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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Grande é o mistério da piedade : Deus se manifestou em carne (1 Tm 3:16)

Por
João Calvino (1509-1564)

Aqui temos uma maior expansão de louvor. Para impedir que a verdade de Deus seja estimada abaixo de seu real valor, em decorrência da ingratidão humana, o apóstolo declara seu genuíno valor, dizendo que o segredo da piedade é imensurável, visto que ele não trata de temas triviais, e, sim, da revelação do Filho de Deus, em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria [Cl 2.3]. A luz da imensidão dessas coisas, os pastores devem entender a importância de seu ofício e devotar-se a ele com a mais profunda consciência e reverência.

Deus se manifestou em carne. A Vulgata exclui a palavra 'Deus' e relaciona o que se segue com o mistério; mas isso é devido à. falta de perícia e conformidade, como se verá claramente à luz de uma leitura atenciosa; e ainda que ela conte com o apoio de Erasmo, este destrói a autoridade de sua própria tradução, de modo que a mesma dispensa qualquer refutação de minha parte. Todos os manuscritos gregos, indubitavelmente, concordam com a tradução: "Deus se manifestou em carne." Mas, mesmo presumindo que Paulo não houvesse expressamente escrito a palavra Deus, quem quer que considere todo o assunto com cuidado concordará que se deve pôr a palavra Cristo. No que me toca, não tenho dificuldade alguma em seguir o texto grego aceito. E óbvia sua razão para denominar a manifestação de Cristo, a qual agora passa a descrever, de 'grande mistério', porque esta é a altura, a largura, o comprimento e a profundidade da sabedoria que ele menciona em Efésios 3. 18, e pelo quê nossas faculdades são inevitavelmente subjugadas.

Examinemos agora as diferentes cláusulas deste versículo em sua ordem. A descrição mais adequada da pessoa de Cristo está contida nas palavras "Deus se manifestou em carne". Em primeiro lugar, temos aqui uma afirmação distinta de ambas as naturezas, pois o apóstolo declara que Cristo é ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em segundo lugar, ele põe em evidência a distinção entre as duas naturezas, pois primeiramente o denomina de Deus, e em seguida declara sua manifestação em carne. E, em terceiro lugar, ele assevera a unidade de sua Pessoa, ao declarar que ela era uma e mesma Pessoa que era Deus e que se manifestou em carne. Nesta única frase, a fé genuína e ortodoxa é poderosamente armada contra Ario, Marcião, Nestório e Eutico. Há forte ênfase no contraste das duas palavras: Deus e carne. A diferença entre Deus e o homem é imensa, e todavia em Cristo vemos a glória infinita de Deus unida à nossa carne poluída, de tal sorte que ambas se tornaram uma só [videmusin Christoconiunctam curnhac nostra carnisputredine, ut unum efficiant].

Justificado no espírito. Como o Filho de Deus a si mesmo se esvaziou ao tomar para si nossa carne [Fp 2.7], assim também manifestou-se nele um poder espiritual que testificou que ele era Deus. Esta passagem tem sido interpretada de diferentes formas, mas fico satisfeito em explicar a intenção do apóstolo como a entendo sem adicionar nada mais. Em primeiro lugar, a justificação, aqui, significa um reconhecimento do poder divino, como no Salmo 19.9, onde se diz que os juízos de Deus são justificados, ou seja, maravilhosa e completamente perfeitos. Note-se também o Salmo 51.4, onde se diz que Deus é justificado, significando que o louvor de sua justiça se exibe claramente. Assim também em Mateus 11.19 e Lucas 7.35, onde Cristo diz que a sabedoria é justificada por seus filhos, significando que neles o valor da sabedoria se evidencia. Além do mais, em Lucas 7.29 se diz que os publicanos justificavam a Deus, significando que na devida reverência e gratidão reconheciam a graça de Deus que discerniam em Cristo. Portanto, o que lemos aqui tem o mesmo sentido se Paulo dissesse que aquele que se manifestou vestido de carne humana foi declarado ao mesmo tempo ser o Filho de Deus, de modo que a fragilidade da carne de forma alguma denegriu sua glória.

A palavra 'Espírito' ele inclui tudo o que em Cristo era divino e superior ao homem; e isso ele o faz por duas razões. Primeira, visto que Cristo fora humilhado na carne, Paulo agora contrasta o Espírito com a carne, ao exibir nitidamente sua glória. Segunda, a glória, digna do unigênito Filho de Deus, que João afirma ter visto em Cristo [Jo 1.14], não consistia de uma manifestação externa ou de esplendor terreno, senão que era quase totalmente espiritual. A mesma forma de expressão é usada no primeiro capítulo de Romanos [1.3,4]: "o qual, segundo a carne, veio da descendência de Abraão e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor"; mas com esta diferença, ou seja, que nesta passagem ele menciona uma manifestação especial de sua glória, a saber, a ressurreição.

Visto pelos anjos, proclamado às nações. Todas essas afirmações são maravilhosas e espantosas, ou seja: que Deus se dignou conferir aos gentios - o que até então havia sido vago e incerto ante a cegueira de suas mentes - a revelação de seu Filho que estivera oculto dos próprios anjos celestiais! Porque, dizer que ele foi visto pelos anjos significa que essa foi uma visão que, por sua novidade e excelência, atraiu a atenção dos anjos. Quão singular e extraordinária foi a vocação dos gentios é algo que já explicamos na exposição de Efésios 2. Nem causa estranheza que a mesma tenha atraído a visão dos anjos, porque, ainda que tivessem conhecimento da redenção da humanidade, afinal não sabiam como seria ela realizada, e teria sido oculta deles com o fim de que a grandeza da benevolência divina pudesse ser contemplada por eles com admiração mais intensa.

Crido no mundo. E espantoso, acima de tudo, que Deus haja concedido igual participação de sua revelação aos gentios profanos e aos anjos que eram a eterna herança de seu reino. Mas essa poderosa eficácia do evangelho proclamado pelo qual Cristo venceu todos os obstáculos e introduziu à obediência da fé os que pareciam completamente incapazes de ser subjugados, não era de forma alguma um milagre comum. Certamente, nada parecia ser mais improvável, tão com-pletamente fechada e selada estava a entrada. Não obstante, por meio de uma vitória quase incrível, a fé venceu.

Finalmente, o apóstolo diz que ele foi recebido na glória, ou seja, depois desta vida mortal e miserável. Portanto, quer no mundo, pela obediência de fé, quer na pessoa de Cristo, uma maravilhosa mudança se operou, pois ele foi exaltado do execrável estado de servo à gloriosa destra do Pai, para que todo joelho se dobre diante dele.

Fonte : www.ocalvinista.com

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Novas revelações ?

por
João Calvino

Fonte : www.ocalvinista.com

Aqueles que negligenciam as Escrituras, e procuram revelações novas, transtornam todos os princípios da piedade.
Certos homens tolos surgiram recentemente, os quais orgulhosamente fingem ser guiados pelo Espírito e desprezam a simplicidade daqueles que ainda se apegam à “letra morta – letra que mata”. Gostaria que me dissessem qual é o espírito cujo sopro os leva a uma altura tão estonteante para que ousem menosprezar a doutrina das Escrituras como sendo infantil e desprezível.

Se responderem que é o Espírito de Cristo, quão absurda é a presunção! Eles mesmos devem reconhecer que os apóstolos e os crentes primitivos foram iluminados por aquele Espírito; no entanto, nenhum deles aprendeu dEle a desprezar a Palavra de Deus; mas todos a consideravam com a mais profunda reverência. E isto concorda com a predição de Isaías: “O meu Espírito, que está sobre Ti e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua posteridade, nem da boca posteridade da tua posteridade, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre” (Is 59.21).
O profeta predisse, portanto, que no reino de Cristo seria a mais alta felicidade da Sua Igreja ser guiada tanto pela Palavra quanto pelo Espírito de Deus. Logo, concluímos que estes zombadores ímpios separam aquilo que o profeta juntara por um vínculo sagrado. Além disso, embora Paulo tenha sido arrebatado até o terceiro céu, não cessou de fazer uso proveitoso da lei e dos profetas, e exortou a Timóteo a dar a atenção à leitura. Ademais, ele atribui honra singular às Escrituras ao dizer que são úteis: “para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17).

Certamente é o máximo da maldade e da loucura atribuir um uso rápido e temporário àquelas Escrituras que guiam os filhos de Deus até o fim da sua viagem. Aqueles fanáticos teriam bebido de um espírito diferente daquele que o Senhor prometeu aos Seus próprios discípulos? Um que não falaria de Si mesmo, mas sim relembraria o que o próprio Cristo ensinara verbalmente. Portanto, não é papel do Espírito prometido dar revelações estranhas e esquisitas, ou fabricar algum novo tipo de doutrina para nos desviar do evangelho que recebemos; pelo contrário, a função do Espírito é selar em nossos corações aquela mesma doutrina que o evangelho de Cristo nos entregou.
É claro, portanto, que os que desejam receber proveito e bênção do Espírito de Deus devem ser diligentes em ler as Escrituras e em ouvir sua voz. Assim sendo, Pedro recomenda o zelo daqueles que prestam atenção à palavra da profecia, embora os escritos dos profetas pudessem ter sido considerados ultrapassados, ‘pela nova luz do evangelho’ (2Pe 1.19). Se, por outro lado, alguém descarta a sabedoria da Palavra de Deus e impinge sobre nós uma outra doutrina, podemos suspeitá-lo, com justiça, de ser vaidoso e falso. O próprio Satanás se transforma em anjo de luz; como, pois, podemos curvar-nos diante da autoridade de qualquer espírito, a não ser que seja evidenciado por algum sinal como sendo o Espírito de Deus? Este sinal se manifesta na medida em que concorda com a Palavra do Senhor. Todavia, estes infelizes deliberadamente se desviam para sua própria ruína, procurando orientação do seu próprio espírito ao invés do Espírito do Senhor.
Argumentam que é uma indignidade ao Espírito de Deus que Ele – Ele que está acima de todas as coisas – seja sujeito às Escrituras. Mas, pergunto, é um desonra ao Espírito Santo ser em todas as instâncias o que Ele é – sempre consistente, sempre imutável? Se, na realidade, procurássemos testar o Espírito por qualquer regra estabelecida pelos homens ou pelos anjos, haveria certa força nesta acusação para desonrá-lo; mas se O compararmos com Ele mesmo, como se pode dizer que O estamos desonrando? A verdade é que o Espírito se alegra em ser reconhecido pela semelhança que tem com Sua própria imagem imprimida por Ele sobre as Escrituras. Ele é o Autor das Escrituras e não pode mudar; logo, sempre deve permanecer tal qual Se revelou ali.
Quanto à objeção capciosa de que estamos escravizados à letra que mata, os que empregam tal linguagem são culpados de desprezarem a Palavra de Deus. Quando Paulo disse que a letra mata (2Cor 3.6), estava se opondo a certos falsos apóstolos que ainda se apegavam alei e que teriam privado o povo do benefício da nova aliança, na qual Deus declara que colocará Sua lei nas mentes dos fiéis, e que a escreverá em seus corações. Segue-se, portanto, que a lei do Senhor é uma letra morta que mata quando ela é separada da graça de Cristo, e que simplesmente soa ao ouvido sem tocar o coração; por outro lado, se for poderosamente implantada no coração pelo Espírito e se proclama a Cristo, é a palavra da vida, a qual converte as almas dos homens e que dá sabedoria aos símplices. No mesmo capítulo, Paulo chama sua própria pregação de o ministério do Espírito, significando assim que o Espírito Santo permanece na verdade que revelou nas Escrituras, e somente revela Seu poder àqueles que tratam Sua Palavra com a reverência e honra a ela devida . E isto não está em desacordo com aquilo que eu disse antes, que a Palavra de Deus não ganha nossa confiança a não ser que seja confirmada pelo testemunho do Espírito; porque o Senhor ligou juntas, por um tipo de vínculo mútuo, a certeza da Sua Palavra e a autoridade do Seu Espírito.

Reverência verdadeira á Palavra domina nossos corações quando a luz do Espírito nos capacita a ver Deus nas Escrituras; e, por outro lado, damos boas-vindas sem temor de sermos enganados, àquele Espírito que reconhecemos pela Sua semelhança à Sua própria Palavra.
Os filhos de Deus sabem que Sua Palavra é o instrumento mediante o qual Ele comunica ao entendimento deles a luz do Seu Espírito; e não reconhecem nenhum outro espírito senão o Espírito que habitava nos apóstolos e falava através deles.

sábado, 8 de outubro de 2011

Conferência Fiel 2011

Um pequeno grupo de nossa igreja acaba de retornar das conferências da Editora Fiel realizada nesta semana entre os dias 03 e 07 de outubro em Águas de Lindóia - SP.
Em caravana juntamente com irmãos da Igreja Batista Reformada Vida Nova de Florianópolis, fomos abençoados com a comunhão de cristãos de todo país, onde , durante uma semana, cerca de 2500 presentes e outros milhares que assistiram "on line", puderam ter suas almas edificadas e abençoadas com a pregação da sã doutrina através de servos do Senhor, dentre eles Augustus Nicodemus, Franklin Ferreira, Mauro Meister, Sillas Campos, R.W.Glenn, Stuart Olyott e John Piper.
Certamente uma semana abençoadíssima que o Senhor nos proporcionou, por isto, agradecemos, louvamos e glorificamos o grandioso Nome de Deus, que pela obra de Seu amado Filho Jesus Cristo e Seu Santo Espírito, reuniu uma parte da igreja do Senhor para a comunhão dos filhos de Deus.
Parabéns a Editora Fiel pela organização de todo evento.
Agradecemos aos irmãos da Igreja Batista Reformada Vida Nova pela comunhão.
Louvado e Glorificado seja Deus, a quem todas estas bençãos nos concedeu e a quem rogamos que Sua palavra continue a falar em nossos corações e em nosso viver. Amém !

Soli DEO Gloria !
Grupo da Igreja Batista Esperança

Pr. John Piper

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Deus emprega de modo justo agentes ímpios


Por João Calvino
Fonte : www.ocalvinista.com

Uma dificuldade maior é nos apresentada por aquelas passagens das Escrituras onde se diz que o próprio Satanás e todos os ímpios são controlados e dirigidos pela vontade de Deus. Pois a mente natural dificilmente pode compreender como Deus pode operar pela instrumentalidade deles, e ainda permanecer livre de toda a culpa e lavrar uma sentença justa contra Seus próprios agentes. Para enfrentar esta dificuldade, alguns inventaram uma distinção entre aquilo que Deus faz e aquilo que Ele permite. Mas isso, embora seja bem intencionado, é uma tentativa para vindicar a honra de Deus por meio de uma teoria falsa; porque Ele mesmo repudia tal defesa ao dizer claramente que faz as coisas referidas. Inúmeras passagens das Escrituras comprovam claramente que os homens não realizam nada senão de acordo com o decreto sigiloso de Deus.

Quando o salmista diz: "No céu está o nosso Deus; e tudo faz como lhe agrada" (Sal. 115:3), fica evidente que isto inclui todas as ações dos homens; e esta verdade é vista mais claramente em ocorrências especiais. Sabemos pelo livro de Jó que Satanás se apresenta diante de Deus para receber ordens tanto quanto os santos anjos que obedecem de boa vontade. Logo, quando Satanás e os sabeus afligiram e roubaram a Jó, ele reconheceu que a mão de Deus o fizera, e disse: "O Senhor o deu, e o Senhor o tomou." Da mesma maneira, quando foi da vontade de Deus que Acabe fosse enganado, "Então saiu um espírito e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei." Disse o Senhor: "Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim." (1 Reis 22:19-38).Se a cegueira e a estultícia de Acabe lhe sobrevieram como julgamento da parte de Deus, a teoria de uma simples permissão é vã; porque seria absurdo para um juiz meramente permitir a execução de uma sentença, e não decretar que fosse executada.

E mais: era o propósito dos judeus destruir a Cristo; Pilatos e os soldados cumpriram seus desejos furiosos, mas os discípulos confessaram na linguagem solene da oração que os ímpios fizeram somente o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At. 4:27-28). Eu poderia aduzir muitos outros exemplos de outras partes das escrituras.

Aquilo que Salomão diz a respeito do coração do rei, isto é, que está na mão do Senhor que o dirige para onde quiser, é igualmente verdadeiro acerca dos corações de todos os homens. Até os conceitos de nossas mentes são dirigidos pelo poder sigiloso de Deus para cumprir Seus propósitos. Nada pode comprovar isto mais claramente do que o fato de que Deus tão freqüentemente nos diz que cega as mentes dos homens, aflige-os com delírio, derrama sobre eles o espírito do sono, fere-os com loucura, endurece seus corações. (Ver Rom. 1:26 e 11:8). Muitos, conforme dissemos, atribuem todas estas declarações à "vontade permissiva de Deus" mas esta solução não me parece sábia, visto que o Espírito Santo expressamente declara que a cegueira e a loucura são infligidas sobre os ímpios pelo reto juízo de Deus.

Até este ponto tenho apenas exposto o que é aberta e claramente ensinado nas Escrituras; portanto considerem que tipo de censura tomam sobre si todos aqueles que estigmatizam os oráculos sagrados com difamação. Se disserem, "Tais coisas estão além do nosso conhecimento, e queremos crédito pela nossa modéstia em deixá-las como estão", eu respondo: "O que pode ser mais arrogante do que falar uma única sílaba contra a autoridade de Deus, e dizer: "Eu penso de modo diferente", ou "É melhor não tocar em tais doutrinas?" Semelhante arrogância não é novidade; pois em todos os tempos houveram homens ímpios, sem Deus, que têm atacado esta verdade como cães furio¬sos. Tais insolentes descobrirão que as palavras de Davi são verídicas, que Deus "será tido por justo... no seu julgar" (Sal. 51:4).

Tem-se argumentado que, se nada acontece senão segundo a vontade de Deus, então Ele deve ter duas vontades contrárias, pois secretamente decreta o que na Sua lei abertamente proíbe. É fácil desmascarar esta falácia, mas antes de fazer isso, deixem-me lembrar aos meus leitores que se trata de uma cavilação contra o Espírito Santo e não contra mim; pois o Espírito Santo certamente ensinou a Jó a dizer: "O Senhor o tomou", quando salteadores o despojaram dos seus bens. Está escrito também que os filhos de Eli não obedeciam a seu pai, porque o Senhor resolvera matá-los (1 Sam. 2:25). Assim também, em tempos posteriores, a Igreja diz que Herodes e Pilatos conspiraram juntos para fazerem o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At. 4:27-28). Realmente, se Cristo não tivesse sido crucificado pelo desígnio de Deus, como poderíamos ter obtido a redenção?

O fato é que Deus não está em desacordo com Si mesmo, nem sofre mudança Sua vontade, nem finge que não deseja as coisas que deseja. Sua vontade é una e indivisa, mas parece-nos, por causa da fraqueza do nosso entendimento, que está em desacordo com ela mesma. Sobre este assunto Agostinho tem uma declaração com a qual todas as pessoas piedosas concordarão: "Alguns homens têm bons desejos que não estão de acordo com a vontade de Deus, e outros têm maus desejos que estão de acordo com a vontade de Deus. Por exemplo, um bom filho pode corretamente desejar que seu pai viva, ao passo que é a vontade de Deus que morra; e um mau filho pode maldosamente desejar que seu pai morra, quando é também a vontade de Deus que o pai morra.

E mesmo assim, o filho piedoso agrada a Deus ao desejar aquilo que não é da vontade de Deus; enquanto o filho ímpio desagrada a Deus ao desejar aquilo que é da vontade de Deus." Deus às vezes cumpre Seus propósitos justos mediante os maus propósitos dos ímpios. O mesmo escritor (Agostinho) diz que os anjos apóstatas e todos os ímpios, no que lhes dizia respeito, fizeram aquilo que era contrário à vontade de Deus; mas, quanto à Sua onipotência, era impossível para eles fazerem qualquer coisa contra a Sua vontade; pois, enquanto agem em oposição à vontade de Deus, ela é cumprida por eles. Acrescenta que um Deus bom não permitiria que o mal fosse feito, a não ser que um Deus onipotente pudesse transformá-lo em bem.

Uma resposta semelhante pode ser dada a outra objeção que tem sido feita contra a verdade que agora estamos considerando. A objeção é a seguinte: Se Deus não somente emprega a instrumentalidade dos ímpios, como também governa seus planos e paixões, porventura não seria Ele o autor de todos os seus crimes? E quanto aos homens que estão sujeitos à Sua vontade, não estariam injustamente condenados por cumprirem Seus decretos? Este falso raciocínio confunde a vontade de Deus com Seu mandamento, embora fique evidente por muitos exemplos que há uma diferença muito grande entre eles. Foi a vontade de Deus que o adultério de Davi fosse vingado pela imoralidade de Absalão (com as concubinas do seu pai); mas não se segue que Deus ordenou a Absalão cometer tal ato incestuoso; a não ser que possamos falar assim a respeito de Davi, da mesma maneira que ele fala das maldições de Simei. Quando o rei disse: "Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou" (2 Sam. 16:11), de modo algum recomendava Simei por sua obediência a Deus; mas, reconhecendo que a língua maligna daquele homem era o flagelo de Deus, submeteu-se pacientemente a ser castigado por ela. Devemos apegar-nos firmemente ao princípio de que os ímpios, por cujo intermédio Deus realiza os Seus justos julgamentos e decretos, não devem ser considerados inculpáveis como se tivessem obedecido ao Seu mandamento, mandamento este que atrevida e deliberadamente quebram.

É sábio abraçarmos com mansidão e humildade tudo quanto é ensinado nas Sagradas Escrituras. Aqueles que têm a insolência de difamar suas doutrinas soltam suas línguas contra Deus e não são dignos de mais refutação.

sábado, 4 de junho de 2011

Falsos mestres

Por Paul Washer



"Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis..." Mateus 7:15,16

"E rogo-vos , irmãos, que NOTEIS os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; DESVIAI-VOS DELES. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao SEU VENTRE; e , com suaves palavras e lisonjas, ENGANAM o coração dos símplices." Romanos 16:17,18

"Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e PRIVADOS DA VERDADE, cuidando que a piedade seja causa de ganho. APARTA-TE DOS TAIS." 1 Timóteo 6:3-5

"Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos,mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo APARÊNCIA DE PIEDADE, mas negando a eficácia dela. DESTES AFASTA-TE." 2 Timóteo 3:1-5

"Amados, procurando eu escrever-vos com toda diligência acerca da comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos. Porque se introduziram alguns, que já ANTES ESTAVAM ESCRITOS PARA ESTE MESMO JUÍZO, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam que, no último tempo, haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito." Judas 3-4;17-19

"E MUITOS seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da VERDADE; e, por avareza, farão de vós negócios com palavras FINGIDAS; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sua sentença, e a sua perdição não dormita." 2 Pedro 2:2,3

"...Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. NÃO PODE a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.". Mateus 7:16-20

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O uso correto do Dia do Senhor

por
Stuart Olyott

Fonte : www.editorafiel.com.br

As pessoas não-convertidas não têm grande interesse no uso correto do Dia do Senhor, e inúmeros crentes se mostram confusos a respeito deste assunto. Esta confusão permanecerá enquanto não levarmos em conta os seguintes fatos importantes.
Quais são estes fatos?

1. Quando a Bíblia usa o termo “sabbath”, ele não significa “sábado”. “Sabbath” não é o nome de um dia da semana. A palavra é usada para descrever um tipo de dia, um dia de descanso do trabalho. Em todo o Antigo Testamento, os anos tinham 365 dias, e todo ano começava em um dia de “sabbath” (Lv 23.4-16). Outras datas fixas nunca podiam ser “sabbath” (Êx 12.1-28; Lv 23.15). Para fazer com que isso acontecesse, o calendário tinha de ser ajustado regularmente. A História nos ensina que isso era feito por acrescentar ao ano “sabbaths” extras que ocorriam consecutivamente. Identificar “sabbath” com o dia de sábado é um erro. Foi apenas depois do ajuste definitivo do calendário judaico, em 359 D.C, que os “sabbaths” dos judeus passaram a cair sempre no dia que agora chamamos de “sábado”.

2. O “sabbath” [descanso] não é uma instituição judaica. Deus o instituiu na criação (Gn 2.1-3). É um dom de Deus para a humanidade (Mc 2.27).

3. Em certo aspecto, os Dez Mandamentos são diferentes de todas as outras leis encontradas nas Escrituras. Deus os escreveu com o seu próprio dedo. O Quarto Mandamento dEle é positivo, o mais comprido e o mais detalhado dentre os dez, fazendo uma ligação entre os aspectos divino e humano, moral e cerimonial da Lei (Êx 20.8-11; 31.18).

4. O “sabbath” era importante para nosso Senhor Jesus Cristo. A Bíblia não nos fala muito sobre os hábitos de Jesus, mas diz que Ele tinha o costume de ir à sinagoga no “sabbath” (Lc 4.16). Jesus anunciou que era Senhor do dia de “sabbath” (Mc 2.28). Dizer que o “sabbath” não existe mais é uma negação do senhorio de Cristo.

5. O Senhor do “sabbath” transferiu este dia para o primeiro dia da semana. Este foi o dia em que Ele ressuscitou dos mortos (Jo 20.1-18), apareceu aos discípulos (Jo 20.19, 26) e derramou o seu Espírito (At 2.1).

6. Os apóstolos e a igreja primitiva guardavam com distinção o primeiro dia da semana (At 20.7; 1 Co 16.2). Para evitar confusão, o Novo Testamento Grego chama o sábado judaico de “sabbath” e o primeiro dia da semana de “o primeiro dos sabbaths” (na tradução em português “o primeiro dia da semana” - Mt 28.1; Mc 16 2, 9; Lc 24.1; Jo 20.1,19; At 20.7; 1 Co 16.2). Algumas pessoas crêem que isto é apenas uma expressão idiomática grega significando apenas “o primeiro dia do ciclo da semana”. Contudo, não existe quase nenhuma evidência para isto. Temos de encarar os fatos: o primeiro dia da semana é um “sabbath”. Também conhecido como “o dia do Senhor” (Ap 1.10).

7. Durante toda a história da igreja, o domingo tem sido observado como o “sabbath” dos cristãos. A evidência documental é unânime e retrocede a 74 D. C. Durante as piores perseguições, perguntava-se aos suspeitos de serem cristãos: “Dominicum Servasti?” (Você guarda o dia do Senhor?) Os verdadeiros crentes respondiam: “Eu sou um cristão, não posso deixar de fazer isso!” O que os crentes responderiam hoje?

8. É realmente imoral não guardar o Dia do Senhor. O Quarto Mandamento, que nos recorda isso, está em um código que proíbe a idolatria, o assassinato, o furtar, o mentir e o cobiçar. O Quarto Mandamento nunca foi anulado, e nunca o será (Mt 5.18). Quebrar um mandamento da Lei significa tornar-se culpado de todos os demais (Tg 2.10). A violação do dia de descanso traz o juízo de Deus (Ne 13. 15-22).

9. O domingo, o dia do Senhor, é um dia de regozijo e satisfação (Sl 118.24; 112.1). A Palavra de Deus chama-o de deleite (Is 58.13). Deus nos deu esse dia como uma bênção para todos nós (Mc 2.27-28). Falando sobre a época evangélica, Isaías diz: “Bem-aventurado o homem que... se guarda de profanar o sábado” (Is 56.2).

10. As bênçãos do Dia do Senhor são visíveis a todos: recorda aos homens e mulheres caídos que existe um Deus a quem eles devem adorar; dá aos crentes a oportunidade de se reunirem ao redor da Palavra e, assim, mantém a vida espiritual deles; fornece oportunidades para a pregação do evangelho; fortalece os laços familiares; permite que toda a nação descanse; promove a saúde... e a lista poderia continuar.

11. No Antigo Testamento, homens piedosos, como Moisés, Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Neemias, contenderam com as pessoas por causa do dia de descanso. A história da igreja está repleta de outros que fizeram o mesmo. O que nos impede de seguir o exemplo deles?
Como devemos usar o domingo?
Com estes fatos em mente, podemos ver que, para nós, o domingo é o dia de descanso ordenado por Deus. É o dia que incorpora tudo o que é permanente e universal no Quarto Mandamento. Então, como devemos usá-lo? Para responder esta pergunta, temos de falar tanto negativa como positivamente.

O que não devemos fazer

Não devemos imitar os fariseus.

O dia de descanso tem sua origem na Criação. Por um tempo, usou as vestes do Antigo Testamento. No entanto, agora está com uma roupagem do Novo Testamento. Isto significa que não podemos impor ao dia de descanso as regras mosaicas que já passaram, tais como as que encontramos em Êxodo 35.2-3 ou Números 15.32-36. Não devemos ter em mente uma lista de faça e não faça, tal como se lê em Mateus 12.1-2. À legislação de Moisés, os fariseus acrescentaram todo tipo de regras deles mesmos. Para os fariseus, esfregar o grão na mão era o mesmo que debulhá-lo. Eles também tinham regras a respeito de quanto peso se devia carregar e quão distante se podia caminhar no dia de descanso. Por trás de todas as regras dos fariseus, havia uma mentalidade que não tem qualquer lugar na vida de um crente do Novo Testamento.

Não devemos trabalhar.

Na Bíblia, a palavra “trabalhar” significa muito mais do que ganhar a vida. Também se refere aos deveres de nosso dia-a-dia, à nossa recreação e ao pensamento que motiva estas coisas. Quanto for possível, todas estas coisas têm de ser colocadas de lado, tanto por nós como por aqueles pelos quais somos responsáveis. Devem ser colocadas de lado não porque somos pecadores ou impuros, e sim porque Deus nos ordenou que as fizéssemos nos outros seis dias da semana (Êx 20.8-11).

Não devemos ficar ociosos.

O descanso de Deus, após a Criação, não foi inatividade, e sim o cessar um tipo de atividade (Jo 5.17). O domingo deve ser um descanso santo que nos faz cessar um conjunto de objetivos, para que sigamos outro conjunto de objetivos bastante diferentes. Não é um dia para vadiarmos por aí.

O que devemos fazer

Devemos nos reunir com outros crentes.

Devemos nos reunir, tanto formal como informalmente (At 2.1; 20.7; Jo 20.26). A Bíblia não delineia algum tipo de lista de atividades para o domingo, mas o princípio é claro. O domingo não é um dia para gastarmos sozinhos ou somente com a família.
Devemos nos reunir especificamente para a edificação, ou seja, para edificarmos uns aos outros nas coisas de Deus. De tudo o que fizermos com este objetivo, o ensino da Palavra e a Ceia do Senhor são o mais importante (Atos 20.7).

Devemos evangelizar.

O Dia de Pentecostes começou com uma assembléia que visava à ajuda e ao encorajamento mútuos, mas a vinda do Espírito também consagrou aquele dia à evangelização. A vinda do Espírito Santo pode ser vista como um penhor de sua bênção nesta conexão (At 2).

Devemos nos envolver em obras de misericórdia.

É lícito fazer o bem no domingo, especialmente salvar vidas, curar e trabalhar pelo bem-estar espiritual dos outros (Lc 6.9; Mt 12.5; Lc 13.10-17; 14.1-6; Jo 5.6-9, 16-17). O domingo comemora o maior ato de misericórdia de todos os tempos. Todos podemos pensar em incontáveis maneiras de fazer o bem às pessoas, mas este aspecto da observação do domingo é amplamente esquecido. Aqueles que acham o domingo “monótono” quase sempre são pessoas que se tornaram egoístas.

Devemos nos envolver em obras necessárias.

Não podemos limitar isso apenas àquelas coisas necessárias à nossa sobrevivência, visto que, se assim fosse, passaríamos o dia somente respirando. O dia de descanso foi criado para o homem — em outras palavras, foi criado para o bem-estar do homem. Não há qualquer conflito entre guardar o domingo e seguir os nossos melhores interesses (Mt 12.1-8, 11-12). Continue, desfrute do domingo! Além das atividades já mencionadas, reúna-se com os amigos, prepare boa refeição para eles, converse, caminhe, sorria, ore, admire a criação de Deus e vá para a cama tendo um coração grato e contente.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Estás Certo de que gostas de Spurgeon ?

por Alan Maben

Fonte : www.monergismo.com
Tradução : Felipe Sabino de Araújo Neto

“A mesma doutrina da justificação, como pregada por um Arminiano, não é outra senão a doutrina da salvação pelas obras...” - C. H. Spurgeon

Honrado por muitos evangélicos como um grande pregador, Charles H. Spurgeon é considerado um exemplo bem sucedido e “seguro” de um ministério “não-teológico”. Suas obras são recomendadas como meio para conduzir a muitos pastores aspirantes no desenvolvimento de seus próprios ministérios bem-sucedidos. Suas "Lições aos Meus Alunos" são freqüentemente usadas para este propósito, enfatizando o aspecto “prático” do evangelismo. Porém, ainda que a forma da pregação bem-sucedida de Spurgeon seja freqüentemente estudada pelos pretendentes ao pastorado, o conteúdo da pregação e ensino deste gigante cristão é freqüentemente ignorado. Antes, é popularmente pensado que Spurgeon aprovou energicamente a mesma teologia que está atualmente dominando a cultura Americana: o Arminianismo.
Por exemplo, muitos líderes cristãos gostam de apontar Spurgeon como um que não teve treinamento formal universitário. Eles ignoram o fato que ele teve uma biblioteca pessoal contendo mais de 10.000 livros. Além disso, é argumentado que o sucesso de seu ministério desde meados até os fins do século 19 foi devido a sua piedade anti-intelectual, “sua rendição ao Espírito”, e a seu Arminianismo. O fato é que Spurgeon não era anti-intelectual, nem tampouco alegava ilusões de ser tão santo que podia permitir Deus operar se tão somente estivesse “rendido”. Mais importante ainda, ele não era um Arminiano. Ele era um Calvinista sólido que se opôs à perspectiva religiosa dominante de seu tempo (e do nosso), o Arminianismo . Ainda quase no fim de sua vida ele pôde escrever: “Dessa doutrina não me afastei até o dia de hoje”. Ele estava grato por nunca ter vacilado de seu Calvinismo . “Não há nenhuma alma vivente que creia mais firmemente nas doutrinas da graça do que eu...” Lendo as crenças de Spurgeon, qualquer um verá que este tremendamente frutífero ministério foi edificado sobre a pregação do evangelho bíblico.
Em sua obra, “Uma Defesa do Calvinismo”, ele declara inequivocadamente:

"Eu pessoalmente acredito que não seja possível pregar a Cristo e Ele crucificado, a menos que estejamos pregando o que hoje é conhecido como Calvinismo. O Calvinismo é apenas um apelido; o Calvinismo é o evangelho e nada mais. Eu não creio que possamos pregar o evangelho se não pregarmos a justificação pela fé sem obras, nem podemos pregá-lo, a menos que preguemos a soberania de Deus em Sua dispensação de graça, nem a menos que exaltemos o amor imutável, eterno, eletivo e conquistador de Jeová. Eu também não acredito que possamos pregar o evangelho, a menos que nos baseemos na redenção especial e particular do povo eleito de Deus, redenção essa efetuada por Cristo na cruz; nem tampouco compreendo um evangelho que permita que os santos venham a cair depois de terem sido chamados, e admita que os filhos de Deus sejam queimados no fogo da condenação” .
Aqui Spurgeon afirma seu acordo com o que são usualmente chamados “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. O próprio resumo de Spurgeon era muito mais curto: Um Calvinista crê que a salvação é do Senhor . As seleções de seus sermões e escritos sobre estes temas evidenciam sua posição.

Com respeito à Depravação Total e à Graça Irresistível:
Quando dizes: “Pode Deus fazer com que eu me converta em um Cristão?” Te digo que sim, pois nisto descansa o poder do evangelho. Não pede teu consentimento, mas o obtêm. Não diz: “Quer ter isto?”, mas te faz disposto no dia do poder de Deus...O evangelho não quer teu consentimento, ele o obtêm. Põe fora de combate a inimizade de teu coração. Tu dizes, não quero ser salvo; Cristo diz que tu serás. Ele faz que nossas próprias vontades mudem de parecer, e então você clama: “Senhor, salva-me ou pereço!” .

Com respeito à Eleição Incondicional:
Não hesito em dizer que, depois da doutrina da crucificação e ressurreição de nosso bendito Senhor, nenhuma doutrina teve tal proeminência na Igreja Primitiva como a doutrina da eleição da graça .
E quando foi confrontado com o desconforto que esta doutrina poderia provocar, respondeu com pouca simpatia: “'Eu não gosto disto [eleição divina]', disse alguém. Bem, pensei que não gostaria; quem sonhou que gostaria?” .

Com respeito à Expiação Particular:
Se fosse a intenção de Cristo o salvar todos os homens, quão deploravelmente Ele tem sido decepcionado, pois temos Seu próprio testemunho de que existe um lago que arde com fogo e enxofre, e nesse abismo de aflição tem sido lançadas as mesmas pessoas que, de acordo com a teoria da redenção universal, foram compradas com Seu sangue.
Ele castigou a Cristo, por que deveria Ele castigar duas vezes por uma ofensa ? Cristo foi morto por todos os pecados de Seu povo, e se estás no pacto, és um dos do povo de Cristo. Não podes ser condenado. Não podes sofrer por teus pecados. Até que Deus possa ser injusto, e demandar dois pagamentos por uma dívida, Ele não pode destruir a alma por quem Jesus morreu.

Com respeito à Perseverança dos Santos:
Não sei como algumas pessoas, as quais crêem que um cristão pode cair da graça, conseguem ser felizes. Deve ser algo mui recomendável nelas, o ser capaz de viver todo um dia sem desesperação. Se não cresse na doutrina da perseverança final dos santos, penso que seria o mais miserável de todos os homens, porque me faltaria o fundamento para o repouso.

As seleções acima citadas indicam que C.H. Spurgeon era sem nenhuma dúvida um afirmado e auto-professante Calvinista, que fez o sucesso de seu ministério depender desta verdade, não disposto a considerar os “Cinco Pontos do Calvinismo” como categorias separadas e estéreis para serem memorizados e cridos em isolamento um do outro, ou da Escritura. Ele freqüentemente combinava as verdades representadas pelos Cinco Pontos, porque são na realidade parte de apoio mútuo de um todo, e não cinco pequenas seções da fé adicionadas à coleção pessoal de crenças cristãs. Spurgeon nunca as apresentou como raridades para serem cridas como a soma do Cristianismo. Antes, ele pregou um evangelho positivo, sempre tendo em conta que estas crenças eram somente parte de todo o conselho de Deus e não a soma total. Estes pontos eram sumários úteis, defensivos, porém eles não tomavam o lugar do vasto teatro da redenção dentro do qual o plano completo e eternal de Deus foi realizado no Antigo e Novo Testamentos.

Certo de que a Cruz era uma ofensa e uma pedra de tropeço, Spurgeon estava pouco disposto a fazer o evangelho mais aceitável para o perdido. “A antiga verdade que Calvino pregou, que Agostinho pregou, é a verdade que eu devo pregar hoje, se não seria falso à minha consciência e a Deus. Não posso modelar a verdade; não conheço tal coisa como aparar as bordas duras de uma doutrina”. Em outro lugar ele desafiou: “Eu não posso encontrar na Escritura alguma outra doutrina do que esta. Ela é a essência da Bíblia...Diga-me qualquer coisa contrária a esta verdade e isto será uma heresia...” Spurgeon cria que o preço do ridículo e a rejeição não era tão alto para que ele recusasse pregar este evangelho: “Somos reconhecidos como a escória da criação; dificilmente algum ministro nos considera ou fala de maneira favorável de nós, porque sustentamos fortes rivalidades acerca da divina soberania de Deus, Suas eleições divinas e Seu amor especial para com Seu próprio povo”.
Então, como agora, a objeção dominante a tal pregação era que levaria a um viver licencioso. Visto que Cristo “fez tudo”, não havia necessidade para eles de obedecer os mandamentos da Escritura. À parte do fato de que não devemos deixar que as pessoas pecaminosas decidam que tipo de evangelho pregaremos, Spurgeon tinha suas próprias refutações a esta confusão:
“Freqüentemente é dito que as doutrinas que cremos têm uma tendência de nos levar ao pecado...Pergunto ao homem que se atreve a dizer que o Calvinismo é uma religião licenciosa: o que pensas do caráter de Agostinho, ou de Calvino, ou de Whitefield, os quais nas idades sucessivas foram os grandes expoentes dos sistemas da graça?; ou o que dirá dos Puritanos, cujas obras estão cheias delas? Se um homem tivesse sido um Arminiano naqueles dias, teria sido considerado como o mais vil dos hereges, mas agora nós somos vistos como os hereges, e eles como ortodoxos. Nós temos voltado à velha escola; nós podemos traçar nossa descendência desde os apóstolos...Nós podemos traçar uma linha dourada até o próprio Jesus Cristo, através de uma santa sucessão de poderosos pais, os quais todos sustentaram estas verdades gloriosas; e podemos perguntar com respeito a eles: Onde tu encontrarás homens mais santos e melhores no mundo?”
Sua atitude para com aqueles que distorciam o evangelho com suas próprias idéias de “santidade” é clara a partir do seguinte: “Nenhuma doutrina está tão calculada para preservar a um homem do pecado como a doutrina da graça de Deus. Aqueles que têm chamado-a de 'uma doutrina licenciosa" não conhecem absolutamente nada dela. Pobres seres ignorantes, pouco sabem que seu próprio produto vil foi a mais licenciosa doutrina debaixo do Céu”.

De acordo com Spurgeon (e também com a Escritura), a resposta de gratidão é o motivo para o viver santo, não o status incerto do crente sob a influência do Arminianismo e seu acompanhante legalismo. “A tendência do Arminianismo é para o legalismo; não é nada senão o legalismo que jaz na raiz do Arminianismo”. Ele foi muito claro sobre a perigosa relação do Arminianismo com o legalismo: “Não vês de uma vez que isto é legalismo - que isto é fazer nossa salvação dependente de nossa obra - que isto é fazer nossa vida eterna depender de algo que nós fazemos? Além disso, a mesma doutrina da justificação, tal como é pregado por um Arminiano, não é outra senão a doutrina da salvação pelas obras”.
Um status diante de Deus baseado em como “usamos” Cristo e o Espírito para simular justiça foi um legalismo odiado por Spurgeon. Como em nossos dias, Spurgeon viu que uma das fortalezas do Arminianismo incluía as igrejas independentes. O Arminianismo era uma religião natural, que rejeitava a Deus, que se auto-exalta e além do mais, uma heresia. Como Spurgeon cria, nascemos Armianos por natureza. Ele viu esta aversão natural a Deus como encorajada por uma crença auto-centrada e uma fantasia auto-exaltadora. “Se você crê que tudo depende do livre arbítrio do homem, você naturalmente terá o homem como a principal figura em seu panorama”. E novamente ele afirma que o remédio para esta confusão é a verdadeira doutrina. “Creio que muito do atual Arminianismo é simplesmente a ignorância da doutrina do evangelho”. E mais, “Não sirvo ao deus dos arminianos de modo algum; não tenho nada com ele, e não me inclino diante do Baal que eles têm erigido; ele não é meu Deus, nem jamais o será; não o temo, não tremo em sua presença...O Deus que diz hoje e que nega o dito amanhã, que justifica hoje e que condena no dia seguinte..,não tem nenhuma relação com meu Deus, nem no mínimo grau possível. Ele pode ter uma relação com Astarote ou Baal, porém Jeová nunca foi ou pode ser seu nome”. Recusando-se de comprometer o evangelho de alguma maneira, ele refutou e rechaçou vigorosamente os intentos comuns de unir o Calvinismo e o Arminianismo em uma crença sintetizada. Tampouco ele subestimava a importância das diferenças entre os dois sistemas:

“Isto pode parecer a ti de pouca conseqüência, porém realmente é um assunto de vida ou morte. Desejo suplicar a cada cristão - querido irmão, reflita sobre o assunto ponderadamente. Quando alguns de nós pregamos o Calvinismo, e outros o Arminianismo, não podemos ambos estar corretos; não é útil tratar de pensar que podemos ambos estar corretos - 'Sim', e 'não', não podem ambos ser verdade. A verdade não vacila como o pêndulo que se move para frente e para trás...Um deve estar certo; o outro errado”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O SABBATH

Dr. Greg L. Bahnsen

Fonte : www.monergismo.com
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

O Sabbath é uma ordenança da criação (Gn. 2:2-3), que os homens eram obrigados a observar mesmo antes da chegada da lei Mosaica. Compare Êxodo 20:10-11 para sua interpretação de Gênesis 2:2-3. Todos os homens estão sujeitos à lei do Sabbath (observe que Cristo não disse que o Sabbath foi feito para os israelitas em Marcos 2:27, mas para o “homem” genérico). A obrigação moral de o homem observar o Sabbath é colocada corretamente ao lado das outras palavras universalmente morais do Decálogo, que foi escrito pelo próprio dedo de Deus. Quando o homem observa o Sabbath, ele está imitando corretamente o seu Criador; o descanso do Sabbath é modelado segundo o descanso de Deus na criação. Na era do Novo Pacto, esse descanso da criação se torna um sinal da esperança cristã, seu descanso celestial na consumação dessa era (Hb. 4). No princípio Deus estabeleceu Seu descanso; Cristo providencia e promete entrada a esse descanso, e na era eterna desfrutá-lo-emos. O Sabbath tem extensão universal e obrigação perpétua. Na chegada de Cristo o Sabbath foi purificado dos acréscimos legalistas feitos pelos escribas e fariseus (Lucas 13:10-17; 14:1-6; Marcos 3:1-6); o Sabbath sofreu corrupção nas mãos dos fariseus “autônomos” assim como vários outros preceitos morais (cf. Mt. 5:21-48). Além do mais, os aspectos cerimoniais e sacrificiais do ciclo dos dias de festa (“lua nova, ano do Sabbath, jubileu, etc.”) do Antigo Testamento, juntamente com aquelas observâncias cíclicas de festas, foram “tirados de uso” pela obra redentora de Cristo. Por conseguinte, Colossenses 2:16s. nos liberta dos elementos cerimoniais do sistema do Sabbath (a passagem parece estar se referindo especificamente às ofertas), e passagens tais como Romanos 14:5s. e Gálatas 4:10 ensinam que não precisamos mais distinguir esses dias cerimoniais (como os judaizantes eram aptos em exigir). Como Cristo providenciou a entrada ao descanso do Sabbath eterno de Deus mediante Sua morte substitutiva sobre a cruz, Ele torna os elementos tipológicos (e.g. ofertas) do sistema do Sabbath irrelevantes (coisas que eram uma sombra da substância vindoura de acordo com Cl. 2:17, cf. Hb. 10:1, 8). Ao realizar nossa redenção, Cristo também nos ligou à observância desse Sabbath semanal, que prefigura nosso Sabbath eterno (cf. Hb. 4). Embora os dias cerimoniais não devam ser mais distinguidos, o Novo Testamento distingue o primeiro dia da semana dos outros seis (1Co. 16:2; Atos 20:7) e denomina-o “o Dia do Senhor” (Ap. 1:20). Ao observar o Sabbath semanal, honramos Cristo que é o “Senhor” do Sabbath (Marcos 2:28), e antecipamos a vinda do descanso do Sabbath, que nosso Senhor assegurou para nós (nisso, paralelos podem ser vistos com a “Ceia do Senhor”). Em Marcos 2:23-28, Cristo e os Seus discípulos foram acusados de “fazerem o que não é lícito” no Sabbath, mas porque eles tinham violado apenas uma tradição rabínica, Cristo não se importou em contestar a acusação; ela simplesmente equivalia a nada. Não houve nenhuma contestação, pois Cristo não reconhecia a tradição dos anciãos como “lícita”. Contudo, Cristo toma isso como uma oportunidade para afirmar que Ele é “Senhor até mesmo do Sabbath”. Mediante isso Cristo confirmou definitiva e positivamente o Sabbath; de outra forma, Cristo estaria proclamando grandiosamente o Seu senhorio sobre algo que não existia. O Sabbath não morreu com o advento de Cristo ou Sua obra Messiânica; até o nosso descanso eterno, o Sabbath semanal continua a ser “dominado” por Cristo e é um tipo da realidade vindoura. “O Sabbath foi feito para o homem” (Marcos 2:27), e o homem ainda precisa se beneficiar disso. A questão do Sabbath não apresenta nenhuma contradição para a validade contínua da lei moral de Deus.

Fonte original : Greg L. Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics,
Covenant Media Press, p. 226-8.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma oração arminiana

Por

Charles Haddon Spurgeon

Vocês têm ouvido uma quantidade grande de sermões arminianos, ouso dizer, mas vocês nunca ouvirão uma oração arminiana - porque os santos em oração se mostram iguais em palavra, ação e mente. Um arminiano de joelhos orará tão fervorosamente, quanto um calvinista. Ele não pode orar sobre o livre-arbítrio; não há espaço para isso. Imagine-o orando: "Senhor, eu te agradeço porque não sou como aqueles pobres e presunçosos Calvinistas. Senhor, eu nasci com o glorioso livre-arbítrio; nasci com o poder pelo qual posso me voltar para ti por mim mesmo; tenho acrescido minha graça. Se todos tivessem feito com suas graças o mesmo que fiz com a minha, todos poderiam estar salvos agora. Senhor, eu sei que o Senhor não nos faz propensos a ti se nós mesmos não nos dispusermos a isto. Deste graça a todos; alguns não a cultivaram, mas eu a cultivei. Há muitos que irão para o inferno, mesmo estando tão comprados pelo sangue de Cristo quanto eu estou; tiveram tanto do Espírito Santo quanto me foi dado; tiveram uma boa chance, e foram tão abençoados quanto eu fui. Não foi a tua graça que nos fez diferentes; sei que ela fez muito, mas eu é que mudei de direção; eu fiz uso do que me foi dado, e os outros não - esta é a diferença entre mim e eles".
Esta é uma oração do diabo, porque ninguém jamais ofereceria uma oração como esta. Ah! Quando estão pregando e falando bem devagar, podem apresentar uma doutrina errada; mas quando estão orando, a verdade escapa; eles não podem evitar.