipo de governante arbitrário, sofre os maiores tormentos que se possa conceber, ou que o poder humano possa infligir. Porém, os maiores principados da terra, em toda a sua grandeza, majestade e poder, mesmo revestidos de seus grandes terrores, não são mais do que vermes débeis e desprezíveis que rastejam no pó, quando comparados com o grande e todo-poderoso criador e rei dos céus e da terra. Mesmo quando estão enraivecidos e sua fúria chega ao máximo, é muito pouco o que podem fazer. Os reis da terra são, perante Deus, como gafanhotos. Valem menos que nada. Tanto o seu amor quanto o seu ódio são desprezíveis. A ira do grande Rei dos reis é muito mais terrível do que a deles, tal como é maior a sua majestade. "Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer". (Lc 12.4-5).

2. É à ferocidade de sua ira que vocês estão expostos. Lemos, com freqüência, sobre a ira de Deus, como por exemplo em Is 58.18. "Segundo as obras deles, assim retribuirá; furor aos seus adversários." E também em Is 66.15 "Porque, eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo." E assim é em muitos outros lugares da Bíblia. Lemos também em ap 19.15: "... o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso." Essas palavras são incrivelmente aterradoras. Se estivesse escrito apenas a "ira de Deus", isso já nos faria supor algo bastante temível. Mas está escrito "o furor da ira de Deus", ou seja, a fúria de Deus, o furor de Jeová! Oh!, quão terrível deve ser esse furor! Quem pode exprimir ou conceber o que essas palavras contêm? Mas não é apenas isso que está escrito, e sim "o furor da ira do Deus Todo-Poderoso." Essas palavras dão a entender que uma grande manifestação de seu poder onipotente vai acontecer. Através dela ele infligirá aos homens todo o furor de sua ira. Assim como os homens costumam manifestar sua própria força através do furor de sua ira, a onipotência divina irá, da mesma forma, se enfurecer e se manifestar. Então, qual será a conseqüência de tudo isso? O que será do pobre verme que vier a sofrer todo este mal? Que mão serão tão fortes, e que coração conseguirá suportar tanto furor? A que terrível, inexprimível, inconcebível abismo de miséria irá chegar a pobre criatura humana que será vítima disso tudo!
Pensem bem, vocês que estão aqui agora, e que permanecem em estado pecaminoso. O fato de Deus vir a efetivar o furor da sua ira, torna implícito que ele infligirá esse castigo sem compaixão. Quando Deus olhar a indescritível aflição do vosso estado, e vir como vossos tormentos são absolutamente desproporcionais à vossa força, e como vossas pobres almas estão esmagadas, imersas em trevas eternas, não terá compaixão de vocês, não ira deter a execução de sua ira, ou, de forma alguma, tornar mais leve sua mão. Nessa hora Deus não usará de misericórdia para com vocês, nem conterá seu vento impetuoso. Ele não terá consideração para com o vosso bem estar, e nem irá evitar que vocês sofram. Na verdade, fará com que sofram na medida exata que sua rigorosa justiça vier a requerer. Nada será modificado só pelo fato de ser difícil para vocês suportarem. "Pelo que também eu os tratarei com furor; os meus olhos não pouparão, nem terei piedade. Ainda que me gritem aos ouvidos em alta voz, nem assim os ouvirei." (Ez 8.18). Deus está pronto, agora, a usar de compaixão com vocês. Hoje é o dia da misericórdia. Vocês podem clamar neste instante, e ter esperanças de alcançar sua graça. Mas quando o dia da misericórdia passar, vosso lamento, o pranto mais doloroso, os gritos, serão em vão. No que diz respeito ao vosso bem estar, vocês estarão completamente perdidos e alienados de Deus. O Senhor não terá outra opção senão a de entregar-vos ao sofrimento e à miséria. E vocês continuarão não tendo outra perspectiva, pois serão vasos de ira, preparados para a destruição. Não haverá outro uso qualquer para tais vasos, senão o de enchê-los da ira de Deus. Quando clamarem ao Senhor, ele estará tão longe de consolar-vos que, inclusive, está escrito a este respeito que Deus irá, simplesmente, 'rir e zombar' de vocês (Pv 1.25-26).
Vejam quão terríveis são estas palavras do grande Senhor: "O lagar eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo." (Is 63.3). É quase impossível se conceber palavras que tragam em si uma manifestação maior destas três coisas: desprezo, ódio e fúria de indignação. Se clamarem a Deus por consolo, ele estará longe de querer vir consolar-vos, ou de querer demonstrar-vos interesse ou favor. Ao contrario, o Senhor simplesmente irá esmagar-vos sob seus pés. E apesar de saber que, ao pisotear-vos, vocês não poderão suportar o peso de sua onipotência, ainda assim ele não vai se importar, e irá esmagar-vos debaixo de seus pés, sem piedade, espremendo o vosso sangue e fazendo com que o mesmo espirre longe, manchando suas vestes, maculando seu traje. Ele não só irá odiar-vos, como devotará a vós o maior desprezo. Lugar algum será considerado próprio para vocês, a não ser debaixo de seus pés, para serem pisados como a lama das ruas.

3. A miséria a que vocês estão sujeitos é aquela que Deus vos infligirá, a fim de demonstrar a força da ira do Senhor, Deus tem em seu coração a intenção de mostrar aos anjos e aos homens, não só a excelência do seu amor, como a severidade de seu furor. Às vezes os governantes da terra resolvem mostrar a força de sua ira através de castigos extremos que mandam infligir sobre aqueles que os enfurecem. Nabucodonosor, o poderoso e arrogante rei do império dos caldeus, demonstrou seu furor quando, ao se irritar com Sadraque, Mesaque e Abdenego, ordenou que se acendesse a fornalha de fogo ardente sete vezes mais do que o normal. Como era de se esperar, a fornalha foi aquecida intensamente, até atingir o mais alto grau que poderia produzir. O grande Deus também quer revelar a sua ira, e exaltar sua tremenda majestade e grandioso poder através dos sofrimentos desmedidos de seus amigos. "Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos da ira, preparados para a perdição." (Romanos 9.22). E visto que esse é o seu desígnio e o que ele determinou, ou seja, mostrar quão terrível e ilimitada é a ira, a fúria e a indignação do Senhor, ele o mostrará realmente. Será realizado algo horrendo, muito terrível. Quando o grande e furioso Deus tiver se levantado e executado sua terrível vingança sobre o mísero pecador, e o desgraçado estiver sofrendo o peso e o poder infinito de sua indignação, então Deus chamará o universo inteiro para contemplar a imensa majestade e o tremendo poder que nele existe. "Os povos serão queimados como se queima a cal, como espinhos cortados arderão no fogo." "Ouvi vós os que estais longe, o que tenho feito; e vós, que estais perto, reconhecei o meu poder. Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?" (Isaías 33.12-14).
Assim será com vocês que não são convertidos, se permanecerem neste estado. O poder infinito, a majestade e a grandiosidade do Deus onipotente serão exaltados em vocês através da inexprimível força dos tormentos que vos sobrevirão. Vocês serão atormentados na presença dos santos anjos e na presença do Cordeiro. E quando estiverem nesse estado de sofrimento, os gloriosos habitantes do céu sairão para contemplar esse espetáculo horrendo, e verão como é a fúria do Todo-poderoso. E quando virem todas essas coisas, se prostrarão e adorarão seu grande poder e majestade. "E será que de uma lua nova à outra, e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor. Eles sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne." (Isaías 66.23-24).

4. É uma ira eterna. Já seria algo terrível sobre o furor e a cólera do Deus Todo-poderoso por um momento. Mas vocês terão de sofrê-la por toda a eternidade. Essa intensa e horrenda miséria não terá fim. Ao olhar para o futuro, vocês verão à frente uma interminável eternidade, de duração infinita, que irá devorar vossos pensamentos e assombrar vossas almas. E vocês irão se desesperar, com certeza, por não conseguirem nenhum livramento, termo, alívio ou descanso para tanta dor. Saberão também, que terão de sofrer até à última gota por longos séculos, por milhões e milhões de anos, lutando e pelejando contra essa vingança inclemente e todo-poderosa. Então, depois de passar por tudo isso, quando tantos séculos vos tiverem consumido, saberão que tudo não passa apenas de uma gota d'água quando comparado ao que ainda resta. Portanto, vosso castigo será, com certeza, infinito. Oh!, quem poderia exprimir o estado de uma alma em tais circunstâncias? Tudo o que pudermos dizer sobre o assunto, vai nos dar, apenas, uma débil e frágil visão da realidade. Ela é inexprimível, inconcebível, pois "Quem conhece o poder da ira de Deus?"
Que horrendo é o estado daqueles que diariamente, a cada hora, se encontram em perigo de sofrer tamanha ira e infinita miséria! Mas esse é o caso sinistro de toda alma que ainda não nasceu de novo, por mais moral, austera, sóbria e religiosa que seja. Queira Deus vocês pensassem em todas essas coisas, sejam jovens ou velhos. Há razões de sobra para acreditar que muitos daqueles que ouviram o evangelho certamente estarão expostos a esse tormento por toda a eternidade. Não sabemos quem são eles, nem o que pensam. Pode ser que estejam tranqüilos agora, escutando esta mensagem sem se perturbarem muito, e que estejam até se gabando de que, no caso deles, conseguirão escapar. Se soubéssemos que dentre os nossos conhecidos existe uma pessoa, uma só, sujeita a sofrer tal tormento como seria doloroso para nós encarar o assunto. Se conhecêssemos essa pessoa, sempre que a víssemos uma tal visão seria terrível para nós. Iríamos todos levantar grande choro, e prantear por sua causa. Mas, infelizmente, em vez de uma pessoa só, é provável que muitos se lembrem destas exortações somente no inferno! E inúmeras pessoas podem estar no inferno em breve tempo, antes mesmo do ano terminar. E aqueles que estão agora com saúde, tranqüilos e seguros, podem chegar lá antes do amanhecer. Todos os que dentre vocês continuarem até o fim em estado natural pecaminoso, e que conseguirem ficar fora do inferno por mais tempo, estarão lá também em breve. Sua condenação não tardará; virá de súbito, e provavelmente para muitos de vocês, de maneira repentina. Vocês têm toda razão em se admirarem de não estar ainda no inferno. É ocaso, por exemplo, de alguns conhecidos seus, que não mereciam o inferno mais do que vocês e que antes aparentavam ter possibilidade de estarem vivos agora tanto quanto vocês. Para o caso deles já não há esperança. Estão clamando lá em extrema penúria e perfeito desespero. Mas aqui estão vocês, na terra dos vivos, cercados pelos meios de graça, tendo a grande oportunidade de obter a salvação. O que não dariam aquelas pobres almas condenadas, desesperadas, pela oportunidade de viver mais um só dia, como que vocês desfrutam neste momento!
E agora vocês têm uma excelente ocasião. Hoje é o dia em que Cristo abre as portas da misericórdia de par em par, e se coloca de pé clamando e chamando em alta voz aos pobres pecadores. Este é o dia em que muitos estão se reunindo a ele, se apressando em chegar ao reino de Deus. Inúmeros estão vindo diariamente do norte, sul, leste e oeste. Muitos que estavam até bem pouco tempo nas mesmas condições miseráveis que vocês estão felizes agora, com os corações cheios de amor por Aquele que os amou primeiro, e os lavou de seus pecados com seu próprio sangue, regozijando-se na esperança de ver a glória de Deus. Como é terrível ser deixado para trás num dia assim! Ver os outros se banqueteando, enquanto vocês estão penando e se definhando! Ver os outros se regozijando e cantando com alegria no coração, enquanto vocês só têm motivos para prantear por causa do sofrimento de seus corações, e de lamentar por causa das aflições e vossas almas! Como podem vocês descansar por um momento sequer em tal estado de alma? Será que vossas almas não são tão preciosas como as almas daqueles que, dia a dia, estão se juntando ao rebanho de Cristo?
Não existem, porventura, muitos que, apesar de estarem há longo tempo neste mundo, até hoje não nasceram de novo, e por isso são estranhos à comunidade de Israel, e nada têm feito durante a vida, a não ser acumular ira sobre ira para o dia do castigo? Oh! senhores, o caso de vocês é, sem dúvida, extremamente perigoso. A dureza de vossos corações e a vossa culpa são imensas. Acaso vocês não vêem como geralmente pessoas de vossa idade são deixadas para trás na dispensação da misericórdia de Deus? Vocês precisam refletir e despertar de vosso sono, pois jamais poderão suportar a fúria e a ira do Deus infinito. E vocês que são rapazes e moças, irão negligenciar este tempo precioso que desfrutam agora, quando tantos outros jovens de vossa idade estão renunciando às futilidades da juventude e acorrendo céleres a Cristo? Vocês têm neste momento uma oportunidade, mas se a desprezarem, sucederá o mesmo que agora está acontecendo com todos aqueles que gastaram em pecado os dias mais preciosos de sua mocidade, chegando a uma terrível situação de cegueira e insensibilidade. E vocês crianças, que não se converteram ainda, não sabem que estão indo para o inferno onde sofrerão a horrenda ira daquele Deus que agora está encolerizado contra vocês dia e noite? Será que vocês ficarão felizes em ser filhos do diabo, quando tantas outras já se converteram e se tornaram filhos santos e alegres do Rei dos reis?
Queira Deus todos aqueles que ainda estão fora de Cristo, pendentes sobre o abismo do inferno, quer sejam senhoras e senhores idosos, ou pessoas de meia idade, quer jovens ou crianças, que possam dar ouvidos agora aos chamados da Palavra e da providência de Deus. Este ano aceitável do Senhor que é um dia de grandes misericórdias para alguns, sem dúvida será um dia de extremo castigo para outros. Quando negligenciam suas almas os corações dos homens se endurece, e a sua culpa aumenta rapidamente. Podem estar certos, porém, que agora será como foi nos dias de João Batista. O machado está posto à raiz das árvores; e toda árvore que não produz fruto, deve ser cortada e lançada no fogo.
Portanto, todo aquele que está fora de Cristo, desperte e fuja da ira vindoura. A ira do Deus Todo-poderoso paira agora sobre todos os pecadores. Que cada um fuja de Sodoma: " Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças ."
“E assim, conhecendo o temor do Senhor, persuadimos aos homens”. “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”. (II Coríntios 5.11-20; 6.2). “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” . (Isaías 55.6-7). Amém.

Fonte : www.monergismo.com / Editora PES