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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Natal solidário na IBE

Mais um ano, com a graça e provisão de Deus, pudemos desfrutar de um bom momento de celebração e confraternização de natal em evento realizado neste último sábado, dia 21/12, na sede de nossa igreja.
Além de responsáveis pelo evento, professores e professoras da EBD, irmãos e irmãs da Igreja Batista Redenção, estiveram presentes cerca de 80 crianças junto a seus familiares perfazendo um total de 130 pessoas presentes nesta linda festa.
Este evento, assim como outros semelhantes realizados durante o ano, teve como principal objetivo a solidariedade e ajuda as famílias carentes especialmente da comunidade do Forquilhão, compreendendo na distribuição de presentes e lembranças para as crianças, bem como cestas básicas a cada família da comunidade de acordo com cadastro familiar elaborado junto as mesmas.
Sem dúvida, foram momentos alegres e inesquecíveis para aqueles que estiveram presentes com muita música cristã, lição bíblica sobre o verdadeiro sentido do natal, presentes e lanche para toda criançada.
Uma grande festa e uma grande benção de Deus a todos nós! Louvado seja Deus!


Abaixo, segue algumas imagens do evento para melhor demonstrar o que foi descrito acima :

Bom grupo presente na igreja desfrutando de muita alegria e confraternização.

É das crianças que vem o perfeito louvor!

Momento de lição bíblica sobre o verdadeiro natal!

Distribuição de presentes pra toda criançada!

Cestas básicas entregues na comunidade carente!

Estes são alguns dos belos momentos registrados não para promover a glória dos homens, mas para manifestar a obra de Deus através de Seu povo, levando alívio e uma palavra de esperança aqueles que precisam da luz do evangelho para que o príncipe da Paz, Nosso Senhor Jesus, possa habitar em suas vidas e assim, mais famílias possam viver o verdadeiro natal !

Agradecemos a todos os que participaram do evento, direta ou indiretamente, a todos os irmãos em Cristo bem como pessoas de diversos bairros da região que adotaram crianças para doação dos presentes, que doaram as cestas básicas bem como os itens para elaboração do lanche da garotada, aos irmãos e irmãs da Igreja Batista Redenção que estiveram presentes no evento e participaram diretamente das doações e visitas na comunidade , aqueles que trabalharam para realização do evento bem como aqueles que não estiveram conosco mas sem dúvida estavam em espírito de oração ao Senhor para que tudo isto pudesse ser realizado, e por último, somos muito agradecidos a Deus,o grande autor e sustentador de todas as coisas e que ,certamente operou grandemente em cada vida e circunstância para que tudo acontecesse dentro da maior normalidade possível nos abençoando com muita alegria e paz por meio de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, o nome mais importante e exaltado em todo este evento.
Somente a Deus seja a glória e a honra agora e para todo sempre. Amém !

Soli Deo Gloria !




terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal significa liberdade

Por
John Piper

“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.” Hebreus 2:14-15.

Jesus se tornou homem porque o que era necessário era a morte de um homem que fosse mais do que um homem. A encarnação foi Deus trancafiando a si mesmo no corredor da morte.

Cristo não arriscou a morte, Ele a abraçou. Foi precisamente para isso que Ele veio: não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Marcos 10:45).

Não é surpresa que satanás tenha tentado desviar Jesus da cruz! A cruz era a destruição de satanás. Como Jesus o destruiu?
O “poder da morte” é a habilidade de tornar a morte assustadora. O “poder da morte” é o poder que sujeita os homens à escravidão através do pavor da morte. É o poder de manter os homens em pecado, para que a morte seja algo hórrido.
Mas Jesus privou satanás de seu poder. Ele o desarmou. Ele moldou uma couraça de justiça para nós que nos torna imunes à condenação do diabo.

Por Sua morte, Jesus removeu todos os nossos pecados. E uma pessoa sem pecado leva satanás à falência. Sua traição é abortada. Sua deslealdade cósmica é frustrada. “Já condenado está, vencido cairá”. A cruz o traspassou. E agora ele dá seus últimos suspiros.
Natal significa liberdade. Liberdade do medo da morte.

Jesus tomou nossa natureza em Belém para morrer a nossa morte em Jerusalém, para que pudéssemos ser destemidos em nossa cidade. Sim, destemidos. Porque se a maior ameaça à minha alegria já se foi, então por que eu deveria me inquietar com as menores? Como você pode dizer: “Bem, eu não tenho medo de morrer, mas tenho medo de perder meu emprego”? Não. Não. Pense!

Se a morte, eu disse morte – sem pulso, frio, morto! Se a morte não é mais um medo, estamos livres, realmente livres. Livres para nos arriscar em qualquer coisa sob o sol por Cristo e por amor, sem mais escravidão à ansiedade.

Se o Filho o libertou, você será livre, de fato!

Fonte : leituras diárias para dezembro / John Piper

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dicas aos arminianos : como "derrotar" o calvinismo



Não vai ser nada fácil !
É como dar "soco em ponta de faca" ou "afugentar todo oceano em uma garrafa".
O resultado desta "missão impossível" já dá pra imaginar!
Um bom conselho aos irmãos arminianos é se render ao grande exército das escrituras e da história da igreja e assim, abraçar o "antigo" evangelho e a sã doutrina bíblica para uma vida cristã coerente e saudável para glória de Deus e não dos homens !

Como Disse Lutero : "As escrituras são como diversos exércitos que são contra a ideia de que o homem tem um "livre-arbítrio" para escolher e receber a salvação. Porém, basta-me trazer a frente de batalha dois generais - Paulo e João, com algumas de suas forças"

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Como tirar o máximo da sua leitura Bíblica

Por
Thomas Watson (1620-1686)


01) Remova obstáculos:
a) remova o amor por cada pecado;
b) remova as distrações concernentes a este mundo, especialmente a cobiça (Mt. 13:22);
c) não brinque com e sobre a Escritura.

02) Prepare seu coração (1 Sm. 7:3)
a) reunindo seus pensamentos;
b) purificando sentimentos e desejos impuros;
c) não achegando-se a ela apressada ou descuidadamente.

03) Leia-a com reverência, considerando que em cada linha Deus está falando diretamente para você.

04) Leia os livros da Bíblia por ordem.

05) Adquira verdadeiro entendimento da Escritura (SI. 119:73). O melhor meio de conseguir isto é através da comparação de partes relevantes das Escrituras, umas com as outras.

06) Leia-a com seriedade (Dt. 32:47). A vida cristã é para ser levada a sério, visto que isto exige esforço (Lc. 13: 24) e não falhar (Hb. 4:1).

7) Persevere em lembrar o que você leu (Sl. 119: 52). Não permita que seja roubado de você (Mt. 13: 4, 19). Se ela não permanecer na sua memória, é improvável que seja de muito proveito para você.

8) Medite no que você lê (SI. 119:15 ). A palavra hebraica para meditar, significa "ser intenso de mente". Meditação sem leitura é errado e um pulo para o engano; ler sem meditar é infrutífero e sem proveito. Significa avivar os sentimentos, ser aquecido pelo fogo da meditação (SI. 39: 3).

9) Leia-a com um coração humilde. Reconheça que você é indigno para que Deus revele a Si mesmo a você (Tg. 4:6).

10) Creia que toda ela é a Santa Palavra de Deus (2 Tm. 3:16). Sabemos que nenhum pecador poderia ter escrito, por causa do modo que ela descreve o pecado. Nenhum santo blasfemaria de Deus pretendendo ser sua, a Palavra de Deus. Nenhum anjo poderia a ter escrito pela mesma razão (Hb. 4: 2).

11 ) Tenha em alta estima a Bíblia (SI. 119:72). Ela é sua corda para salvação; você nasceu através dela (Tg. 1 : 18) e precisa crescer por ela ( 1 Pd. 2: 22; Jó. 23:12).

12) Ame a Bíblia ardentemente (SI. 119:159).

13) Leia-a com um coração honesto (Lc. 8:15):
a) desejando conhecer toda e completa vontade de Deus;
b) lendo com o objetivo de ser mudado e feito melhor, por ela (Jo. 17:17).

14) Aplique a si mesmo tudo o que ler, tomando cada palavra como sendo falada para você. A condenação que ela faz do pecado, como sendo a condenação dos seus pecados; os deveres que ela requer, como sendo o dever que Deus requer de você (2 Rs. 22: 11 ).

15) Preste cuidadosa atenção aos mandamentos da Palavra, tanto quanto nas promessas. Pense em quanto você precisa de direção, tanto quanto de conforto.

16) Não se deixe levar por detalhes menores, antes certifique-se de atentar para as grandes coisas (Os. 8:12).

17) Compare-se com a Palavra. Como você se compara? Seu coração é algo daquilo que é transcrito dele, ou não?

18) Preste especial atenção àquelas passagens que falam para sua individual, particular e presente situação:
a) aflição (Hb. 12:7, Is. 27:9, Jo, 16:20, 2 Co. 4:17);
b) senso da presença de Cristo e indignação (Is. 54:8, Is. 57:16, SI. 97:11);
c) pecado (GI. 5:24; Tg. 1:15, 1 Pd. 2:11, Pv. 7:10 e 22-23, Pv.22:14);
d) incredulidade (Is. 26:3, 2 Sm. 22: 31, Jo. 3:15, 1 Jo. 5:10, Jo. 3:36).

19) Preste especial atenção para os exemplos e vidas das pessoas na Bíblia, como sermões vivos:
a) punições (Nabucodonosor, Herodes, Nm. 25: 3-4, 9; 1 Rs. 14: 9-10; At. 5:5,10; 1 Co.10: 11; Jd. 7);
b) misericórdia e libertação (Daniel, Jeremias, e os três jovens na fornalha ardente)

20) Não pare de ler a Bíblia até que ache seu coração aquecido (SI. 119:93). Deixe que ela não apenas lhe informe, mas também lhe inflame (Jr. 23:29, Lc. 24:32).

21 ) Ponha em prática o que você lê (SI. 119:66; SI. 119:105, Dt, 17:19).

22) Cristo é para nós Profeta, Sacerdote e Rei. Use Seu ofício de Profeta (Ap. 5:5, Jo. 8:12, SI. 119:102-103). Permita que Cristo não só abra as Escrituras diante de você, mas abra diante de sua mente e entendimento (Lc. 24:45).

23) Certifique-se de colocar-se sob os cuidados de um verdadeiro ministro da Palavra, que exponha a palavra fiel e completamente (Pv. 8:34); seja zeloso e ávido em atender seu ofício.

24) Ore para que você tire proveito da Ieitura (Is. 48:17, SI. 119:18; Ne. 9:20).

Você pode ultrapassar obstáculos naturais da leitura mesmo quando:

1) Você não pareça tirar proveito tanto quanto outros. Lembre-se da produção diferente (Mt. 13:8); embora a produção não seja tanto quanto a dos outros, ainda assim é produção verdadeira e vantajosa.

2) Você pode se sentir lento de entendimento (Lc. 9:45, Hb. 5:11);

3) Sua memória é má.
a) lembre-se que você ainda está apto a ter um coração bom, a despeito disto;
b) você ainda pode lembrar-se das coisas mais importantes, mesmo que não possa lembrar-se de tudo. Seja encorajado por Jo. 14:26.
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Abreviado e modernizado por Matthew Vogan
Tradução Livre para a Língua Portuguesa

Fonte : www.monergismo.net.br

sábado, 12 de outubro de 2013

"Deixem Deus ser Deus" : A predestinação segundo Lutero


por
Timothy George

O problema da predestinação é levantado pela especificidade da tradição judeu-cristã: o fato de que Deus revelou-se exclusivamente num povo, Israel, e supremamente num homem, Jesus de Nazaré. Jesus, assim como Paulo, falou dos “eleitos” e dos “poucos escolhidos”. A tensão entre a livre eleição de Deus e a resposta humana genuína está presente já nos documentos do Novo Testamento. Entretanto, Agostinho, em sua luta clássica com Pelágio, foi quem primeiramente desenvolveu uma doutrina madura da predestinação.

Para Pelágio, a salvação era uma recompensa, o resultado das boas obras livremente realizadas pelos seres humanos. A graça não era algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça estava presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça era simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, via um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escolher corretamente, Agostinho entendia a salvação como a livre e surpreendente dadiva de Deus: “Atribuo à tua graça e misericórdia, porque dissolveste meus pecados como se fossem gelo”. Se, entretanto, a fonte de nossa conversão a Deus reside não em nós mesmos, mas somente no bom prazer de Deus, por que alguns reagem positivamente ao Evangelho, enquanto outros o desprezam? Essa pergunta levou Agostinho à discussão paulina da eleição, exposta em Romanos 9-11. Aqui ele encontra a base para sua própria doutrina “cruel” da predestinação: da massa da humanidade decaída, Deus escolhe alguns para a vida eterna e omite outros que estão, assim, destinados à destruição, e tal decisão é feita independentemente de obras ou méritos humanos.
Durante os mil anos transcorridos entre Agostinho e Lutero, a principal corrente da teologia medieval dedicou-se a dissolver o severo predestinacionismo daquele. É verdade que Pelágio fora condenado no Concílio de Éfeso (431), e o semipelagianismo, a saber, a visão de que ao menos o inicio da fé, o primeiro voltar-se para Deus, era resultado do livre-arbítrio, foi rejeitado pelo II Concílio de Orange (529). Contudo, a maioria dos teólogos, tentou modificar a doutrina de Agostinho, enfraquecendo a base da predestinação. Alexandre de Hales recorreu ao principio da eqüidade divina: “Deus relaciona-se de igual para igual com todos”. Outros afirmavam que a predestinação era subordinada ao conhecimento prévio, ou seja, Deus elege aqueles que sabe com antecedência que receberão méritos de seu próprio livre-arbítrio. Nenhuma dessas teorias da salvação era “puramente” pelagiana, porque todas requeriam a assistência da graça divina. Ainda assim, o fator crucial continuava sendo a decisão humana de responder positivamente a Deus, em lugar da livre e desacorrentada decisão de Deus de escolher quem desejasse.

Vimos como a doutrina da justificação sustentada por Lutero rompeu decisivamente com o modelo agostiniano de distribuição progressiva da graça. Somos justificados não porque Deus nos está tornando gradualmente justos, mas porque fomos declarados justos com base no sacrifício expiatório de Cristo. Contudo, a partir do princípio anterior da sola gratia , Lutero – e Zuínglio e Calvino depois dele – permanece firme com Agostinho contra os “pelagianos” posteriores que exaltam o livre-arbítrio humano à custa da livre graça de Deus. Nesse aspecto, a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma “aguda agostinianização do cristianismo”. Alguns historiadores consideram a doutrina da predestinação de Lutero uma aberração de seus temas principais ou, na melhor das hipóteses, “um pensamento meramente auxiliar”. Mas Lutero via o assunto de maneira diferente. Respondendo ao ataque de Erasmo a essa doutrina, Lutero elogiou o humanista por não aborrecê-lo com questões insignificantes como o papado, o purgatório ou as indulgências. “Apenas você”, ele disse, “atacou a questão verdadeira, isso é, a questão inicial [...] Apenas você percebeu o eixo ao redor do qual tudo gira, e apontou para o alvo vital.”

Uma das queixas de Lutero contra os “teólogos-porcos” era a tese deles de que a vontade humana, em sua própria volição, poderia realmente amar a Deus sobre todas as coisas, ou que, ao fazer seu melhor, mesmo à parte da graça, alguém poderia obter certa permanência perante Deus. A essa avaliação otimista do potencial humano, Lutero opôs um duro contraste entre natureza e graça. “A graça coloca a Deus no lugar de tudo o mais que ela vê, e o prefere a si mesma, mas a natureza coloca a si mesma no lugar de tudo, e mesmo no lugar de Deus, e busca apenas o que lhe é próprio e não o que é de Deus”. Como “natureza” Lutero não queria dizer simplesmente o reino criado, mas sim o reino criado decaído e particularmente, a vontade humana decaída, que esta “curvada sobre si mesma” ( incurvatus in se ), “escravizada” e manchada com o mal em todas as suas ações. Na Disputa de Heidelberg, em 1518, Lutero defendeu a tese: “Depois da queda, o livre-arbítrio existe apenas nominalmente, e, enquanto, alguém ´faz o que está em si´, está cometendo um pecado mortal”. Inclui-se essa formulação na bula Exsurge Domine , pela qual o Papa Leão X excomungou Lutero, em 1520.

Então, será que Lutero era um determinista absoluto? Erasmo e alguns estudiosos pensavam assim. Lutero, de fato, aproximou-se perigosamente de linguagem necessitariana. Todavia, ele nunca negou que o livre-arbítrio mantém seu poder em assuntos que não se relacionam com a salvação. Assim, Lutero disse a Erasmo: “Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que seja livre nas coisas de Deus é demais”. Lutero admitiu abertamente que mesmo uma vontade escravizada “não é um nada”, que, com respeito àquelas coisas “inferiores” a ela, a vontade mantém seu poder total. É apenas com respeito àquilo que é “superior” a ela que a vontade é mantida presa em seus pecados e não pode escolher o bem de acordo com Deus. Aqui, encontramos um paralelo ao desprezo de Lutero para com a razão. Em sua esfera legítima, a razão é o mais elevado dom de Deus, mas no momento em que excede para a teologia, torna-se a “prostituta do diabo”. O mesmo se dá com o livre-arbítrio. Entendido como a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, para cumprir as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece intacto. O que ele não pode fazer é realizar a própria salvação. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido pelo pecado e cativo a Satanás.

Lutero descreveu a natureza dessa escravidão sob o aspecto de uma luta entre Deus e Satanás.
Assim, a vontade é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer. [...] Se Satanás o monta, ele quer ir e vai aonde Satanás quer; ele não pode escolher correr para um deles ou seguir a um deles, mas os próprios cavaleiros brigam pela posse e controle dele.
Mesmo tendo alguns estudiosos encontrado traços de um dualismo maniqueísta nessa metáfora, Lutero estava meramente desenvolvendo uma imagem já apresentada por Jesus: “...todo o que comete pecado é escravo do pecado” e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos...” (Jo 8.34,44). Há outro ponto que Lutero desenvolveu com respeito à vontade escravizada. Embora nosso destino eterno, em certo sentido, seja determinado por Deus, não somos com isso compelidos a pecar. Pecamos espontânea e voluntariamente. Continuamos querendo e desejando fazer o mal, a despeito do fato de que em nossas próprias forcas não podemos fazer nada para alterar essa condição. Essa é tragédia da existência humana sem a graça: estamos tão curvados sobre nós mesmos que, pensando estar livres, entregamo-nos exatamente àquelas coisas que apenas aumentam nossa escravidão.

O propósito da graça é libertar-nos da ilusão da liberdade, que é na verdade escravidão, e guiar-nos para a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Só quando a vontade recebeu a graça, ou, para usar sua outra metáfora, só quando Satanás é vencido por um cavaleiro mais forte, “é que o poder da decisão torna-se realmente livre, em todos os aspectos concernentes à salvação”. A verdadeira intenção por trás do reforço de Lutero à vontade escravizada mostra-se óbvia agora. Deus deseja que possamos ser verdadeiramente livres em nosso amor para com ele; contudo, isso não é possível até que sejamos libertos de nosso cativeiro a Satanás e ao ego. O eco de resposta à escravidão da vontade é a liberdade do cristão .
Visto que, fora da graça, o homem não possui nem uma razão sã, nem uma vontade boa, “a única preparação infalível para a graça [...] é a eleição eterna e a predestinação de Deus”. Lutero não se esquivou de uma doutrina de predestinação absoluta e dupla, ainda que admitisse que “isso é um vinho muito forte e comida substancial para os fortes”. Ele até restringiu o alcance da expiação aos eleitos: “Cristo não morreu por todos absolutamente”. Contra a objeção de que tal visão transformava Deus num ogro arbitrário, Lutero respondeu – como Paulo – “Deus assim o quer, e porque ele o quer, isso não é perverso”. A “prudência da carne” diz que “é cruel e miserável Deus buscar sua glória em minha maldade. Ouça a voz da carne! ´Meu, minha´, diz ela! Lance fora esse ´meu´ e diga, em lugar disso ´Glória a ti, Senhor´, e você será salvo”. A postura da razão é sempre de egocentrismo. Deus é apenas tão “injusto”, falando estritamente, ao justificar os ímpios à parte de seus méritos, quanto o é ao rejeitar outros à parte de seus deméritos. Ainda assim, ninguém reclama da primeira “injustiça”, porque o interesse pessoal está em jogo! Em ambos os casos, Deus é injusto pelos padrões humanos, mas justo e verdadeiro pelos seus. Lutero recusou-se a submeter Deus ao tribunal da justiça humana como se a “Majestade, que é o criador de todas as coisas, tivesse de curvar-se a uma das escórias de sua criação”. “Deixem Deus ser bom”, clamava Erasmo, o moralista. “Deixem Deus ser Deus”, replicava Lutero, o teólogo.

Embora Lutero nunca tenha suavizado sua doutrina da predestinação (como fizeram posteriormente os luteranos), ele de fato tentou estabelecer o mistério no contexto da eternidade. Lutero nunca admitiu que os inescrutáveis julgamentos de Deus eram realmente injustos, mas sim que somos incapazes de apreender o quanto são justos. Há, segundo ele, três luzes – a luz da natureza, a luz da graça e a luz da glória. Pela luz da graça, tornamo-nos capazes de entender muitos problemas que pareciam insolúveis pela luz da natureza. Mesmo assim, na luz da glória, os retos julgamentos de Deus – incompreensíveis para nós agora, mesmo pela luz da graça – serão abertamente manifestos. Lutero, então, apelava para a reivindicação escatológica da decisão de Deus na eleição. A resposta ao enigma da predestinação encontra-se no caráter oculto de Deus, por trás e além de sua revelação. No final, quando tivermos prosseguido através das “luzes” da natureza e da graça para a luz da glória, o “Deus escondido” se mostrará um só como o Deus que está revelado em Jesus Cristo e proclamado no Evangelho. Nesse ínterim, Lutero admitiu, podemos apenas acreditar nisso. A predestinação, como a justificação, é também sola fide.

Ninguém conhecia melhor do que Lutero a angústia que o duvidar da própria eleição podia provocar numa alma vacilante. Como um pastor poderia responder a alguém que estivesse atormentado por esse problema? Lutero deu duas respostas a essa questão, uma para o cristão forte, a outra para o mais fraco ou para o novo convertido. A mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”. A resignação com o inferno era tema popular na tradição mística e significava passividade absoluta, um total deixar-se perder ( Gelassenheit ) ante o abismo do ser de Deus. Lutero dizia que Deus dispensava esse dom aos eleitos de maneira breve e escassa, quase sempre na hora da morte.
Mais, comumente Lutero era chamado a aconselhar cristãos comuns que estavam atormentados pela questão da eleição. O conselho básico de Lutero era: “Agradeça a Deus por seus tormentos!”. É característico dos eleitos, não dos réprobos, tremer em face dos desígnios ocultos de Deus. Além disso, ele instava por uma completa refutação do diabo e uma contemplação de Cristo. Foi típica sua resposta a Bárbara Lisskirchen, que estava aflita sentindo não se encontrar entre os eleitos:

“Quando tais pensamentos a assaltam, você deve aprender a perguntar a si mesma: “Por favor, em que mandamento está escrito que eu deva pensar sobre esse assunto e lidar com ele?”. Quando parecer que não há tal mandamento, aprenda a dizer: “Saia daqui, maldito diabo! Você está tentando fazer com que eu me preocupe comigo mesma. Meu Deus declara em todos os lugares que eu devo deixá-lo tomar conta de mim [...]”. A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deixe que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.

A doutrina da predestinação defendida por Lutero não era motivada por interesses especulativos ou metafísicos. Era uma janela para a vontade graciosa de Deus, que se ligou livremente à humanidade em Jesus Cristo. A predestinação, como a natureza do próprio Deus, só pode ser atingida mediante a cruz, mediante as “feridas de Jesus”, às quais Staupitz havia dirigido o jovem Lutero em suas primeiras batalhas.

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Fonte: www.monergismo.net.br / GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. 1ª Edição. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999. pp. 74-80.

sábado, 28 de setembro de 2013

O conhecimento de Deus

Pode o homem conhecer a Deus a parte das escrituras?

Em teologia estudamos que basicamente há duas maneiras com a qual Deus, o criador do universo, se revelou ou se revela aos homens. A primeira é chamada como revelação geral, uma revelação que é manifesta a todas as pessoas de todas as épocas que já viveram, vivem ou ainda viverão neste mundo, compreendida em toda criação existente e visível aos nossos olhos. A segunda, não tão abrangente, mas muito mais completa, precisa e detalhada é chamada de revelação especial ou específica e diz respeito às palavras de Deus entregues diretamente aos homens e registradas por eles durante um período de 1500 anos, formando um conjunto de livros de caráter canônico denominado como a bíblia sagrada, composta por 66 livros reconhecidos como inspirados por Deus através da igreja. Nas sagradas escrituras o homem pode ter um conhecimento muito maior e detalhado acerca da pessoa de Deus, seu caráter e atributos, suas obras, leis, juízos e promessas, bem como a revelação da pessoa de Seu Filho Jesus Cristo e a obra redentora por Ele realizada a quase 2000 anos atrás.

Para o cristianismo histórico, não pode haver salvação sem que o homem conheça a Deus e a Seu Filho Jesus Cristo (Jo 17:3), e que este conhecimento salvífico somente é possível por meio da revelação especial contida nas escrituras sagradas através de uma obra poderosa e sobrenatural do próprio Espírito de Deus concedendo iluminação e entendimento das verdades espirituais que conduzem a fé e a salvação (Rm 10:17, 1Co 2:12-16).
No entanto, segue-se a pergunta : Pode o homem ter conhecimento de Deus a parte das escrituras sagradas?
De acordo com as afirmações anteriores baseadas nas escrituras, o homem não pode ter conhecimento salvífico de Deus sem uma revelação especial , o qual somente pode ser encontrada nas sagradas escrituras.
Como então poderemos ao menos tornar possível este conhecimento de Deus aos homens em trevas espirituais se eles mesmos são hostis e céticos em relação à própria escritura, desprezando-a como fonte segura de conhecimento de Deus e de toda verdade? Podemos se utilizar de argumentos e outras fontes que não sejam as escrituras para levar o conhecimento de Deus aos homens? As respostas a estas questões são de suma importância pois afetarão diretamente a maneira é métodos que estaremos utilizando para defender nossas crenças e convicções como também, modos de persuadir e influenciar a outros a abraçarem a fé que professamos a fim de que conheçam a Deus e possam ter a mesma alegria e esperança que possuímos. Sendo assim, vejamos algumas posições quanto a este assunto a fim de chegarmos a uma conclusão mais coerente e ideal para defendermos e batalharmos pela fé que nos foi entregue.

Alguns teólogos e pensadores cristãos da história defendiam a posição de que o homem, mesmo sendo pecador e separado da glória e comunhão com o Criador por causa de seus pecados, ainda assim, poderiam ter um conhecimento de Deus não salvífico, mas correto e verdadeiro mediante outros meios a parte das escrituras sagradas. Dentre estes teólogos, encontramos o grande pensador do catolicismo romano Thomas de Aquino, o qual cria que existe na criação uma revelação geral e objetiva capaz de fornecer certo conhecimento de Deus ao homem natural. Como a mente humana é fruto da criação, é possível ter conhecimento de Deus pelo entendimento da criação por meio das leis da lógica e da razão e ciências como física, química e biologia. Esta abordagem de Thomas de Aquino difere da abordagem de Agostinho de Hipona, o qual tinha uma compreensão diferente quanto a abrangência da queda do homem pelo pecado diferente da posição de Aquino, o qual cria que a vontade do homem havia sido corrompida pelo pecado, mas não seu intelecto. Em uma linha similar, encontramos Anselmo que dizia que o homem poderia conhecer a Deus fazendo o uso da razão.
Por outro lado, alguns teólogos defendem a posição de que o homem sem Deus não pode possuir qualquer conhecimento correto de Deus a parte das escrituras sagradas. Por causa do pecado e em estado de morte espiritual, o homem não tem a capacidade de ter nenhum conhecimento correto a respeito de Deus, que é um ser plenamente supremo e espiritual, fora da compreensão humana. Todo conhecimento correto de Deus somente é possível pelas escrituras sagradas que revelam a Jesus Cristo, produzindo fé na verdade e redenção, trazendo luz ao entendimento humano para que este possa conhecer a Deus. Em suma, sem Jesus Cristo não é possível conhecer a Deus. Jesus revela o Pai e para conhece-Lo somente mediante a fé na obra redentora do Filho de Deus revelado nas sagradas escrituras. Esta era posição do teólogo Karl Barth.
Nestas duas posições podemos identificar dois extremos para resposta as perguntas supracitadas. Uma posição defende que é possível conhecer a Deus a parte das escrituras e , se assim for, o homem não é tão depravado e pecador com revelam as próprias escrituras em uma condição de morte espiritual e com entendimento em trevas (Ef 2:1, 4:18), o que poderia trazer problemas para doutrinas como a sotereologia. A outra posição , apesar de demonstrar a realidade espiritual do homem pecador em total incapacidade até mesmo de buscar a Deus, não leva em consideração a revelação geral de Deus a toda humanidade o qual é eficaz para testemunhar acerca de Deus e para julgar todos aqueles que a desprezam. Deste modo, que posição deve ser a mais adequada ou qual a posição que as escrituras nos oferecem ?

A bíblia demonstra com clareza que Deus é manifesto e revelado por meio da própria criação. A revelação geral compreendida em todas as coisas criadas apontam claramente para existência de Deus. No Salmo 19:1-4 as escrituras ensinam que as coisas criadas, os céus e o firmamento proclamam e anunciam a glória de Deus e as obras de suas mãos. Dia após dia desde o princípio, o criador é proclamado pela criação, mesmo sem um som audível, mas claramente expresso e manifesto nas coisas criadas. O apostolo Paulo em Romanos 1:19-20 trata desta realidade da revelação de Deus nas coisas criadas declarando que os atributos invisíveis de Deus bem como Seu eterno poder e Sua própria divindade podem ser claramente reconhecidas desde o princípio do mundo nas coisas que foram criadas. Tal revelação tornam todos os homens indesculpáveis diante de Deus o qual julgará e punirá toda desonra, desprezo e rejeição do reconhecimento do criador. Estes e outros textos das escrituras declaram o testemunho da existência de Deus por meio da criação e providência.
Sendo assim, não podemos afirmar que o homem natural não pode obter nenhum conhecimento de Deus fora das escrituras uma vez que as próprias escrituras revelam que Deus se manifesta em toda a terra por meio das coisas que foram criadas. No entanto, as escrituras também declaram que somente pela fé o homem pode crer que o universo foi criado por Deus (Hb 11:3) sendo esta fé de caráter salvífico que conduz o homem a comunhão com o seu criador. Como responder a nossa questão principal : pode o homem obter conhecimento de Deus fora das escrituras ?

A resposta mais coerente e adequada está na posição defendida pelo reformador João Calvino, o qual dizia que a revelação geral de Deus na criação é uma revelação eficaz e objetiva para testemunho da existência de Deus, porém, por causa do pecado e suas consequências tanto no homem quanto na própria criação, sujeita a maldição, pragas, catástrofes e distúrbios naturais, esta revelação está ofuscada ou manchada por causa do pecado. O próprio homem, com seu entendimento entenebrecido se torna incapaz de reconhecer o criador em toda grandeza manifestada pela criação, atribuindo divindade e rendendo glórias a própria criação no lugar do criador trazendo sobre si ira e justa punição contra seu pecado (Rm 1:18). Em suma, a revelação geral é eficaz para dar conhecimento de Deus aos homens, mas estes, por causa do pecado , são incapazes de conhecer claramente a Deus.

Assim, mesmo sem Deus e sem salvação, o homem pode reconhecer a existência de um criador poderoso e mui sábio que planejou e criou todas as coisas por meio da proclamação desta verdade através da própria criação. Não significa que este homem é salvo por esta revelação, mas sua mente pode ser tremendamente afetada por esta verdade de Deus o qual, por vontade e providência divinas, o poderá conduzi-lo a uma busca incansável por Deus até que Ele seja encontrado na revelação especial, mediante o evangelho da paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, trazendo graça, luz, perdão, salvação e comunhão do pecador perdoado com o Seu criador e Senhor.

Neste sentido, somos encorajados a utilizarmos argumentos lógicos e racionais contidos em toda criação, que revelam o criador, a fim de defendermos nossa fé, de levarmos aos homens o conhecimento de Deus que está nas coisas criadas e assim, preparar os corações de pecadores para receber de bom grado o evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.

Nas palavras do prof. Antonio Neto :"os argumentos para existência de Deus na criação ou a parte das escrituras não são o fundamento de nossa fé, porém eles nos ajudam a fortalecer na fé e nos levam a uma maior adoração . Os argumentos não tem poder para me fazer crer em Deus, mas demonstram que Ele existe. Mesmo não produzindo uma fé salvífica, eles ajudam a preparar o caminho para o evangelho."

Deste modo, concluímos que o homem pode ter certo conhecimento de Deus a parte das escrituras, sendo este problemático por causa do pecado do homem e por isso, tal conhecimento não tem poder para produzir fé salvífica, no entanto, pode ajudar a preparar o caminho para que o homem encontre a Deus e a salvação na fonte segura de fé e prática, as sagradas escrituras.


terça-feira, 11 de junho de 2013

Uma Corrente Dourada de Cinco Elos


por

Dr. James Montgomery Boice

"Porque os que conheceu de antemão também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" (Romanos 8.29-30).

Quando eu escrevia sobre Romanos 8.28 no estudo anterior, disse que para muitos cristãos, este verso é uma das afirmações mais confortantes em toda a Palavra de Deus. A razão é óbvia. Ele nos diz que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Isto é, Deus tem um grande e bom propósito para todos os cristãos e Ele está trabalhando em todas as muitas circunstâncias detalhadas de suas vidas a fim de alcançá-lo.
Maravilhoso como este verso é, os versos que seguem são ainda mais maravilhosos, por dizerem como Deus cumprirá o seu propósito e nos lembrar que é o próprio Deus quem o cumpre. O último lembrete é a base para o que comumente é conhecido como “segurança eterna” ou “a perseverança dos santos”.

Algum tempo atrás, eu soube de uma história divertida, mas aparentemente real. Em 1966, o santo e místico hindu Rao anunciou que ele caminharia sobre a água. Isto atraiu bastante atenção, e no dia marcado para o evento, uma imensa multidão se reuniu ao redor de um grande tanque em Bombaim, Índia, onde tudo iria ocorrer. O iluminado, cheio de devoção, preparou-se para o milagre e então caminhou em direção à beira do tanque. Um silêncio solene desceu sobre os observadores reunidos. Rao olhou rapidamente para o céu, andou em direção à água, e então imediatamente afundou dentro do tanque. Resmungando, completamente molhado, e furioso, ele emergiu da piscina e voltou-se raivosamente para a multidão embaraçada. “Um de vocês”, ele disse, “é um incrédulo”.

Felizmente, nossa salvação não é algo assim, porque se fosse, nunca aconteceria. Em assuntos espirituais, somos todos incrédulos. Nós somos fracos na fé. Mas nós somos ensinados nestes grandes versículos de Romanos que a salvação não depende de nossa fé, embora ela seja necessária, mas dos propósitos de Deus.
E é da mesma forma a respeito do amor. O apóstolo já disse que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que O amam. Mas temendo que, de alguma forma, imaginemos que a força do nosso amor é o fator determinante na salvação, Paulo nos lembra que nosso lugar neste ótimo fluxo de eventos não é baseado em nosso amor por Deus, mas no fato de que Ele tem fixado Seu amor sobre nós.
De que formas Deus nos amou?
Deixe-me mostrar os modos.

Estes versos nos introduzem a cinco grandes doutrinas: (1) Conhecimento de antemão, (2) predestinação, (3) Chamado eficaz, (4) Justificação, e (5) Glorificação. Estas cinco doutrinas são tão fortemente conectadas que têm sido chamadas correta e acuradamente como “um corrente dourada de cinco elos”. Cada elo é forjado no céu. Isto é, cada um descreve algo que Deus faz e e não abre mão de fazê-lo. É por isto que John R. W. Stott as chama de “cinco irrefutáveis afirmações” [1]. As duas primeiras têm relação com o eterno conselho de Deus ou determinações passadas. As duas últimas estão concentradas naquilo que Deus fez, está fazendo ou fará conosco. O termo do meio (chamados) conecta o primeiro e o último par.
Estas doutrinas seguirão de eternidade para eternidade. Como resultado, não existe maior expressão da maravilhosa atividade salvadora de Deus em toda a Bíblia.

Pré-Conhecimento Divino

O mais importante destes cinco termos é o primeiro, mas surpreendentemente (ou não tão surpreendente, uma vez que nossos caminhos não são os caminhos de Deus, nem Seus pensamentos nossos pensamentos), é o mais mal-entendido. É composto de duas palavras separadas: “pré”, que significa “de antemão”, e “conhecimento” [2]. Isto tem tomado o significado de que, já que Deus conhece todas as coisas, Deus conhece de antemão aqueles que crerão nEle e aqueles que não crerão, e como resultado disto, Ele predestinou para a salvação aqueles a quem Ele previu que crerão nEle. Em outras palavras, o que Deus conhece de antemão ou prevê é a fé das pessoas
Presciência é uma idéia tão importante que nós estaremos voltando nela em nosso próximo estudo e examinaremos cuidadosamente o sentido em que ela é usada na Bíblia. Porém, aqui, podemos ver algo como uma explanação, mas nunca fará justiça a esta passagem.
Em primeiro lugar, o versículo não diz que Deus conheceu de antemão especificamente o que suas criaturas fariam. Não está falando sobre ações humanas, portanto. Pelo contrário, está falando inteiramente de Deus e do que Deus faz. Cada um destes cinco termos seguem esta forma: Deus conheceu de antemão, Deus predestinou, Deus chamou, Deus justificou, Deus glorificou. Mais ainda, o assunto da presciência divina não são as ações de certas pessoas mas as próprias pessoas. Neste sentido, pode apenas significar que Deus fixou uma atenção especial sobre estes ou os amou de forma salvífica.
Este é o modo em que o termo freqüentemente é usado no Antigo Testamento. Amós 3.2, por exemplo. A Versão King James [3] traduz literalmente as palavras de Deus aqui, usando o verbo “conhecer” (Hebreu yada) – “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniqüidades”. Mas a idéia da eleição neste contexto é tão óbvia que a NVI realça o sentido do texto ao traduzir “Escolhi apenas vocês de todas as nações da Terra...”
E há outro problema. Se o palavreado significa que Deus conheceu de antemão o que as pessoas farão em resposta a Ele ou à pregação do Evangelho, e então determina seus destinos baseado nisto, o que, digam-me, Deus poderia ver ou pré-conhecer a não ser uma determinada oposição, da parte de todos os homens? Se os corações dos homens e mulheres são tão depravados quanto Paulo ensinou que eles são – se é verdade que “ ’Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus’” (Romanos 3.10-11) – como haveria alguma chance de Deus prever em algum coração humano algo a não ser descrença?

John Murray apresenta isto de uma forma complementar mas levemente diferente: “Mesmo se fosse garantido que ‘conhecer de antemão’ significa a presciência da fé, a doutrina bíblica da eleição não é necessariamente eliminada ou refutada. Pois é certamente verdade que Deus prevê a fé; Ele prevê tudo que virá a acontecer. A questão então simplesmente seria: em que ponto origina-se esta fé, que Deus prevê? E a única resposta bíblica é que a fé que Deus prevê é a fé que Ele mesmo cria (cf. João 3.3-8; 6.44,45,65; Efésios 2.8; Filipenses 1.29; 2 Pedro 1.2). Assim, Sua eterna presciência da fé é precondicionada por Seu decreto de gerar esta fé naqueles a quem Ele previu como crentes” [4].

Pré-conhecimento significa que a salvação tem sua origem na mente ou eternos conselhos de Deus, não no homem. Isto coloca nossa atenção no amor seletivo de Deus, de forma que algumas pessoas são eleitas para ser conformes à imagem de Jesus Cristo, que é aquilo que Paulo já havia dito.

Presciência e Predestinação

A objeção principal a este entendimento de presciência é que, se está correto, então presciência e predestinação (o termo que segue) significam a mesma coisa e Paulo, portanto, seria redundante. Mas os termos não são sinônimos. Predestinação nos leva a um passo adiante.
Como presciência, predestinação é composta de duas palavras separadas: “pré”, significando de antemão, e “destino” ou “destinação”. Isto significa determinar o destino de uma pessoa de antemão, e este é o sentido em que se difere da presciência. Como já vimos, conhecer de antemão significa fixar o amor sobre alguém ou a eleger. Isto “não nos informa qual o destino para onde os escolhidos serão levados” [5]. Isto é o que a predestinação supre. Ela nos conta que, tendo firmado seu amor seletivo sobre nós, a seguir Deus nos designa para sermos “conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Ele faz isto, como os próximos termos apresentam, ao chamar, justificar e glorificar estes que escolheu.

D. Martyn Lloyd Jones nos mostra que a palavra grega que é traduzida como “predestinou” tem em seu radical a palavra para “horizonte” (grego, proorizo). O horizonte é uma linha divisória, demarcando e separando o que nós podemos ver daquilo que não podemos ver. Tudo além do horizonte está em uma categoria; tudo antes do horizonte está em outra. Lloyd Jones sugere, portanto, que o significado da palavra é que Deus, tendo conhecido de antemão certas pessoas, as tira da categoria alienada e as coloca dentro do círculo de Seus propósitos salvíficos. “Em outras palavras”, ele diz, “Ele marcou um destino particular para eles” [6].
Este destino é se tornar como Jesus Cristo.

Dois tipos de Chamados

O próximo passo nesta corrente de cinco elos é o que os téologos chamam de chamado eficaz. É importante usar o adjetivo eficaz neste ponto, porque há dois tipos de chamados referidos na Bíblia, e é fácil se confundir quanto a eles.
Um tipo de chamado é externo, geral e universal. É um convite aberto a todas as pessoas a se arrependerem de seus pecados, voltarem-se ao Senhor Jesus Cristo, e serem salvas. É isto que Jesus disse quando falou “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Ou também, quando ele diz “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba” (João 7.37). O problema com este tipo de chamado é que, por sua própria conta, nenhum homem ou mulher jamais responderá positivamente. Eles ouvem o chamado, mas dão as costas, preferindo seus próprios caminhos a Deus. É por isto que Jesus também diz que “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6.44).
O outro tipo de chamado é interno, específico e efetivo. Isto é, não somente faz o convite, como também providencia a habilidade ou desejo de responder positivamente. É a atração de Deus para Si mesmo ou o trazer à vida espiritual aquele que sem este chamado continuaria morto e distante dEle.

Não há maior ilustração disto que o chamado de Jesus para Lázaro, irmão de Maria e Marta, que havia morrido quatro dias antes. Lázaro em seu túmulo é um retrato de todo ser humano em seu estado natural – morto de corpo e alma, amarrado com faixas, deitado em uma tumba, selada por uma grande pedra. Vamos chamá-lo de volta: “Lázaro, Lázaro. Vem para fora, Lázaro. Nós queremos você de volta. Nós sentimos sua falta. Se você apenas se levantasse pra fora dessa tumba e voltasse para nós, você verá que nós estamos todos ansiosos por ter você de volta. Ninguém aqui irá pôr qualquer empecilho no seu caminho”.
O quê? Lázaro não virá? Ele não quer estar conosco?
O problema é que Lázaro não tem a capacidade de voltar. O chamado é dado, mas ele não pode vir.
Ah, mas deixe Jesus tomar lugar diante do túmulo. Deixe Jesus dizer “Lázaro, vem para fora”, e a história é bastante diferente. As palavras são as mesmas, mas agora o chamado não é um mero convite. É um chamado eficaz. O mesmo Deus que originalmente chamou a criação do nada está agora chamando a vida da morte, e Seu chamado é ouvido. Lázaro, mesmo que estivesse morto há quatro dias, ouve Jesus e obedece à voz do Mestre.
É assim que Deus chama aqueles que ele conheceu de antemão e predestinou à salvação.

Chamado e Justificação

O próximo passo na grande corrente divina de atos salvíficos é a justificação. Já discutimos muito sobre justificação no volume 1 desta série, então não precisamos discutí-la em detalhes aqui. Resumidamente é um ato judicial pelo qual Deus declara pessoas pecadoras como justas diante dEle, não baseado em seus próprios méritos, por eles terem feito algo, mas com base naquilo que Cristo fez por eles, por morrer em seus lugares na cruz. Jesus carregou seus castigos, tomando sobre si a punição pelos pecados dessas pessoas. Tendo sido punidos estes pecados, Deus então imputa a perfeita justiça de Jesus Cristo na conta deles.
O que precisa ser discutido aqui é a relação do chamado eficaz com a justificação. Ou, colocando na forma de uma questão: Por que Paulo coloca o chamado neste lugar da corrente? Por que chamado vem entre conhecimento e predestinação de um lado, e justificação e glorificação no outro?

Existem duas razões:

Primeiro, o chamado é o ponto em que as coisas determinadas de antemão na mente e conselho de Deus entram no tempo. Nós falamos de “pré” conhecimento e “pré” destinação. Mas estas duas referências ao tempo só têm significado para nós. Estritamente falando, isto não é um instante de tempo em Deus. Porque o fim é o começo e o começo é o fim, “antemão” e “pré” nada significam para Ele. Deus simplesmente “conhece” e “determina”, e isto eternamente. Mas o que Ele já decretou na eternidade torna-se real no tempo, e o chamado é o ponto em que Seu conhecimento eterno de alguns e Sua predestinação daqueles à salvação encontram o que chamaríamos de manifestação concreta. Somos criaturas no tempo. Então é pelo chamado específico de Deus à fé, no tempo, que nós somos salvos.
Segundo, justificação, que vem logo após o chamado na lista de ações divinas, está sempre conectada com fé ou crença, e é por meio do chamado divino ao indivíduo que a fé é imputada na pessoa. O chamado de Deus cria ou estimula a fé. Ou, como nós poderíamos portanto dizer mais acuradamente, é o chamado de Deus que traz para fora a vida espiritual, da qual a fé é o a primeira evidência real ou prova.

Romanos 8.29-30 não contém uma lista completa dos passos na experiência de salvação de alguém, somente cinco dos mais importantes passos tomados por Deus em benefício dos cristãos. Se o texto incluísse todos os passos, o que os teólogos chamam de ordo salutis, teria de listar estes: pré-conhecimento, predestinação, chamado, regeneração, fé, arrependimento, justificação, adoção, santificação, perseverança e glorificação [7]. A lista completa apresenta o assunto. Depois da predestinação, o passo imediato é nosso chamado, de onde vem a fé que leva à justificação.
A Bíblia nunca diz que nós somos salvos por causa da nossa fé. Isto faria da fé algo bom em nós que, de alguma forma, contribuiria com o processo. Mas é dito que nós somos salvos por meio ou através da fé, significando que Deus deve criá-la em nós antes que nós possamos ser justificados.

Glorificou (Tempo Passado)

Glorificação também é algo que estudamos antes, e agora voltamos ao assunto novamente antes que completemos estes estudos de Romanos 8. Significa ser feito como Jesus Cristo, que é o que Paulo disse antes. Mas aqui há algo que devemos notar. Quando Paulo menciona glorificação, ele se refere a isto no passado (“glorificou”) ao invés do futuro (“glorificará”) ou num futuro passivo (“serão glorificados”), algo que talvez esperássemos que ele deveria fazer.
Por que isto? A única possível e também óbvia razão é que ele está pensando no passo final de nossa salvação como sendo tão certa que é possível referir-se a ela como se já houvesse acontecido. E, é claro, ele faz isto deliberadamente para nos assegurar que é exatamente o que acontecerá. Lembra o que ele diz em sua carta aos cristãos em Filipos? Ele escreve “Fazendo sempre com alegria oração por vós... tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1.4,6). Este é um atalho para o que estamos descobrindo em Romanos. Deus começou a “boa obra” por conhecer de antemão, predestinar, chamar e justificar. E porque Ele nunca volta atrás naquilo que Ele disse, ou muda Sua mente, nós podemos saber que Ele aperfeiçoará a boa obra até o dia em que nós seremos como Jesus Cristo, sendo glorificados.

Tudo de Deus

Tenho uma conclusão simples, lembrar você novamente que todas estas coisas foram feitas por Deus. São os pontos importantes, os pontos que realmente importam. Sem eles, nenhum de nós seria salvo. Ou se fôssemos “salvos” nenhum de nós continuaria nesta salvação.
Nós temos de acreditar. É claro, nós temos. Paulo já falou da natureza e necessidade da fé nos capítulos 3 e 4 de Romanos. Mas mesmo nossa fé é de Deus ou, como nós provavelmente diríamos melhor, é resultado de Seu trabalho em nós. Em Efésios Paulo diz “porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8-9). Quando somos salvos, primeiramente pensamos naturalmente que temos uma grande participação nisto, talvez por causa de ensinamentos errôneos ou superficiais, mas muito comumente apenas porque sabemos mais sobre nossos próprios pensamentos e sentimentos do que conhecemos de Deus. Mas, há quanto mais tempo alguém é cristão, mais ele se distancia de qualquer sentimento de que somos responsáveis por nossa salvação ou mesmo alguma parte dela, e mais próximos chegamos à conclusão de que é tudo de Deus.
É algo bom que seja de Deus, também! Porque fosse cumprido por nós, nós poderíamos simplesmente descumprí-la e não há dúvida que o faríamos. Se Deus é o autor, a salvação é algo que é feita sabiamente, bem e eternamente.

Robert Haldane, um dos grandes comentarista de Romanos, provê este resumo:
"Ao rever esta passagem, devemos observar que em tudo que é dito, o homem não atua em nenhuma parte, mas é passivo, e tudo é feito por Deus. O homem é eleito, predestinado, chamado, justificado e glorificado por Deus. O Apóstolo estava aqui concluindo tudo o que ele havia dito antes ao enumerar tópicos de consolação aos crentes, e está agora pronto para apresentar que Deus é “por nós”, ou em favor de Seu povo. Poderia alguma coisa, então, ser mais consoladora àqueles que amam a Deus, que desta maneira serem assegurados de que a grande preocupação quanto a sua salvação não é deixada aos seus cuidados? Deus cuida até mesmo da promessa deles. Deus, tomando tudo sobre Ele mesmo. Ele se fez responsável por eles. Não há lugar, então, para risco ou mudança. Ele fará perfeito aquilo que concernia a eles" [8].

Anos atrás, Harry A. Ironside, um grande mestre da Bíblia, contou uma história sobre um velho cristão a quem pediram que desse seu testemunho. Ele contou como Deus o procurou e encontrou, como Deus o amou, chamou, salvou, libertou, purificou e curou – um grande testemunho da graça, poder e glória de Deus. Mas depois do encontro um irmão provavelmente legalista o chamou num canto e criticou seu testemunho, como certamente alguns de nós faríamos. Ele disse “eu apreciei tudo o que você contou sobre o que Deus fez por você. Mas você não mencionou a sua parte nisto. Salvação é na verdade participação nossa e participação de Deus. Você deveria ter mencionado algo sobre a sua parte”.
“Ah, claro”, o velho cristão respondeu. “Peço desculpas por isso. Me perdoe. Eu realmente deveria ter dito alguma coisa sobre a minha parte. Minha participação foi fugir e a participação de Deus foi correr atrás de mim até que pudesse me pegar” [9].
Todos nós fugimos. Mas Deus colocou Seu amor em nós, nos predestinou a tornar-nos como Jesus Cristo, nos chamou à fé e arrependimento, nos justificou e, sim, até mesmo nos glorificou, tão certo de que Seu plano será completo. Que apenas Ele seja louvado!

NOTAS:
[1] - John R. W. Stott, Men Made New: An Exposition of Romans 5-8 (Grand Rapids: Baker Book House, 1984), p. 101.
[2] - Nota do Tradutor: preferi manter a linguagem do autor em alguns trechos. No nosso caso, é conheceu de antemão e nao “pré-conheceu” ou “presciência”.
[3] - Em nosso caso, Almeida Fiel e Corrigida

[4] - John Murray, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 968), p. 316.
[5] - Ibid., p. 318.
[6] - D. M. Lloyd Jones, Romans, An Exposition of Chapter 8:17-39, The Final Perseverance of the Saints (Grand Rapids: Zondervan, 1976), p. 241
[7] - Há uma clássica exposição da ordo salutis em Redenção – Consumada e Aplicada, de John Murray
[8] - Robert Haldane, An Exposition of the Epistle to the Romans (MacDill AFB: MacDonald Publishing, 1958), pp. 407, 408.
[9] - História contada em Ray C. Stedman, From Guilt to Glory. Vol. 1, Hope for the Helpless (Portland Multnomah Press 1978), p. 302
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Tradução livre: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
Brasília-DF, 04 de Outubro de 2004.
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Fonte : http://www.monergismo.com/

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A extensão da expiação


“Digno és de tomar o livro e de abrir-lhes os selos, porque foste morto e com o teu sangue COMPRASTE PARA DEUS os que procedem de toda tribo, língua e nação”. Apocalipse 5:9

Por quem Cristo morreu ? A doutrina da redenção específica

A doutrina da redenção específica, mais conhecida historicamente como redenção limitada ou expiação limitada, trata especificamente do propósito e intenção do Deus trino na morte de Jesus Cristo. No cristianismo existe uma concordância quase que unânime em que o sacrifício do Senhor Jesus foi com o propósito de redimir ou libertar pecadores da condenação divina por causa de seus pecados. No entanto, as divergências estão ligadas no aspecto quanto a extensão dos benefícios alcançados pelo sacrifício de Jesus na cruz do calvário.
Existem pelo menos três posições ou formas interpretativas acerca da morte de Cristo no que tange sua extensão e propósito. São elas o universalismo, a posição arminiana e a posição reformada calvinista.

O universalismo afirma que Jesus morreu por todos os pecados de todos os seres humanos que já existiram, existem e ainda existirão defendendo assim uma salvação ou redenção universal onde ninguém será condenado, aliás, esta questão de condenação e inferno afirmam seus defensores, são figuras de sofrimentos que passamos nesta vida mas que no fim, todos estarão na eternidade com Deus. O problema desta interpretação está em passagens claras das escrituras que revelam uma condenação eterna não somente para o diabo e seus anjos, mas também para pessoas, seres humanos que rejeitaram a obra redentora e sacrificial de Cristo revelada pelo evangelho.

A segunda posição, a posição arminiana , afirma que Cristo Jesus morreu por todos os pecados do mundo inteiro, por todas as pessoas que já existiram, que existem e ainda existirão, mas que, somente serão salvas e libertas da condenação do inferno aquelas pessoas que aceitarem ou exercerem fé e confiança na obra sacrificial de Cristo na cruz. O problema desta interpretação é que ela dilui ou reduz a eficácia de todo penoso trabalho de Jesus desde a encarnação até seus sofrimentos intensos na cruz sofrendo inclusive a separação de Deus para salvar pecadores, uma vez que a posição arminiana condiciona a salvação não ao que Cristo fez, mas ao que o pecador precisa fazer para ser salvo que seria crer e ter fé em Jesus. Esta posição ensina que a obra sacrificial de Jesus na realidade não salvou ninguém, apenas tornou possível a salvação de pecadores e toda a Sua obra na cruz só será eficaz ou terá valor salvífico somente se o pecador assim o quiser. Esta interpretação, além de diluir o poder e eficácia da obra de Jesus Cristo na cruz, ensina também que o Filho de Deus pagou os pecados e sofreu a morte e o inferno por pessoas que não creram Nele, e que, por este pecado da incredulidade, estas pessoas estão condenadas ao inferno.
Sobre este ponto incluindo a teoria do universalismo, Charles Spurgeon comenta :

"Se fosse a intenção de Cristo o salvar todos os homens, quão deploravelmente Ele tem sido decepcionado, pois temos Seu próprio testemunho de que existe um lago que arde com fogo e enxofre, e nesse abismo de aflição tem sido lançadas as mesmas pessoas que, de acordo com a teoria da redenção universal, foram compradas com Seu sangue.
Deus castigou a Cristo, por que deveria Ele castigar duas vezes por uma ofensa ? Cristo foi morto por todos os pecados de Seu povo, e se estás no pacto, és um dos do povo de Cristo. Não podes ser condenado. Não podes sofrer por teus pecados. Até que Deus possa ser injusto, e demandar dois pagamentos por uma dívida, Ele não pode destruir a alma por quem Jesus morreu."


Em outras palavras, se Jesus levou os pecados de uma pessoa e a santa e justa ira de Deus contra esta pessoa foi aplacada e imputada em Jesus no calvário, é impossível que Deus possa condenar e derramar sua ira em uma pessoa cujos pecados foram pagos e perdoados pelo Filho de Deus pendurado no madeiro.

Um dos grandes puritanos, John Owen em seu famoso tratado “a morte da morte na morte de Cristo” ensina o seguinte :

"O Pai impôs Sua ira devido a, e o Filho suportou o castigo por, um dos três:

1. Todos os pecados de todos os homens.
2. Todos os pecados de alguns homens, ou
3. Alguns dos pecados de todos os homens.

No qual caso pode ser dito:

a. Que se a última opção for a verdadeira, todos os homens têm alguns pecados pelos quais responder, e assim, ninguém será salvo.
b. Que se a segunda opção for a verdadeira, então Cristo, no lugar deles sofreu por todos os pecados de todos os eleitos no mundo inteiro, e esta é a verdade.
c. Mas se a primeira opção for o caso, porque nem todos os homens são livres do castigo devido para os seus pecados?

Você responde: Por causa da incredulidade. Eu pergunto: Esta incredulidade é um pecado, ou não é? Se for, então Cristo sofreu o castigo devido por ela, ou não. Se Ele sofreu, por que este pecado deve impedi-los mais do que os seus outros pecados pelos quais Ele morreu? Se Ele não sofreu por tal pecado, Ele não morreu por todos os seus pecados!"


Sendo assim, mesmo que os arminianos acusem os reformados calvinistas de limitarem o sacrifício de Jesus, na realidade, quem limita o poder e a eficácia da obra redentora de Cristo na cruz são eles, alegando que o sangue de Jesus só tem poder para salvar e perdoar os pecados daqueles que quiserem, ou seja, na cruz Jesus não salvou absolutamente ninguém, apenas tornou possível a salvação de quem quiser. Neste caso, segundo o que eles afirmam, haveria a possibilidade também de Jesus ter deixado Sua glória, Sua comunhão com o Pai e o Espirito Santo nos céus, se limitar e tomar a forma de servo como nós, passar por todas as dores e sofrimentos nesta terra como nós e ainda assim, ter sido maltratado e humilhado nas mãos dos ímpios, sofrendo o castigo da morte de cruz, a separação do Pai devido aos pecados que lhe foram imputados e por fim, a morte física ficando retido na sepultura por três dias e três noites e mesmo assim, se nenhum ser humano quisesse aceitar ou ter fé em toda esta obra, Jesus poderia ter feito tudo isto em vão e ninguém seria salvo e todo propósito eterno de Deus, suas promessas e seus juramentos cairiam por terra e não poderiam ser cumpridos porque os homens não quiseram. Esta interpretação, no meu entender chega as margens da blasfêmia, onde pecadores finitos e mortais querem exercer maior sabedoria e domínio sobre o soberano do universo, o Deus trino, onde a criatura quer ser igual ou maior do que o seu criador, o que nos revela a essência do pecado original herdado de nossos primeiros pais quando caíram no Éden.

Por último, temos a posição calvinista ou reformada que afirma que Jesus morreu com o objetivo de salvar um povo para Deus, não uma única nação, mas pessoas em todo o mundo que seriam reunidas para a comunhão com Deus por meio de Jesus. O termo expiação ou redenção limitada não diz respeito a eficácia da morte de Jesus, mas sim, a extensão dela. Conforme já vimos anteriormente, está obra não pode ter sido feita em favor de cada ser humano que existe ou já existiu, mas sim, por pessoas do mundo inteiro que segundo a teologia reformada, foram eleitos por Deus antes da fundação do mundo para salvação.
Algumas passagens das escrituras que afirmam tanto a eficácia quanto a extensão da morte de Cristo demonstram que Jesus Cristo veio a este mundo para morrer e salvar o Seu povo dos Seus pecados (Mt 1:21). Jesus veio para cumprir a vontade de Seu Pai, e esta vontade de Deus era a salvação de todos aqueles que haviam sido dados a Jesus no pacto da graça na eternidade (João 6:37 e 38). Conforme Apocalipse 5:9, Jesus Cristo ao derramar Seu sangue na cruz Ele comprou para Deus povos de toda tribo, língua e nação. Jesus não tornou possível a salvação de pecadores, porém Ele realizou a obra eficaz para salvação de pecadores. O trabalho penoso do Senhor não foi em vão como querem os arminianos. O profeta Isaias revela: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de Sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos porque as iniquidades deles levará sobre si” Isaias Cap.53:12. Jesus não morreu em vão, Ele verdadeiramente levou nossos pecados e o castigo que nos traz a paz. Todos aqueles por quem Cristo morreu, tem seus pecados perdoados e alcançarão a paz com Deus uma vez que a ira de Deus por seus pecados foram imputadas na pessoa de Jesus Cristo. Nisto está o caráter vicário ou substitutivo da morte de Jesus, morrendo no lugar de pecadores, morrendo no lugar do Seu povo, morrendo por Sua igreja. Atos 20:28, Lucas citando as palavras de Paulo revela que a igreja de Deus foi comprada pelo próprio sangue de Deus, neste caso, Deus Filho que foi morto na cruz. O próprio termo redenção significa libertação por meio de um pagamento, ou seja, Jesus pagou o altíssimo preço, com seu sangue, para redenção de Seu povo. Isto como prova de Seu amor, no qual Ele nos amou e entregou Sua vida por nós. Em João cap. 10 as escrituras revelam que Jesus deu Sua vida por Suas ovelhas, tantos as da casa de Israel quanto aquelas que ainda iriam crer Nele, gentios do mundo inteiro que seriam reunidos em um só rebanho sob cuidado e direção de um só pastor, Jesus Cristo Nosso Senhor.
Além destas, outras passagens apontam para uma expiação específica ou para redenção de pessoas específicas em todo o mundo por toda história e assim o será até a consumação dos séculos.
Até lá, a igreja é comissionada a levar o evangelho a toda criatura uma vez que não sabemos quem são os eleitos de Deus para salvação pelos quais Jesus morreu na cruz.

Quero concluir citando as palavras de Charles Spurgeon em defesa da sã doutrina e da pureza do evangelho :

“Isto pode parecer a ti de pouca conseqüência, porém realmente é um assunto de vida ou morte. Desejo suplicar a cada cristão - querido irmão, reflita sobre o assunto ponderadamente. Quando alguns de nós pregamos o Calvinismo, e outros o Arminianismo, não podemos ambos estar corretos; não é útil tratar de pensar que podemos ambos estar corretos - 'Sim', e 'não', não podem ambos ser verdade. A verdade não vacila como o pêndulo que se move para frente e para trás...Um deve estar certo; o outro errado”.

Sola Scriptura / Sola Gratia / Sola Fide / Solus Christus / Soli deo Gloria.