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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Como tirar o máximo da sua leitura Bíblica

Por
Thomas Watson (1620-1686)


01) Remova obstáculos:
a) remova o amor por cada pecado;
b) remova as distrações concernentes a este mundo, especialmente a cobiça (Mt. 13:22);
c) não brinque com e sobre a Escritura.

02) Prepare seu coração (1 Sm. 7:3)
a) reunindo seus pensamentos;
b) purificando sentimentos e desejos impuros;
c) não achegando-se a ela apressada ou descuidadamente.

03) Leia-a com reverência, considerando que em cada linha Deus está falando diretamente para você.

04) Leia os livros da Bíblia por ordem.

05) Adquira verdadeiro entendimento da Escritura (SI. 119:73). O melhor meio de conseguir isto é através da comparação de partes relevantes das Escrituras, umas com as outras.

06) Leia-a com seriedade (Dt. 32:47). A vida cristã é para ser levada a sério, visto que isto exige esforço (Lc. 13: 24) e não falhar (Hb. 4:1).

7) Persevere em lembrar o que você leu (Sl. 119: 52). Não permita que seja roubado de você (Mt. 13: 4, 19). Se ela não permanecer na sua memória, é improvável que seja de muito proveito para você.

8) Medite no que você lê (SI. 119:15 ). A palavra hebraica para meditar, significa "ser intenso de mente". Meditação sem leitura é errado e um pulo para o engano; ler sem meditar é infrutífero e sem proveito. Significa avivar os sentimentos, ser aquecido pelo fogo da meditação (SI. 39: 3).

9) Leia-a com um coração humilde. Reconheça que você é indigno para que Deus revele a Si mesmo a você (Tg. 4:6).

10) Creia que toda ela é a Santa Palavra de Deus (2 Tm. 3:16). Sabemos que nenhum pecador poderia ter escrito, por causa do modo que ela descreve o pecado. Nenhum santo blasfemaria de Deus pretendendo ser sua, a Palavra de Deus. Nenhum anjo poderia a ter escrito pela mesma razão (Hb. 4: 2).

11 ) Tenha em alta estima a Bíblia (SI. 119:72). Ela é sua corda para salvação; você nasceu através dela (Tg. 1 : 18) e precisa crescer por ela ( 1 Pd. 2: 22; Jó. 23:12).

12) Ame a Bíblia ardentemente (SI. 119:159).

13) Leia-a com um coração honesto (Lc. 8:15):
a) desejando conhecer toda e completa vontade de Deus;
b) lendo com o objetivo de ser mudado e feito melhor, por ela (Jo. 17:17).

14) Aplique a si mesmo tudo o que ler, tomando cada palavra como sendo falada para você. A condenação que ela faz do pecado, como sendo a condenação dos seus pecados; os deveres que ela requer, como sendo o dever que Deus requer de você (2 Rs. 22: 11 ).

15) Preste cuidadosa atenção aos mandamentos da Palavra, tanto quanto nas promessas. Pense em quanto você precisa de direção, tanto quanto de conforto.

16) Não se deixe levar por detalhes menores, antes certifique-se de atentar para as grandes coisas (Os. 8:12).

17) Compare-se com a Palavra. Como você se compara? Seu coração é algo daquilo que é transcrito dele, ou não?

18) Preste especial atenção àquelas passagens que falam para sua individual, particular e presente situação:
a) aflição (Hb. 12:7, Is. 27:9, Jo, 16:20, 2 Co. 4:17);
b) senso da presença de Cristo e indignação (Is. 54:8, Is. 57:16, SI. 97:11);
c) pecado (GI. 5:24; Tg. 1:15, 1 Pd. 2:11, Pv. 7:10 e 22-23, Pv.22:14);
d) incredulidade (Is. 26:3, 2 Sm. 22: 31, Jo. 3:15, 1 Jo. 5:10, Jo. 3:36).

19) Preste especial atenção para os exemplos e vidas das pessoas na Bíblia, como sermões vivos:
a) punições (Nabucodonosor, Herodes, Nm. 25: 3-4, 9; 1 Rs. 14: 9-10; At. 5:5,10; 1 Co.10: 11; Jd. 7);
b) misericórdia e libertação (Daniel, Jeremias, e os três jovens na fornalha ardente)

20) Não pare de ler a Bíblia até que ache seu coração aquecido (SI. 119:93). Deixe que ela não apenas lhe informe, mas também lhe inflame (Jr. 23:29, Lc. 24:32).

21 ) Ponha em prática o que você lê (SI. 119:66; SI. 119:105, Dt, 17:19).

22) Cristo é para nós Profeta, Sacerdote e Rei. Use Seu ofício de Profeta (Ap. 5:5, Jo. 8:12, SI. 119:102-103). Permita que Cristo não só abra as Escrituras diante de você, mas abra diante de sua mente e entendimento (Lc. 24:45).

23) Certifique-se de colocar-se sob os cuidados de um verdadeiro ministro da Palavra, que exponha a palavra fiel e completamente (Pv. 8:34); seja zeloso e ávido em atender seu ofício.

24) Ore para que você tire proveito da Ieitura (Is. 48:17, SI. 119:18; Ne. 9:20).

Você pode ultrapassar obstáculos naturais da leitura mesmo quando:

1) Você não pareça tirar proveito tanto quanto outros. Lembre-se da produção diferente (Mt. 13:8); embora a produção não seja tanto quanto a dos outros, ainda assim é produção verdadeira e vantajosa.

2) Você pode se sentir lento de entendimento (Lc. 9:45, Hb. 5:11);

3) Sua memória é má.
a) lembre-se que você ainda está apto a ter um coração bom, a despeito disto;
b) você ainda pode lembrar-se das coisas mais importantes, mesmo que não possa lembrar-se de tudo. Seja encorajado por Jo. 14:26.
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Abreviado e modernizado por Matthew Vogan
Tradução Livre para a Língua Portuguesa

Fonte : www.monergismo.net.br

sábado, 12 de outubro de 2013

"Deixem Deus ser Deus" : A predestinação segundo Lutero


por
Timothy George

O problema da predestinação é levantado pela especificidade da tradição judeu-cristã: o fato de que Deus revelou-se exclusivamente num povo, Israel, e supremamente num homem, Jesus de Nazaré. Jesus, assim como Paulo, falou dos “eleitos” e dos “poucos escolhidos”. A tensão entre a livre eleição de Deus e a resposta humana genuína está presente já nos documentos do Novo Testamento. Entretanto, Agostinho, em sua luta clássica com Pelágio, foi quem primeiramente desenvolveu uma doutrina madura da predestinação.

Para Pelágio, a salvação era uma recompensa, o resultado das boas obras livremente realizadas pelos seres humanos. A graça não era algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça estava presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça era simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, via um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escolher corretamente, Agostinho entendia a salvação como a livre e surpreendente dadiva de Deus: “Atribuo à tua graça e misericórdia, porque dissolveste meus pecados como se fossem gelo”. Se, entretanto, a fonte de nossa conversão a Deus reside não em nós mesmos, mas somente no bom prazer de Deus, por que alguns reagem positivamente ao Evangelho, enquanto outros o desprezam? Essa pergunta levou Agostinho à discussão paulina da eleição, exposta em Romanos 9-11. Aqui ele encontra a base para sua própria doutrina “cruel” da predestinação: da massa da humanidade decaída, Deus escolhe alguns para a vida eterna e omite outros que estão, assim, destinados à destruição, e tal decisão é feita independentemente de obras ou méritos humanos.
Durante os mil anos transcorridos entre Agostinho e Lutero, a principal corrente da teologia medieval dedicou-se a dissolver o severo predestinacionismo daquele. É verdade que Pelágio fora condenado no Concílio de Éfeso (431), e o semipelagianismo, a saber, a visão de que ao menos o inicio da fé, o primeiro voltar-se para Deus, era resultado do livre-arbítrio, foi rejeitado pelo II Concílio de Orange (529). Contudo, a maioria dos teólogos, tentou modificar a doutrina de Agostinho, enfraquecendo a base da predestinação. Alexandre de Hales recorreu ao principio da eqüidade divina: “Deus relaciona-se de igual para igual com todos”. Outros afirmavam que a predestinação era subordinada ao conhecimento prévio, ou seja, Deus elege aqueles que sabe com antecedência que receberão méritos de seu próprio livre-arbítrio. Nenhuma dessas teorias da salvação era “puramente” pelagiana, porque todas requeriam a assistência da graça divina. Ainda assim, o fator crucial continuava sendo a decisão humana de responder positivamente a Deus, em lugar da livre e desacorrentada decisão de Deus de escolher quem desejasse.

Vimos como a doutrina da justificação sustentada por Lutero rompeu decisivamente com o modelo agostiniano de distribuição progressiva da graça. Somos justificados não porque Deus nos está tornando gradualmente justos, mas porque fomos declarados justos com base no sacrifício expiatório de Cristo. Contudo, a partir do princípio anterior da sola gratia , Lutero – e Zuínglio e Calvino depois dele – permanece firme com Agostinho contra os “pelagianos” posteriores que exaltam o livre-arbítrio humano à custa da livre graça de Deus. Nesse aspecto, a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma “aguda agostinianização do cristianismo”. Alguns historiadores consideram a doutrina da predestinação de Lutero uma aberração de seus temas principais ou, na melhor das hipóteses, “um pensamento meramente auxiliar”. Mas Lutero via o assunto de maneira diferente. Respondendo ao ataque de Erasmo a essa doutrina, Lutero elogiou o humanista por não aborrecê-lo com questões insignificantes como o papado, o purgatório ou as indulgências. “Apenas você”, ele disse, “atacou a questão verdadeira, isso é, a questão inicial [...] Apenas você percebeu o eixo ao redor do qual tudo gira, e apontou para o alvo vital.”

Uma das queixas de Lutero contra os “teólogos-porcos” era a tese deles de que a vontade humana, em sua própria volição, poderia realmente amar a Deus sobre todas as coisas, ou que, ao fazer seu melhor, mesmo à parte da graça, alguém poderia obter certa permanência perante Deus. A essa avaliação otimista do potencial humano, Lutero opôs um duro contraste entre natureza e graça. “A graça coloca a Deus no lugar de tudo o mais que ela vê, e o prefere a si mesma, mas a natureza coloca a si mesma no lugar de tudo, e mesmo no lugar de Deus, e busca apenas o que lhe é próprio e não o que é de Deus”. Como “natureza” Lutero não queria dizer simplesmente o reino criado, mas sim o reino criado decaído e particularmente, a vontade humana decaída, que esta “curvada sobre si mesma” ( incurvatus in se ), “escravizada” e manchada com o mal em todas as suas ações. Na Disputa de Heidelberg, em 1518, Lutero defendeu a tese: “Depois da queda, o livre-arbítrio existe apenas nominalmente, e, enquanto, alguém ´faz o que está em si´, está cometendo um pecado mortal”. Inclui-se essa formulação na bula Exsurge Domine , pela qual o Papa Leão X excomungou Lutero, em 1520.

Então, será que Lutero era um determinista absoluto? Erasmo e alguns estudiosos pensavam assim. Lutero, de fato, aproximou-se perigosamente de linguagem necessitariana. Todavia, ele nunca negou que o livre-arbítrio mantém seu poder em assuntos que não se relacionam com a salvação. Assim, Lutero disse a Erasmo: “Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que seja livre nas coisas de Deus é demais”. Lutero admitiu abertamente que mesmo uma vontade escravizada “não é um nada”, que, com respeito àquelas coisas “inferiores” a ela, a vontade mantém seu poder total. É apenas com respeito àquilo que é “superior” a ela que a vontade é mantida presa em seus pecados e não pode escolher o bem de acordo com Deus. Aqui, encontramos um paralelo ao desprezo de Lutero para com a razão. Em sua esfera legítima, a razão é o mais elevado dom de Deus, mas no momento em que excede para a teologia, torna-se a “prostituta do diabo”. O mesmo se dá com o livre-arbítrio. Entendido como a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, para cumprir as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece intacto. O que ele não pode fazer é realizar a própria salvação. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido pelo pecado e cativo a Satanás.

Lutero descreveu a natureza dessa escravidão sob o aspecto de uma luta entre Deus e Satanás.
Assim, a vontade é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer. [...] Se Satanás o monta, ele quer ir e vai aonde Satanás quer; ele não pode escolher correr para um deles ou seguir a um deles, mas os próprios cavaleiros brigam pela posse e controle dele.
Mesmo tendo alguns estudiosos encontrado traços de um dualismo maniqueísta nessa metáfora, Lutero estava meramente desenvolvendo uma imagem já apresentada por Jesus: “...todo o que comete pecado é escravo do pecado” e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos...” (Jo 8.34,44). Há outro ponto que Lutero desenvolveu com respeito à vontade escravizada. Embora nosso destino eterno, em certo sentido, seja determinado por Deus, não somos com isso compelidos a pecar. Pecamos espontânea e voluntariamente. Continuamos querendo e desejando fazer o mal, a despeito do fato de que em nossas próprias forcas não podemos fazer nada para alterar essa condição. Essa é tragédia da existência humana sem a graça: estamos tão curvados sobre nós mesmos que, pensando estar livres, entregamo-nos exatamente àquelas coisas que apenas aumentam nossa escravidão.

O propósito da graça é libertar-nos da ilusão da liberdade, que é na verdade escravidão, e guiar-nos para a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Só quando a vontade recebeu a graça, ou, para usar sua outra metáfora, só quando Satanás é vencido por um cavaleiro mais forte, “é que o poder da decisão torna-se realmente livre, em todos os aspectos concernentes à salvação”. A verdadeira intenção por trás do reforço de Lutero à vontade escravizada mostra-se óbvia agora. Deus deseja que possamos ser verdadeiramente livres em nosso amor para com ele; contudo, isso não é possível até que sejamos libertos de nosso cativeiro a Satanás e ao ego. O eco de resposta à escravidão da vontade é a liberdade do cristão .
Visto que, fora da graça, o homem não possui nem uma razão sã, nem uma vontade boa, “a única preparação infalível para a graça [...] é a eleição eterna e a predestinação de Deus”. Lutero não se esquivou de uma doutrina de predestinação absoluta e dupla, ainda que admitisse que “isso é um vinho muito forte e comida substancial para os fortes”. Ele até restringiu o alcance da expiação aos eleitos: “Cristo não morreu por todos absolutamente”. Contra a objeção de que tal visão transformava Deus num ogro arbitrário, Lutero respondeu – como Paulo – “Deus assim o quer, e porque ele o quer, isso não é perverso”. A “prudência da carne” diz que “é cruel e miserável Deus buscar sua glória em minha maldade. Ouça a voz da carne! ´Meu, minha´, diz ela! Lance fora esse ´meu´ e diga, em lugar disso ´Glória a ti, Senhor´, e você será salvo”. A postura da razão é sempre de egocentrismo. Deus é apenas tão “injusto”, falando estritamente, ao justificar os ímpios à parte de seus méritos, quanto o é ao rejeitar outros à parte de seus deméritos. Ainda assim, ninguém reclama da primeira “injustiça”, porque o interesse pessoal está em jogo! Em ambos os casos, Deus é injusto pelos padrões humanos, mas justo e verdadeiro pelos seus. Lutero recusou-se a submeter Deus ao tribunal da justiça humana como se a “Majestade, que é o criador de todas as coisas, tivesse de curvar-se a uma das escórias de sua criação”. “Deixem Deus ser bom”, clamava Erasmo, o moralista. “Deixem Deus ser Deus”, replicava Lutero, o teólogo.

Embora Lutero nunca tenha suavizado sua doutrina da predestinação (como fizeram posteriormente os luteranos), ele de fato tentou estabelecer o mistério no contexto da eternidade. Lutero nunca admitiu que os inescrutáveis julgamentos de Deus eram realmente injustos, mas sim que somos incapazes de apreender o quanto são justos. Há, segundo ele, três luzes – a luz da natureza, a luz da graça e a luz da glória. Pela luz da graça, tornamo-nos capazes de entender muitos problemas que pareciam insolúveis pela luz da natureza. Mesmo assim, na luz da glória, os retos julgamentos de Deus – incompreensíveis para nós agora, mesmo pela luz da graça – serão abertamente manifestos. Lutero, então, apelava para a reivindicação escatológica da decisão de Deus na eleição. A resposta ao enigma da predestinação encontra-se no caráter oculto de Deus, por trás e além de sua revelação. No final, quando tivermos prosseguido através das “luzes” da natureza e da graça para a luz da glória, o “Deus escondido” se mostrará um só como o Deus que está revelado em Jesus Cristo e proclamado no Evangelho. Nesse ínterim, Lutero admitiu, podemos apenas acreditar nisso. A predestinação, como a justificação, é também sola fide.

Ninguém conhecia melhor do que Lutero a angústia que o duvidar da própria eleição podia provocar numa alma vacilante. Como um pastor poderia responder a alguém que estivesse atormentado por esse problema? Lutero deu duas respostas a essa questão, uma para o cristão forte, a outra para o mais fraco ou para o novo convertido. A mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”. A resignação com o inferno era tema popular na tradição mística e significava passividade absoluta, um total deixar-se perder ( Gelassenheit ) ante o abismo do ser de Deus. Lutero dizia que Deus dispensava esse dom aos eleitos de maneira breve e escassa, quase sempre na hora da morte.
Mais, comumente Lutero era chamado a aconselhar cristãos comuns que estavam atormentados pela questão da eleição. O conselho básico de Lutero era: “Agradeça a Deus por seus tormentos!”. É característico dos eleitos, não dos réprobos, tremer em face dos desígnios ocultos de Deus. Além disso, ele instava por uma completa refutação do diabo e uma contemplação de Cristo. Foi típica sua resposta a Bárbara Lisskirchen, que estava aflita sentindo não se encontrar entre os eleitos:

“Quando tais pensamentos a assaltam, você deve aprender a perguntar a si mesma: “Por favor, em que mandamento está escrito que eu deva pensar sobre esse assunto e lidar com ele?”. Quando parecer que não há tal mandamento, aprenda a dizer: “Saia daqui, maldito diabo! Você está tentando fazer com que eu me preocupe comigo mesma. Meu Deus declara em todos os lugares que eu devo deixá-lo tomar conta de mim [...]”. A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deixe que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.

A doutrina da predestinação defendida por Lutero não era motivada por interesses especulativos ou metafísicos. Era uma janela para a vontade graciosa de Deus, que se ligou livremente à humanidade em Jesus Cristo. A predestinação, como a natureza do próprio Deus, só pode ser atingida mediante a cruz, mediante as “feridas de Jesus”, às quais Staupitz havia dirigido o jovem Lutero em suas primeiras batalhas.

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Fonte: www.monergismo.net.br / GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. 1ª Edição. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999. pp. 74-80.